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MOTOR
A epidemia
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Raikkonen teve um grande
momento em Sakhir, exatamente seu último ato na ópera-bufa protagonizada pela McLaren. No instante em que a telemetria acusou e o fraco motor Mercedes confirmou o novo fracasso,
o finlandês se recusou a cortar a
ignição, como seria prudente.
No lugar de apertar conformado aquele botão do painel e pôr
um fim a todo um GP de pesadelo, Raikkonen surpreendeu e fez o
contrário: afundou o pé no acelerador. A gasolina chegou com força ao motor e transformou a quebra em incêndio, em fiasco.
Sem dizer nenhuma palavra,
sem cometer nenhum faniquito à
beira da pista, Raikkonen foi eloqüente. Não fossem as chamas e
sua transmissão via satélite, muito provavelmente a McLaren não
viria a público afirmar que estava
abrindo um inquérito em sua organização. Também a Mercedes
não admitiria o óbvio que a persegue desde Melbourne, que sua
unidade simplesmente explodiu.
Além de sublinhar um dos piores começos de temporada do time de Ron Dennis, a atitude de
Raikkonen serviu para tirá-lo da
maioria burra da F-1 atual, o
enorme contingente que prefere
completar as corridas a disputar
qualquer coisa no asfalto. Algo
que se via antes nos times pequenos, sem alternativas, mas que se
espalha agora como praga. Com
um regulamento que privilegia a
sobrevivência, poucos são os que
se predispõem ao risco ou tentam
alguma estratégia diferente.
Parece piada, mas é uma constatação: quem faz isso, e faz muito bem, são Schumacher e a Ferrari, que não confiam nos pneus e
largam com um sopro de gasolina. Como é disparado o melhor
da turma, muitos creditam o sucesso a seu incontestável talento.
A cada temporada, no entanto,
sua estrela vem sendo polida também pela incompetência alheia.
Há casos críticos, como o da
própria McLaren, que torra uma
fortuna em sua fábrica de linhas
espaciais e gasta outra para manter um projetista mais interessado
em barcos. E o da Mercedes, que
já causa indignação na Alemanha. A verdade, no entanto, é que
o grid há tempos vem sendo habitado por fracos. O que dizer, por
exemplo, de Villeneuve, que trocou um time campeão pela aventura de um amiguinho?
A BAR decolou logo depois de se
livrar dos dois. E nas mãos de jovens pilotos antes desacreditados
-Button, o terceiro homem no
campeonato, e Sato, entre o temerário e o arrojo, mas capaz de colocar Ralf no seu devido lugar.
Mencionaria ainda os pilotos
da Renault -mais Trulli do que
Alonso neste momento- e Webber, a grande exceção, que morre
tentando, mas pelo menos tenta.
Tirando os pequenos, sobram os
batedores de retaguarda do alemão, Barrichello, Montoya e Ralf,
que não mais conseguem esconder, estão lá só pelos pontos.
Sakhir comprovou. A F-1 destes
tempos só tem graça quando os
transgressores conseguem, no
braço ou pelo acaso, se intrometer
no cinturão de resignados que involuntariamente protege o líder.
Que pelo menos esses resignados tenham a iniciativa de Raikkonen, lembrar que os fracos estão fora, não dentro do cockpit.
Bobagem
Outro jornal alemão colocou Ralf na Toyota por 10 milhões. Parece
que a fábrica japonesa está próxima de um equívoco histórico na F-1.
Outra bobagem
Max Mosley voltou a falar que a velocidade está crescendo demais na
categoria. E ameaçou medidas unilaterais se os times não propuserem mudanças urgentes. De fato, as máximas cresceram, apesar dos
motores longa vida. A pasmaceira, porém, também evita acidentes.
Outra F-1
Com esse ritmo de parada militar, até teste empolga mais que GP.
Anteontem, Schumacher deu show na pista molhada de Montmeló.
Ontem, foi a vez da BAR: Button e Sato colocaram tempo no alemão.
E-mail: mariante@uol.com.br
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