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Ronaldinho já era na rua mais famosa de Barcelona
ROBERTO DIAS
EM BARCELONA
Ronaldinho não gosta de
Messi. "Tem jogador que não
me cai bem", justifica.
Também pudera. O brasileiro ouve todos os dias seguidos
insultos dos catalães. Eufóricos
com as arrancadas do melhor
jogador do mundo, os barceloneses passam e gritam que o
atacante do Milan já era.
Para piorar, Ronaldinho é
obrigado a disputar espaço com
o colega argentino. Um espaço
específico: um canto da Rambla, a rua mais famosa de Barcelona, onde ganham a vida.
Ronaldinho é o paulista André da Silva Porto, 30, que há
quatro anos imita ali o ex-ídolo
do Barcelona. Messi, o vizinho,
é o portenho Marcelo Ferrera,
45, há seis anos na Rambla.
O brasileiro conta que os dois
já se desentenderam. "Briga
por causa de ponto", afirma ele,
emendando outro argumento:
"Não gosto de argentino".
O Messi da rua dá de ombros
para a rixa. Diz que o fato de estarem tão próximos ajuda na
promoção dos dois e que o distanciamento entre brasileiros e
argentinos se limita ao futebol.
Um e outro se acercam na
história. Foram amigos que os
transformaram em parte do cenário de artistas da Rambla de
Barcelona. E os dois começaram bem sem jeito para a coisa.
No primeiro dia, o imitador
de Ronaldinho parou na calçada, pôs a mão na cintura e ficou
"sorrindo para a galera". Diz
que ganhou 120 (R$ 287).
Era 2006, e Ronaldinho vivia
seu auge no Barcelona com a
taça da Copa dos Campeões.
Veio a decadência técnica do
atleta, mas o artista sobreviveu
na Rambla. Treinou malabarismos que, diz ele, nem o gaúcho
faz. Seu favorito é um em que
domina a bola parada no joelho
e depois a prende com a perna
atrás do corpo. E adora o "zerinho" ("volta ao mundo"): passa
seguidamente o pé embaixo da
bola, no ar, sem deixá-la cair.
"É o que a galera mais pira."
Num bom dia, conta que podem cair mais de 300 na bola
amassada onde recolhe a caixinha -apesar das ofensas. "Não
trabalho para o pessoal daqui.
Trabalho para o turista. Esse
público gosta do Ronaldinho."
Seu vizinho também se mexeu. Antes, com camisa do Barcelona, exibia-se na Rambla
sem fazer alusão a jogador. No
final de 2009, pouco antes de
Messi ser eleito o melhor do
mundo, adotou uma peruca de
penteado dividido ao meio.
"Hoje trabalho menos para ganhar o mesmo dinheiro."
As divergências entre os dois
são também midiáticas. Para o
brasileiro, Ronaldinho deixou
o time porque "os jornais da
Espanha falam mentira". "O
atleta às vezes sai para jantar e
falam que saiu de festa." Já o
argentino repete o que lê nos
jornais. E, sorrindo, fala que,
em toda sua vida, só soube de
um atleta que aproveitava a
noite e aparecia inteiro para
treinar no dia seguinte: Romário, ex-ídolo do Barcelona.
Para o imitador, para Messi
brilhar na seleção, Maradona
tem que acertar ao escalá-lo.
"O problema não é Messi. Tem
que ser inteligente como Guardiola para saber como ele joga."
Messi não conhece Messi.
Mas, antes do Mundial, quer
chegar perto dele. Planeja ir a
um treino. Já Ronaldinho conhece Ronaldinho. Foi à festa
de despedida do gaúcho, na sua
casa, em Castelldefels, cidade
perto da Barcelona. Adorou o
pagode e o churrasco.
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