São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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No adeus, Zidane vai de herói a vilão

Após igualar Pelé, Vavá e Breitner com gols em final, meia francês agride Materazzi e se aposenta de forma melancólica

Expulso a dez minutos do fim da prorrogação, camisa 10 se junta ao camaronês Song como os únicos a receberem dois vermelhos em Mundiais


DOS ENVIADOS A BERLIM

Ele começou o jogo igualando um recorde positivo das Copas. Mas, no último ato da sua brilhante carreira profissional, saiu pela porta dos fundos atingindo outra marca histórica, só que desta vez bem feia.
Zinedine Zidane, 34, faz parte agora de um grupo que só tem mais três membros (Pelé, Vavá e o alemão Breitner). Eles foram os únicos a fazer gols em duas finais de Mundial.
Mas, com a mesma cabeça que decidiu a Copa de 1998, agrediu Materazzi e agora faz companhia ao camaronês Song como o único jogador da história a ter sido expulso duas vezes em partidas de Copa.
Confirma assim o histórico de mal comportamento -além dos dois vermelhos, recebeu quatro amarelos em apenas 12 partidas pela competição, que o tiraram de três confrontos (em 1998, o francês pegou um gancho de duas partidas por agredir um jogador da Arábia Saudita na primeira fase).
Zidane vai encerrar a carreira com 12 expulsões no currículo, muita coisa para alguém de sua posição e com seu talento. Em 2000, deu uma cabeçada em um jogador do Hamburgo e foi suspenso por cinco jogos da Copa dos Campeões da Europa.
E ainda foi péssimo perdedor. O carrasco brasileiro em duas Copas não foi ao gramado receber a medalha de vice-campeão. Não cumprimentou os vitoriosos. Escondeu-se no vestiário e novamente se calou, o que causou durante o Mundial pesadas críticas dos patrocinadores da federação francesa.
Mas não faltou gente para falar de Zidane. "Isso não deveria ter acontecido com ele. Seu gesto debilitou sua equipe. Sabemos como os franceses ficam debilitados quando perdem seu capitão", disse o alemão Franz Beckenbauer, ex-craque e chefe da organização da Copa.
Quase todos tentaram passar a mão na cabeça do camisa 10. "Sou um grande fã do Zidane. Lamento que ele tenha encerrado a carreira desse jeito", disse Marcello Lippi, o técnico italiano. "No vestiário, ele estava abatido. Não vou pedir explicações. O gesto do Zidane não teve influência no resultado final. Não quero julgá-lo ou culpá-lo. Não temos que mexer em sua ferida", afirmou Jean-Pierre Escalettes, presidente da federação francesa.
Mas houve também quem fugisse da louvação dos últimos dias ao camisa 10 francês. "Acho que esse jogo provou que a melhor marcação sobre ele é a por zona, e não individual. Zidane não faz mais a diferença como antes", disse o meia Gattuso. Muita gente criticou Carlos Alberto Parreira por justamente não ter executado uma marcação individual sobre o meia, que, com a derrota francesa, encerra a última temporada da sua carreira sem títulos -no Real Madrid, ele já havia ficado sem saborear um.
Ontem, antes de perder a cabeça, Zidane foi protagonista de lances vitais do jogo. Primeiro, fez o gol numa cobrança de pênalti, que exigiu muita coragem. Ele viu Buffon cair e bateu de leve, muito leve, na bola, que acertou a trave e ultrapassou a linha antes de bater no chão e voltar para o campo. Sorte que o bandeirinha estava bem posicionado e validou o gol.
Como aconteceu em outros momentos importantes, como no gol que fez contra Portugal nas semifinais, sua comemoração foi bastante tímida.
Já na prorrogação, executou uma certeira cabeçada que resultou em defesa espetacular de Buffon. (FÁBIO VICTOR, GULHERME ROSEGUINI, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E RODRIGO BUENO)

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