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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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Mulher quer destruir clube do Bolinha do golfe

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Martha Burk não joga golfe, mas é a grande atração do mais destacado evento da modalidade, o Masters, que começa hoje em Augusta, cidade de 200 mil habitantes no interior da Geórgia.
Ela preside uma associação de defesa dos direitos da mulher nos EUA e promete infernizar Tiger Woods e seus companheiros, a TV americana, os grandes patrocinadores, os convidados vip e quem mais cruzar o portão do Augusta National Golf Club, palco do Masters há 69 anos.
É o final de uma campanha de quase um ano na qual ela pretende obrigar o clube do Masters a aceitar uma mulher como sócia. Burk acusa o clube de discriminação. Embora não tenha normas sobre isso, em sete décadas a instituição abrigou apenas homens.
O clube de Augusta é o creme da elite americana. Entre seus 300 sócios há gente como o investidor Warren Buffet e o executivo Jack Welch. O primeiro negro só foi admitido em 1990, quando o clube também era questionado.
O Masters é o principal evento da casa. Os ingressos são reservados a um grupo seleto -lista que, nos últimos 30 anos, só abriu vaga para novos nomes duas vezes.
Burk resolveu enfrentar tudo isso e atacou por carta: "Sabemos que os patrocinadores não querem ser vistos como tolerantes à discriminação". O clube respondeu que, como instituição privada, "não pode falar sobre suas práticas com alguém de fora".
E seu diretor disse que não aceitaria as mulheres tendo "uma baioneta apontada" para si.
A associação das mulheres pediu então aos patrocinadores que retirassem o apoio, e o estrago foi grande. Embora mantendo o patrocínio, as companhias serão discretas. A TV americana transmitirá o Masters sem comerciais para poupar as empresas. Dois executivos que receberam cartas de Burk renunciaram aos títulos. O ex-presidente Jimmy Carter abriu a boca para dizer que o clube tem que aceitar mulheres.
Os argumentos de discriminação em casos assim ainda estão para ser testados em cortes americanas, mas Burk diz que não vai esperar pela discussão. No sábado, quer levar 200 mulheres à porta do clube para um protesto de sete horas. Como último desafio, porém, tem que passar por cima do xerife local, Ronnie Strength.
Ele quer o protesto longe do portão principal, alegando falta de segurança. Reservou ao grupo um lugar a quase um quilômetro do local e abaixo do nível da rua -ironicamente, terreno do próprio clube. Burk apelou à Justiça.
Seja onde for o protesto, o sábado em Augusta promete, já que a onda de Burk originou outras manifestações, oito ao todo. Se uma organização do reverendo Jesse Jackson irá apoiar a causa, um grupo chamado "Mulheres contra Martha Burk" levará um abaixo-assinado de 1.300 nomes.
A seu lado, um membro da racista Ku Klux Klan que se diz fã do negro Woods deverá fazer protesto solitário contra as mulheres.


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