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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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FUTEBOL

Dia de bola redonda

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Ninguém melhor que um craque para apreciar a categoria de outro craque.
O meia Dicá, que exibiu sua classe na Ponte Preta durante quase duas décadas, dizia que a bola chutada por Rivellino podia sair do campo e ir direto para uma vitrine, pois não teria sido ferida nem danificada.
Um comentário desse tipo me faz pensar nos antigos "mestres de ofício" e na admiração recíproca manifestada por grandes artistas ao longo da história.
Mas o mais bonito é quando esse diálogo se expressa não em palavras, mas na própria arte. No caso, na arte de jogar futebol.
O poeta Ezra Pound definia a poesia como "conversa entre homens inteligentes". É possível encarar os jogos e os campeonatos como diálogos sutis entre craques que se respeitam, se admiram e se emulam mutuamente.
Gosto de pensar que, a cada lançamento perfeito que realiza, Alex está mandando uma mensagem cifrada a Ricardinho, ou que uma defesa espetacular de Fábio Costa é uma saudável provocação a Júlio César -e vice-versa.
Pois bem. Essa longa introdução é para dizer que o jogo de hoje entre Santos e Cruzeiro é um terreno privilegiado para conversas desse tipo, desta vez "tête-à-tête".
A não ser que ocorra uma catástrofe natural, ou que o horóscopo da maioria dos atletas esteja desfavorável, o provável é que haja uma bela exibição do que pode ser, hoje, o futebol brasileiro.
São duas equipes bem armadas e que jogam bonito, tanto pela força do conjunto como pelo brilho dos astros. Em ambas, o toque de bola -assunto central desta coluna- é a qualidade suprema.
Para melhorar ainda mais as perspectivas do clássico, os dois times vêm embalados pelas importantes vitórias conquistadas no meio da semana. O Cruzeiro venceu o Vasco pela Copa do Brasil, e o Santos passou pelo Nacional na Taça Libertadores numa noite épica do goleiro Fábio Costa.
Mas acredito que a motivação maior dos jogadores será a própria qualidade de seus oponentes.
Os garotos do Santos, empurrados pela torcida, têm todo o interesse em fazer história acabando com a longa invencibilidade do Cruzeiro de Luxemburgo.
Os cruzeirenses, além de continuar invictos, querem provar que são hoje o melhor time do Brasil -e para isso, nada mais simbólico que vencer os atuais campeões nacionais na casa deles.
Numa situação de equilíbrio como essa, um pequeno detalhe pode ser decisivo. Por exemplo: o desfalque do zagueiro Luisão e sua provável substituição por Maldonado, que estréia no Cruzeiro e obriga o time a mudar seu esquema (do 3-5-2 para o 4-4-2).
Mas há contra-exemplos igualmente plausíveis: uma tarde inspirada de Alex ou de Deivid -ou uma pressão excessiva da torcida santista, deixando os atletas intranquilos se o gol demorar a sair.
As especulações são tão inúteis quanto irresistíveis. A história se escreve na hora, por seus atores. Só dá para saber que, se tudo correr bem, no final a bola pode sair do campo direto para a vitrine.

Estratégia de risco
Se Geninho poupar mesmo alguns titulares (além dos contundidos ou suspensos) na partida de hoje contra o Criciúma, estará correndo um grande risco. Um eventual tropeço distanciará o Corinthians ainda mais dos líderes, tornando mais difícil uma recuperação. Se não conseguir passar pelo River Plate na Libertadores, só restará essa pedreira nos próximos sete meses.

Paulistas e mineiros
Se Santos x Cruzeiro é o jogo dos empolgados, Atlético-MG x São Paulo, amanhã, ganha contornos dramáticos quando se pensa que os dois clubes estão em busca da recuperação do prestígio perdido. E é possível que os dois voltem a se enfrentar proximamente, se forem adiante na Copa do Brasil.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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