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Cubano coroa em SP "deserção por amor"
Campeão da 9 de Julho, ciclista deixou delegação no Pan devido a um romance
Michel Fernández García
ficou no país por causa de namoro com brasileira que tinha conhecido em 2006;
casal não está mais junto
FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL
Michel Fernández García
competiu na prova de pista no
Pan do Rio, no ano passado.
Não completou a disputa por
pontos, no Velódromo. Isso foi
em 17 de julho de 2007.
Passado quase um ano, depois de ter optado pela "deserção por amor", o cubano venceu, ontem, a prova ciclística 9
de Julho, no autódromo de Interlagos, em São Paulo.
Fernández, 25, vive como refugiado no Brasil. A história começou em 2006, quando ele
disputou o Campeonato Pan-Americano de ciclismo, em
Caieiras (a 38 km de SP).
No intervalo das competições, ele conheceu uma mulher. Os dois flertaram e mantiveram contato, por telefone e e-mail, mesmo quando o cubano
voltou para seu país.
O reencontro aconteceu no
ano passado, na época do Pan.
Fernández chegou a competir,
mas, seduzido pela futura namorada, optou por deixar o alojamento dos atletas. Pela paixão, abriu mão de Cuba.
"Só pensava em ficar com ela,
mas não deu certo", diz o ciclista, que defende a equipe de Ribeirão Preto e, ontem, venceu
com o tempo de 1h58min47s o
percurso de 86 km.
O namoro durou quatro meses. Fernández morou com a
namorada em Osasco. No primeiro mês, trabalhou como
chaveiro. Depois, um amigo o
ajudou a entrar em contato
com a federação paulista.
Ao mesmo tempo, ele entrou
com pedido de refúgio e recebeu o sim do Conare (Comitê
Nacional para os Refugiados),
em setembro. No Rio, além dele, Rafael Capote, do handebol,
Lázaro Ramírez, técnico de ginástica, e os pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara também desertaram. Capote
e Ramírez vivem no Brasil -os
boxeadores foram deportados.
Fernández diz não ter qualquer contato com Capote, que
também mora no Estado de São
Paulo. O ciclista passou a viver
em Santo André, na Grande São
Paulo, após o romance.
Como refugiados, os caribenhos têm quase todos os direitos de quem nasceu no Brasil,
exceto votar e deixar o país sem
avisar as autoridades.
Fernández pensa em se naturalizar brasileiro e, com outro
passaporte que não o cubano,
poder visitar seu país. Na condição de desertor, ele não é autorizado pelo governo da ilha a
entrar em Cuba. "Falo com minha família por telefone, por e-mail, mas não posso vê-los. Até
tentei, mas não consegui."
O ciclista pretende seguir a
carreira no Brasil. "Aqui tem
provas importantes e quero
sempre melhorar meu rendimento", fala Fernández.
Apesar de ser uma exceção
entre os atletas que deixam Cuba -quase a totalidade dos que
saem e não voltam toma a decisão por motivos políticos-, o
campeão da 9 de Julho diz já ter
pensado em abandonar seu
país por causa da falta de liberdade que tinha lá.
"Claro que isso já passou pela
minha cabeça, só que eu estava
esperando uma oportunidade",
diz Fernández. "Com a seleção
[cubana], viajei para lugares como Venezuela, Colômbia, Rússia. Ficar lá, está louco? Se fossem os EUA, eu ficaria."
"O meu começo no Brasil foi
difícil, estava num lugar em que
não conhecia ninguém. Mas,
com o tempo, fui me acostumando", conta o ciclista, que
coleciona duas medalhas, uma
prata e um bronze, por Cuba
nos Jogos Centro-Americanos
em provas de pista.
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