São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Conversa de bar

É NO QUE dá o presidente da República comportar-se como torcedor no botequim, falando sem os freios que a posição demanda.
Quem fala o que quer, ouve o que não quer, para usar um ditado bem ao gosto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem por frases originais e criativas.
Lula falou o que quis da gordura, suposta ou real, de Ronaldo.
Ouviu o que certamente não gostaria: "Fui informado de que era terminantemente proibido fazer perguntas para ele, mas eu tinha muitas perguntas para fazer. Ele disse que eu sou gordo, como todo mundo diz que ele bebe para caramba. Tanto é mentira que eu estou gordo como deve ser mentira que ele bebe para caramba", afirmou o atacante em entrevista a emissoras de televisão, conforme reprodução da agência britânica Reuters.
É o tipo de assunto que deve causar a mais profunda irritação em Lula, a ponto de ele ter na prática determinado a expulsão do Brasil do correspondente do "New York Times", Larry Rother, quando este pôs no papel, como verdade, o que Ronaldo disse às TVs que "deve ser mentira".
Já é complicado o fato de a CBF ter instruído os jogadores a não fazerem perguntas, supostamente por falta de tempo do presidente para respondê-las. O mais provável é que o problema não era o tempo, mas o incômodo que uma eventual pergunta de um jogador mais atrevido poderia provocar no presidente (como a que Ronaldo diz que gostaria de fazer), ainda mais quando há tantas que Lula se nega permanentemente a responder.
É claro que o presidente fez uso político-eleitoral do momento, mas não é esse o ponto relevante. Todos fazem. Para ficar em dois exemplos: a chanceler (primeira-ministra) alemã Angela Merkel fez uma espécie de reunião de cúpula a três, com Franz Beckenbauer e o técnico da seleção, Jürgen Klinsmann, quando eram mais intensos os rumores (ou fatos) sobre desacordos entre os dois, ambos estrelas de primeira grandeza no futebol alemão.
O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, também recebeu a seleção, no embarque para a Alemanha.
A diferença é que os dois se comportam nos limites do cargo, sem dar a menor margem para grosserias.


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