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CLÓVIS ROSSI
Conversa de bar
É NO QUE dá o presidente da República
comportar-se como
torcedor no botequim, falando sem os freios que a
posição demanda.
Quem fala o que quer,
ouve o que não quer, para
usar um ditado bem ao
gosto que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva
tem por frases originais e
criativas.
Lula falou o que quis da
gordura, suposta ou real,
de Ronaldo.
Ouviu o que certamente
não gostaria: "Fui informado de que era terminantemente proibido fazer perguntas para ele,
mas eu tinha muitas perguntas para fazer. Ele disse que eu sou gordo, como
todo mundo diz que ele
bebe para caramba. Tanto
é mentira que eu estou
gordo como deve ser mentira que ele bebe para caramba", afirmou o atacante em entrevista a emissoras de televisão, conforme
reprodução da agência
britânica Reuters.
É o tipo de assunto que
deve causar a mais profunda irritação em Lula, a
ponto de ele ter na prática
determinado a expulsão
do Brasil do correspondente do "New York Times", Larry Rother, quando este pôs no papel, como
verdade, o que Ronaldo
disse às TVs que "deve ser
mentira".
Já é complicado o fato
de a CBF ter instruído os
jogadores a não fazerem
perguntas, supostamente
por falta de tempo do presidente para respondê-las.
O mais provável é que o
problema não era o tempo, mas o incômodo que
uma eventual pergunta de
um jogador mais atrevido
poderia provocar no presidente (como a que Ronaldo diz que gostaria de fazer), ainda mais quando
há tantas que Lula se nega
permanentemente a responder.
É claro que o presidente
fez uso político-eleitoral
do momento, mas não é
esse o ponto relevante.
Todos fazem. Para ficar
em dois exemplos: a chanceler (primeira-ministra)
alemã Angela Merkel fez
uma espécie de reunião de
cúpula a três, com Franz
Beckenbauer e o técnico
da seleção, Jürgen Klinsmann, quando eram mais
intensos os rumores (ou
fatos) sobre desacordos
entre os dois, ambos estrelas de primeira grandeza
no futebol alemão.
O presidente do governo
espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, também
recebeu a seleção, no embarque para a Alemanha.
A diferença é que os dois
se comportam nos limites
do cargo, sem dar a menor
margem para grosserias.
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