São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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BOXE
Tetracampeão brasileiro, Agnaldo Nunes abandona equipe por não receber salário há meses e recorre ao COB
Time olímpico perde melhor atleta

EDUARDO OHATA
da Reportagem Local

Considerado o melhor amador brasileiro na atualidade, o pugilista Agnaldo Nunes abandonou a equipe que disputa o pré-Pan-Americano a partir do dia 14 por passar por problemas financeiros.
Agora, tem no Comitê Olímpico Brasileiro suas últimas esperanças para voltar ao time olímpico.
Nunes, que comunicou sua decisão à Confederação Brasileira de Boxe na semana passada, citou o fato de estar há sete meses sem receber salário do Corinthians, clube que defende em torneios amadores, situação agravada pela gravidez de sua mulher, como principal motivo de sua decisão.
Ao tomar conhecimento da situação do atleta, o presidente da CBB, Luiz Claudio Bozelli, que o considera ""o melhor e um dos mais experiente amadores brasileiros da atualidade", entrou em contato com o Comitê Olímpico Brasileiro, em busca de auxílio.
Segundo o dirigente, o COB teria se prontificado a destinar uma ajuda de custo ao lutador, assim que as verbas do COI (Comitê Olímpico Internacional) fossem liberadas, e também a procurar um patrocinador junto à iniciativa privada para o lutador.
Nunes, 23, porém, afirma que só desiste do emprego que arrumou para saldar as dívidas ao ter a confirmação do patrocínio, o que deve acontecer somente no início de junho, e que já descartou, em definitivo, a participação no pré-Pan-Americano, marcado para acontecer em Quito, no Equador.
""Acho que minha decisão (de abandonar a seleção) é definitiva. Mas, mesmo que achem uma solução para o problema de patrocínio, não terei condições de ir ao Equador, tanto por problemas de peso, quanto pelo fato de não reunir condições psicológicas agora."
Uma verba que Nunes já recebe mensalmente de um patrocinador -R$ 500- deveria ser destinada às despesas com o treinamento, com suplementos alimentares e passagens para Campinas (99 km a noroeste de São Paulo), onde costuma treinar com sparrings.
Por estar sem receber há meses, o dinheiro vem sendo usado para saldar as contas domésticas, o que afeta sua rotina de treinos. Uma das consequências desse remanejamento da verba é que Nunes diminuiu de cinco para duas as viagens semanais para Campinas.
""Sei que meu treinamento acaba comprometido, mas não tenho outra saída. Estou cheio de dívidas. Preciso pagar as contas da casa, como o IPTU, as prestações do carro e prosseguir com a construção de uma casinha", explica Nunes.
A situação do pugilista é agravada pelo fato de sua mulher, Cleunice, estar grávida de seis meses, esperando o segundo filho do casal.
Nunes já é pai de uma menina de quase dois anos -Amanda.
""Antes, apesar das críticas de familiares que sempre cobram retorno financeiro, dava para aguentar. Mas agora, com mais esse filho a caminho, não está dando para me manter. Já estou com um emprego (em uma fábrica de biscoitos) engatilhado", explica Nunes.
O lado negativo de o pugilista trabalhar em um emprego regular é que, embora ainda tenha condições de participar de torneios regionais -como o Luvas de Prata, atualmente em andamento em São Paulo-, não poderá mais ficar à disposição da seleção brasileira para concentrações e viagens.
""Escolhi esse emprego porque trabalharia apenas na parte da manhã. À tarde, seria possível prosseguir os meus treinamentos. Mas não daria para ficar perdendo dias de trabalho com a seleção, sei que seria difícil para qualquer patrão entender uma situação dessas", lamenta o lutador, que acumula mais de 80 combates em seu cartel.


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