São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ronaldinho já era na rua mais famosa de Barcelona

ROBERTO DIAS
EM BARCELONA

Ronaldinho não gosta de Messi. "Tem jogador que não me cai bem", justifica.
Também pudera. O brasileiro ouve todos os dias seguidos insultos dos catalães. Eufóricos com as arrancadas do melhor jogador do mundo, os barceloneses passam e gritam que o atacante do Milan já era.
Para piorar, Ronaldinho é obrigado a disputar espaço com o colega argentino. Um espaço específico: um canto da Rambla, a rua mais famosa de Barcelona, onde ganham a vida.
Ronaldinho é o paulista André da Silva Porto, 30, que há quatro anos imita ali o ex-ídolo do Barcelona. Messi, o vizinho, é o portenho Marcelo Ferrera, 45, há seis anos na Rambla.
O brasileiro conta que os dois já se desentenderam. "Briga por causa de ponto", afirma ele, emendando outro argumento: "Não gosto de argentino".
O Messi da rua dá de ombros para a rixa. Diz que o fato de estarem tão próximos ajuda na promoção dos dois e que o distanciamento entre brasileiros e argentinos se limita ao futebol.
Um e outro se acercam na história. Foram amigos que os transformaram em parte do cenário de artistas da Rambla de Barcelona. E os dois começaram bem sem jeito para a coisa.
No primeiro dia, o imitador de Ronaldinho parou na calçada, pôs a mão na cintura e ficou "sorrindo para a galera". Diz que ganhou 120 (R$ 287).
Era 2006, e Ronaldinho vivia seu auge no Barcelona com a taça da Copa dos Campeões.
Veio a decadência técnica do atleta, mas o artista sobreviveu na Rambla. Treinou malabarismos que, diz ele, nem o gaúcho faz. Seu favorito é um em que domina a bola parada no joelho e depois a prende com a perna atrás do corpo. E adora o "zerinho" ("volta ao mundo"): passa seguidamente o pé embaixo da bola, no ar, sem deixá-la cair. "É o que a galera mais pira."
Num bom dia, conta que podem cair mais de 300 na bola amassada onde recolhe a caixinha -apesar das ofensas. "Não trabalho para o pessoal daqui. Trabalho para o turista. Esse público gosta do Ronaldinho."
Seu vizinho também se mexeu. Antes, com camisa do Barcelona, exibia-se na Rambla sem fazer alusão a jogador. No final de 2009, pouco antes de Messi ser eleito o melhor do mundo, adotou uma peruca de penteado dividido ao meio. "Hoje trabalho menos para ganhar o mesmo dinheiro."
As divergências entre os dois são também midiáticas. Para o brasileiro, Ronaldinho deixou o time porque "os jornais da Espanha falam mentira". "O atleta às vezes sai para jantar e falam que saiu de festa." Já o argentino repete o que lê nos jornais. E, sorrindo, fala que, em toda sua vida, só soube de um atleta que aproveitava a noite e aparecia inteiro para treinar no dia seguinte: Romário, ex-ídolo do Barcelona.
Para o imitador, para Messi brilhar na seleção, Maradona tem que acertar ao escalá-lo. "O problema não é Messi. Tem que ser inteligente como Guardiola para saber como ele joga."
Messi não conhece Messi. Mas, antes do Mundial, quer chegar perto dele. Planeja ir a um treino. Já Ronaldinho conhece Ronaldinho. Foi à festa de despedida do gaúcho, na sua casa, em Castelldefels, cidade perto da Barcelona. Adorou o pagode e o churrasco.


Texto Anterior: Craques do time catalão agitam Copa
Próximo Texto: Holyfield legitima Maguila como campeão mundial
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.