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FUTEBOL
Dia de bola redonda
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Ninguém melhor que um
craque para apreciar a categoria de outro craque.
O meia Dicá, que exibiu sua
classe na Ponte Preta durante
quase duas décadas, dizia que a
bola chutada por Rivellino podia
sair do campo e ir direto para
uma vitrine, pois não teria sido
ferida nem danificada.
Um comentário desse tipo me
faz pensar nos antigos "mestres
de ofício" e na admiração recíproca manifestada por grandes
artistas ao longo da história.
Mas o mais bonito é quando esse diálogo se expressa não em palavras, mas na própria arte. No
caso, na arte de jogar futebol.
O poeta Ezra Pound definia a
poesia como "conversa entre homens inteligentes". É possível encarar os jogos e os campeonatos
como diálogos sutis entre craques
que se respeitam, se admiram e se
emulam mutuamente.
Gosto de pensar que, a cada
lançamento perfeito que realiza,
Alex está mandando uma mensagem cifrada a Ricardinho, ou que
uma defesa espetacular de Fábio
Costa é uma saudável provocação
a Júlio César -e vice-versa.
Pois bem. Essa longa introdução é para dizer que o jogo de hoje
entre Santos e Cruzeiro é um terreno privilegiado para conversas
desse tipo, desta vez "tête-à-tête".
A não ser que ocorra uma catástrofe natural, ou que o horóscopo da maioria dos atletas esteja
desfavorável, o provável é que haja uma bela exibição do que pode
ser, hoje, o futebol brasileiro.
São duas equipes bem armadas
e que jogam bonito, tanto pela
força do conjunto como pelo brilho dos astros. Em ambas, o toque
de bola -assunto central desta
coluna- é a qualidade suprema.
Para melhorar ainda mais as
perspectivas do clássico, os dois times vêm embalados pelas importantes vitórias conquistadas no
meio da semana. O Cruzeiro venceu o Vasco pela Copa do Brasil, e
o Santos passou pelo Nacional na
Taça Libertadores numa noite
épica do goleiro Fábio Costa.
Mas acredito que a motivação
maior dos jogadores será a própria qualidade de seus oponentes.
Os garotos do Santos, empurrados pela torcida, têm todo o interesse em fazer história acabando
com a longa invencibilidade do
Cruzeiro de Luxemburgo.
Os cruzeirenses, além de continuar invictos, querem provar que
são hoje o melhor time do Brasil
-e para isso, nada mais simbólico que vencer os atuais campeões
nacionais na casa deles.
Numa situação de equilíbrio como essa, um pequeno detalhe pode ser decisivo. Por exemplo: o
desfalque do zagueiro Luisão e
sua provável substituição por
Maldonado, que estréia no Cruzeiro e obriga o time a mudar seu
esquema (do 3-5-2 para o 4-4-2).
Mas há contra-exemplos igualmente plausíveis: uma tarde inspirada de Alex ou de Deivid -ou
uma pressão excessiva da torcida
santista, deixando os atletas intranquilos se o gol demorar a sair.
As especulações são tão inúteis
quanto irresistíveis. A história se
escreve na hora, por seus atores.
Só dá para saber que, se tudo correr bem, no final a bola pode sair
do campo direto para a vitrine.
Estratégia de risco
Se Geninho poupar mesmo alguns titulares (além dos contundidos ou suspensos) na partida de hoje contra o Criciúma,
estará correndo um grande risco. Um eventual tropeço distanciará o Corinthians ainda mais dos líderes, tornando
mais difícil uma recuperação.
Se não conseguir passar pelo
River Plate na Libertadores, só
restará essa pedreira nos próximos sete meses.
Paulistas e mineiros
Se Santos x Cruzeiro é o jogo
dos empolgados, Atlético-MG
x São Paulo, amanhã, ganha
contornos dramáticos quando
se pensa que os dois clubes estão em busca da recuperação
do prestígio perdido. E é possível que os dois voltem a se enfrentar proximamente, se forem adiante na Copa do Brasil.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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