DO ENVIADO A VOLTA REDONDA

Em tempos de debate sobre a separação do Estado do Rio, o Volta Redonda tem a partir de hoje a oportunidade de ser o primeiro clube do interior a conquistar o Estadual -o segundo jogo da decisão acontece no próximo domingo, também no Maracanã.
Até agora, apenas os grandes da capital conseguiram levantar a taça de campeão desde a fusão da Guanabara (a atual capital) com o antigo Estado do Rio, em 1975.
Na época, o Campeonato Carioca acabou, mas pode voltar. Os senadores votam na quarta projeto de lei que propõe consulta popular sobre separação dos Estados, fundidos pelo governo militar.
""Será um orgulho maior vencer este campeonato. Com certeza, vamos colocar o nosso nome na história do futebol do Rio. Sou papa-goiaba [apelido dado pelos cariocas aos moradores dos municípios do interior do Estado] e não nego", disse o meia Gláuber, um dos destaques do time no torneio.
Gláuber nasceu em Barra do Piraí (a 119 km do Rio de Janeiro), cidade próxima a Volta Redonda (que fica a 129 km da capital).
A primeira edição da competição que reuniu times da capital e do interior do Estado foi em 1976. Fundado no mesmo ano, o Volta Redonda foi um dos convidados da federação do Rio para participar do campeonato.
Campeão da Taça Guanabara, o primeiro turno do Estadual, o time do interior foi concebido pelos militares nos anos 70. Na ocasião, o almirante Heleno Nunes decidiu colocar em prática uma das suas frases históricas: ""Onde a Arena vai mal, mais um clube no Nacional". Nunes era presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e também da Arena, partido de sustentação da ditadura militar.
Depois da derrota do partido nas eleições de 1974 em Volta Redonda, Nunes quis fundar um clube de expressão na cidade para fortalecer a situação. No ano seguinte, ele se reuniu com a cúpula da CSN e com políticos locais para colocar a sua frase em prática. A proposta foi aceita rapidamente, mas, por um capricho do dirigente, o clube demorou para ser criado -só saiu em fevereiro de 1976.
Vascaíno fanático, Nunes se recusou investir no maior clube da cidade, o Clube de Regatas do Flamengo de Volta Redonda, conhecido como Flamenguinho. ""Ele dizia que Flamengo já bastava um", conta Sergio Carvalho, ex-jogador do Volta Redonda.
Com o apoio da prefeitura local, o Volta Redonda, que usa as cores preto, amarelo e branco, é a principal surpresa do futebol fluminense nos últimos anos. Em 2004, já havia conquistado a segunda divisão do Estadual do Rio.
Com um elenco sem estrelas, o clube do interior gasta cerca de R$ 70 mil no futebol profissional. O valor é inferior ao que o meia Felipe, que já esteve na seleção brasileira, recebe do Fluminense.
""Vamos conseguir o título de qualquer jeito. Um gol no domingo [hoje] já está prometido", afirma o atacante Túlio, 35, o famoso da equipe -ganhou o Brasileiro-95 pelo Botafogo- e artilheiro do Estadual, com 11 gols. "A festa do interior vai ser boa."(SR)