São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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JUCA KFOURI

Intestinos do Brasil FC


Não há fio de meada que se mexa neste país sem que se encontre os mesmos de sempre e, ainda, o futebol

A PRISÃO de Daniel Dantas não tem nada a ver com o futebol.
Mas tem tudo a ver com o futebol. Como é freqüente.
Porque é impressionante como, vira e mexe, de alguma maneira o futebol surge entre as falcatruas nacionais, assim como impressiona como é sempre a mesma gente, ou quase, que circula em torno dos mais variados escândalos.
Os mesmos especuladores, os mesmos políticos, os mesmos empresários, publicitários, quase sempre quem fez fortuna do dia para a noite por habilidades, digamos, que vão muito além do empreendedorismo, jornalistas, inclusive.
Aliás, sempre é bom desconfiar de quem faz fortuna da noite para o dia, tantos são os exemplos recentes no Brasil de quem fez e acabou indo, mesmo que apenas por algumas horas, para a cadeia. Provavelmente pessoas que acharão que o custo/benefício é positivo e ainda dirão aos seus que Nelson Mandela também esteve na prisão -e por quase uma vida inteira.
Mas, para usar a expressão cunhada por Bob Fernandes, que deu o furo das prisões de Dantas e companhia em sua revista eletrônica "Terra Magazine", o episódio é "o mais profundo mergulho nos intestinos do Brasil".
E, é claro, tem a ver com futebol. A começar do fato de o Opportunity de Dantas ter se assenhorado do EC Bahia de maneira tal que até hoje, dois anos depois do rompimento da parceria, ainda permanece com carradas de direitos sobre o clube mais popular do Nordeste brasileiro, sem contar a ajuda que deu ao tricolor na direção não dos intestinos, mas dos infernos de nosso futebol, a terceira divisão.
Em meio às descobertas mais recentes da Polícia Federal, em inquérito comandado, lembremos, pelo mesmo delegado Protógenes Queiroz que conduziu as investigações da parceria Corinthians/MSI e que hoje faz parte de um grupo internacional que combate a lavagem de dinheiro no futebol, revelou-se que só uma das empresas sob o chapéu de Dantas, a Parcom, enterrou US$ 32 milhões no Bahia, tanto dinheiro que faria do clube uma potência se, de fato, no clube tivesse sido investido. A PF aposta que não.
Quem representava Dantas na parceria com o Bahia era sua irmã, Verônica, também presa na operação Satiagraha e que até andou sendo ouvida pelo Ministério Público baiano, em 2005, sobre a sociedade entre o banco e o clube.
Verônica que, por sinal, é companheira do candidato de Ricardo Teixeira para assumir o STJD, Francisco Mussnich, membro, aliás, indicado pelo cartolão da CBF, do comitê organizador da Copa do Mundo no Brasil e advogado de um sem-número de causas do Opportunity.
Uma só transação do período da parceria entre o banco e o clube, a do lateral-direito Daniel Alves, revelado pelo Bahia, dá a medida de como as coisas funcionam: ele foi vendido ao Sevilla por US$ 1,050 milhão em 2004 e, agora, quatro anos depois, cedido ao Barcelona por US$ 55 milhões.
Pois bem: o que se estranha no caso não é nem a estupenda supervalorização, quase 55 vezes em quatro anos, mas, sim, se acusa o fato de a transação não ter sido feita, à época, com os valores reais.

blogdojuca@uol.com.br


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