São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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Cubano coroa em SP "deserção por amor"

Campeão da 9 de Julho, ciclista deixou delegação no Pan devido a um romance

Michel Fernández García ficou no país por causa de namoro com brasileira que tinha conhecido em 2006; casal não está mais junto


FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL

Michel Fernández García competiu na prova de pista no Pan do Rio, no ano passado. Não completou a disputa por pontos, no Velódromo. Isso foi em 17 de julho de 2007.
Passado quase um ano, depois de ter optado pela "deserção por amor", o cubano venceu, ontem, a prova ciclística 9 de Julho, no autódromo de Interlagos, em São Paulo.
Fernández, 25, vive como refugiado no Brasil. A história começou em 2006, quando ele disputou o Campeonato Pan-Americano de ciclismo, em Caieiras (a 38 km de SP).
No intervalo das competições, ele conheceu uma mulher. Os dois flertaram e mantiveram contato, por telefone e e-mail, mesmo quando o cubano voltou para seu país.
O reencontro aconteceu no ano passado, na época do Pan. Fernández chegou a competir, mas, seduzido pela futura namorada, optou por deixar o alojamento dos atletas. Pela paixão, abriu mão de Cuba.
"Só pensava em ficar com ela, mas não deu certo", diz o ciclista, que defende a equipe de Ribeirão Preto e, ontem, venceu com o tempo de 1h58min47s o percurso de 86 km.
O namoro durou quatro meses. Fernández morou com a namorada em Osasco. No primeiro mês, trabalhou como chaveiro. Depois, um amigo o ajudou a entrar em contato com a federação paulista.
Ao mesmo tempo, ele entrou com pedido de refúgio e recebeu o sim do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), em setembro. No Rio, além dele, Rafael Capote, do handebol, Lázaro Ramírez, técnico de ginástica, e os pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara também desertaram. Capote e Ramírez vivem no Brasil -os boxeadores foram deportados.
Fernández diz não ter qualquer contato com Capote, que também mora no Estado de São Paulo. O ciclista passou a viver em Santo André, na Grande São Paulo, após o romance.
Como refugiados, os caribenhos têm quase todos os direitos de quem nasceu no Brasil, exceto votar e deixar o país sem avisar as autoridades.
Fernández pensa em se naturalizar brasileiro e, com outro passaporte que não o cubano, poder visitar seu país. Na condição de desertor, ele não é autorizado pelo governo da ilha a entrar em Cuba. "Falo com minha família por telefone, por e-mail, mas não posso vê-los. Até tentei, mas não consegui."
O ciclista pretende seguir a carreira no Brasil. "Aqui tem provas importantes e quero sempre melhorar meu rendimento", fala Fernández.
Apesar de ser uma exceção entre os atletas que deixam Cuba -quase a totalidade dos que saem e não voltam toma a decisão por motivos políticos-, o campeão da 9 de Julho diz já ter pensado em abandonar seu país por causa da falta de liberdade que tinha lá.
"Claro que isso já passou pela minha cabeça, só que eu estava esperando uma oportunidade", diz Fernández. "Com a seleção [cubana], viajei para lugares como Venezuela, Colômbia, Rússia. Ficar lá, está louco? Se fossem os EUA, eu ficaria."
"O meu começo no Brasil foi difícil, estava num lugar em que não conhecia ninguém. Mas, com o tempo, fui me acostumando", conta o ciclista, que coleciona duas medalhas, uma prata e um bronze, por Cuba nos Jogos Centro-Americanos em provas de pista.


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