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Atenas, cidade grampeada
Megaesquema da 1ª Olimpíada pós-11 de Setembro inclui quebra de sigilo telefônico da população
FÁBIO SEIXAS
MARCELO DIEGO
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS
Andar por Atenas e ter a sensação de estar sendo vigiado não é
paranóia. É realidade. Câmeras
com alto poder de resolução, incluindo recurso infravermelho, e
microfones se espalham pela cidade, no maior esquema de segurança da história dos Jogos.
O sistema de vigilância eletrônica na sede da Olimpíada foge do
convencional -monitoramento
de tráfego, por exemplo. As 1.600
câmeras instaladas por toda parte
são dotadas de sistema que acusa
mudanças bruscas no cenário e
alerta a polícia imediatamente.
As conversas também podem
ser captadas por cerca de 600 microfones. O equipamento é tão
preciso que distingue disparos de
estouros de pneu.
O governo grego se outorgou
mais poder de vigilância e quebrará o sigilo de toda a telefonia
(fixa e móvel) no período de duração do evento -13 a 29 de agosto.
"É a primeira vez que esse tipo
de rede é utilizado em tal escala
para um evento internacional",
declarou à Folha o porta-voz da
polícia grega, Lofteris Ikonomou.
Lembra o "Big Brother" (em inglês, Grande Irmão), que controlava a vida das pessoas no célebre
livro de George Orwell e que batizou o "reality show" da TV.
Não é só. Pelo alto, um dirigível
sobrevoa a cidade, também captando imagens transmitidas para
o centro de segurança de Atenas.
O sistema foi desenvolvido por
um consórcio de empresas lideradas pela norte-americana Saic,
que recebeu US$ 312 milhões,
parte de um orçamento de US$ 1,5
bilhão desembolsado em segurança. Em Sydney-2000, o setor
recebeu US$ 500 milhões.
Atenas-2004 será a primeira
Olimpíada depois do atentado de
11 de setembro de 2001. Para evitar ameaças, são utilizadas até lanchas e helicópteros, numa operação que envolve 78 mil homens e
forças de outros países.
As imagens captadas pelo "Big
Brother Atenas" serão mantidas
por sete dias. "Isso permite comparar dados e partes diferentes da
cidade e fazer análises mais profundas", disse Ikonomou.
O esquema começou a funcionar integralmente no dia 1º, segundo o Ministério da Ordem Pública. O sistema total de segurança, que prevê medidas para 200
casos diferentes de emergência,
passa a vigorar hoje, quando Atenas estará de fato sitiada.
Mas há quem se incomode com
tanta vigilância. Um grupo ativista dos direitos civis entrou com
uma ação contestando a legalidade da captação de imagens do dirigível. Querem que o aparelho,
de 60 m de comprimento, fique
no chão. Uma decisão da Justiça,
porém, é considerada improvável
até o término da Olimpíada.
Para Theodoros Roussopoulos,
porta-voz do governo, a sociedade civil aprovou as medidas de segurança. "Não estamos violando
nenhuma lei ou a Constituição",
disse. "O dirigível irá operar durante 15 horas por dia", afirmou.
Incomodados com a invasão de
privacidade, atenienses picharam
câmeras pela cidade. Em carta ao
Parlamento, seis grupos de proteção aos direitos civis chamam as
medidas de "antidemocráticas" e
preocupam-se com a manutenção do sistema após os Jogos.
Para o presidente do Comitê
Olímpico Internacional, o belga
Jacques Rogge, o sistema se mostrou satisfatório. Até ontem, o
maior problema de segurança foi
a prisão de um grego que tentou
embarcar em vôo doméstico com
uma pistola na bagagem de mão.
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