São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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JUCA KFOURI

Enfim, um único país


A tocante (vuvuzela!) manifestação dos sul-africanos foi como o pontapé inicial da Copa


EM 2006, a Copa do Mundo mostrou uma Alemanha reunificada. Reunificada, alegre, mas ainda deliberadamente contida em suas manifestações de ufanismo. Fez sentido.
Na África do Sul, não há moderação alguma.
A vuvuzela é, por definição, um instrumento que não comporta moderação, muito pelo contrário. E Johannesburgo acordou ao som dela, delas, milhares, talvez uma centena de milhares. Um som tão forte que penetra até onde os vidros antirruído dão conta do barulho do trânsito e das buzinas, poucas, por sinal. Mas jamais delas, as vuvuzelas.
Mais na boca dos negros do que na dos brancos que, enfim, ontem foram além de dividir um mesmo espaço no centro rico de Joburg. Estavam, se não ainda abraçados, ao menos ombro a ombro, numa manifestação comovente, impressionante, sob o pretexto de levar apoio à seleção local no hotel.
De cada branco a que alguém indagasse a preferência entre futebol e rúgbi, ouviria a resposta indicando o segundo. Mas um jovem pai, de 32 anos, com o filho de seis, boné na cabeça loirinha com a inscrição "Somos um só país", respondeu: "Eu gosto mais de rúgbi, nem ligo muito para futebol. Mas vou torcer como se fosse rúgbi e acho que ele [apontou para o menino] vai gostar mais de futebol".
Difícil dizer se o futuro sul- -africano está mais para o futebol do que para o rúgbi, mas é óbvio que, se a Alemanha foi dividida à força, a África do Sul se esforça para se juntar também pelo afeto.
E parece não restarem maiores dúvidas sobre o papel que o futebol tem a desempenhar nisso tudo.
Tanto que Carlos Alberto Parreira exala confiança, bem diferente da postura oposta, acomodada, que adotou há quatro anos, quando ele e seus principais comandados pareciam saber que aquela Copa, na Europa, não era para nosso bico. E tome Cafu querendo bater recordes pessoais, Ronaldo na mesma toada e Parreira conformado, passivo.
Agora, por essas regras não escritas do futebol, aquela que vai além até mesmo da regra 18 (o futebol, como se sabe, só tem 17), os donos da casa estreiam contra o México, seleção controlada pela milionária família Azcárraga, de umbilicais ligações com a Fifa, capaz de tudo para atendê-la, até mesmo de contrariar o próprio sangue desde que mantenha intacto, ou mais cheio, o gordo bolso.

blogdojuca@uol.com.br


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