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FUTEBOL
Futebol é o pio do povo
JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Antes da Copa, era difícil
para mim imaginar que um
Brasil pentacampeão pudesse ser
bom para FHC e RT.
Primeiro, porque o que é bom
para eles certamente não é para
nós. Segundo, porque apareceria
bicho de toda espécime: rato bigodudo, querendo canonizar diabo.
Tucano arrogante, dando parabéns pra cartola. Daqui a pouco
vão lembrar Gregório de Mattos
em "Reprovações": "Se sois homem valoroso, dizem que sois temerário; se não compondes, sois
néscio; se honesto sois, não sois
homem".
Muito mais que "o ópio do povo", já dizia João Saldanha, "o futebol é o pio do povo".
Mas, hoje, entendo que esse esporte-negócio (só inferior ao petróleo) acaba sendo tão vital para
o país que deveria ser considerado uma razão de Estado.
Assim, duas instituições que devem ser voltadas para o bem-estar do povo, como corpo e alma,
merecem ser dirigidas por gente
acima de qualquer suspeita.
Imprensa é oposição
Seleção e governo não estão só
nos coraçõe$.
Na política, a imprensa não deve ter lado, não pode bajular e
precisa manter distância cética e
crítica do poder. No futebol, as regras não podem ser diferentes.
Antes do Mundial, eu brincava
com Juca Kfouri, Juarez Soares e
Sócrates que a chance de a nossa
seleção ganhar a Copa era mais
em função do pessimismo e da
desconfiança da imprensa.
2002 e 1994, Felipão e Parreira
pareciam ter tudo a ver. Mas nem
tanto. É preciso lembrar que antes
desta Copa o Brasil disputara sua
pior eliminatória (perdeu do
Equador) e sua pior Copa América (de Honduras).
A imprensa criticou o que todo
mundo enxergava. Onde erramos? Em não acreditar que Ronaldo poderia desequilibrar, assim como Didi, Pelé, Garrincha,
Maradona e Romário em outras
Copas? Mas como, se o próprio
"Fenômeno", depois da Copa,
confessou que nem mesmo ele esperava jogar o que jogou?
Discriminamos Rivaldo? Não,
na verdade apareceu um Felipão-Freud que bem soube compreender o gênio pernambucano.
O que precisamos refletir é sobre
nossa falta de paciência. Não é
uma questão de ser otimista ou
pessimista, mas, sim, de saber esperar antes de prejulgar.
Numa Copa de sete jogos, dificilmente em qualquer geração, ou
safra, não seremos os favoritos.
Em cada década veremos um,
dois craques acima da média.
Nesta Copa, o nosso melhor esquema foi o de três atacantes. Toda glória a Felipão, que priorizou,
melhorou e arrumou a maneira
de marcar, até durante o torneio.
Reconheço, repito e realço: ganhamos o penta, 50% pelos três
"erres" do ataque; 25% por um
treinador que reuniu uma seleção
de estrelas sem nenhum estrelismo; e 25% por um time com 100%
de transpiração...
Mas, também, sejamos justos:
quiseram calar a nossa boca.
Conseguiram. Jogamos um bolão.
E é por isso que a imprensa tem
que ser oposição. O resto, como
diz o Millôr, é armazém de secos e
molhados. E a mim pouco importa que as êmulas claudiquem, o
que vale é festejar.
Uma vez Flamengo
Sempre Flamengo. Adeus Imundo. E que também desapareçam
os Ricaços e os Euvírus de nossas
vidas...
3 em 13 anos
Voltemos na história das nossas Copas. Em 58, o time tinha como base o futebol carioca. Eram três do Botafogo e três do Vasco. De São Paulo, dois eram do Santos. Em 62, o time era um combinado entre cinco do Botafogo, quatro do Santos e dois do Palmeiras. O tri de 70 tinha como base cinco atletas do Santos e do Cruzeiro. Ah, que saudades... Até aí nenhum campeão jogava no exterior -e nosso futebol encerrava o ciclo de times hegemônicos.
2 em 32
Só 24 anos depois veio nossa quarta Copa. Adeus, base. No time titular, só dois atletas do Palmeiras e dois do La Coruña. Dos 22 convocados, 12 atuavam fora. Em 2002, sepultamos a base de qualquer time. Felipão teve, no time titular, 11 atletas de 11 clubes diferentes. Dos 23 chamados, 10 vinham de fora. Ufa! Menos dois em relação a 94.
E-mail kajuru@terra.com.br
Tostão, em férias, não escreve neste
espaço até 4 de setembro
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