São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

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FUTEBOL

Acordo articulado pela TV prevê que entidade de clubes será reconhecida pela confederação após mudar seu estatuto

CBF e Liga vão co-organizar o Brasileiro

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

A ameaça de cisão que rondava o futebol brasileiro foi enterrada ontem à noite em uma reunião secreta na sede da Globo Esportes, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio de Janeiro). Após três horas de conversa, representantes da CBF e da Liga Nacional decidiram que vão co-organizar o Campeonato Brasileiro deste ano.
O encontro, articulado pela Globo Esportes, reuniu pela primeira vez desde março de 2001, quando foi assinado o "pacto da bola", os agora desafetos Ricardo Teixeira (CBF) e Fábio Koff (Clube dos 13 e Liga Nacional). Os anfitriões da reunião foram Marcelo Campos Pinto, diretor-executivo da Globo Esportes, e Julio Mariz, o segundo homem na hierarquia do braço esportivo da emissora.
Na reunião, que começou às 18h e terminou após as 21h, ficou acordado que o Brasileiro será disputado por 26 clubes, a partir de agosto, e que a confecção de tabelas e regulamento será feita em conjunto por representantes da CBF e da Liga Nacional.
A entidade máxima do futebol brasileiro se dispôs a registrar a Liga e a convencer Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco a disputarem o Nacional.
Segundo a Folha apurou, os clubes cariocas serão incitados pela Globo a disputar o torneio e a voltarem atrás na decisão de se rebelar contra a Liga Nacional. Em troca, Koff admitiu rever alguns pontos do estatuto da nova associação para adequá-lo ao da CBF.
Confederação e Liga entraram em choque no final de março, quando a segunda foi fundada. Uma semana após a criação da entidade de clubes, que reúne 48 times, a CBF seguiu a determinação das federações e anunciou que organizaria o Nacional-2002.
A Liga, por seu lado, mostrava-se irredutível na idéia de gerir sozinha o Brasileiro. Ameaçou entrar na Justiça para ser oficializada pela CBF e decidiu que montaria o torneio mesmo sem os cariocas.
Porém, a pedido da Globo e do Corinthians, Koff sentou-se à mesa com Teixeira e abriu mão da exclusividade na gestão da edição deste ano -em 2003, só a Liga seria a responsável pelo Nacional. A entrada dos executivos da Globo na articulação para reaproximar as partes deu-se na última semana. A emissora não queria ver o torneio mais importante do calendário nacional esvaziado.
Sem o aval da CBF, o torneio "pirata" da Liga, além de não dar vaga para competições internacionais, como a Libertadores, dificilmente contaria com os rebeldes cariocas, importantes para a TV por estarem no segundo mercado mais importante do país.
O Corinthians também teve papel decisivo no acordo. O time paulista, que pode conquistar uma vaga na Libertadores na próxima semana se vencer a Copa do Brasil, poderia ficar fora do torneio sul-americano e da próxima edição do Mundial de Clubes se entrasse na guerra contra a CBF.
Além do corintiano Alberto Dualib e dos representantes da Globo, da Liga e da CBF, participaram do encontro Mustafá Contursi (Palmeiras), Zezé Perrella (Cruzeiro), Fernando Carvalho (Inter), Fernando Pessoa (Sport), Paulo Maracajá (Bahia) e Mario Celso Petraglia (Atlético-PR).
Na reunião ficou ainda decidido que, por enquanto, os clubes não vão aderir à Copa Pan-Americana, torneio criado pela Conmebol para substituir a Copa Mercosul.
Outro item do acordo, a manutenção da maior parte do calendário quadrienal de 2001, ainda depende de discussão. As federações exigem a volta dos Estaduais, o que contraria a vontade das ligas regionais e dos grandes clubes.
À Folha, Koff disse que recebeu a palavra de Teixeira de que a Liga seria registrada assim que fizer os ajustes estatutários e que, se isso for cumprido, as duas entidades organizarão o Nacional. "Fico feliz que a disputa tenha acabado sem que fosse preciso ir à Justiça." A reportagem não localizou os representantes da Globo e da CBF.


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