São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atenas, cidade grampeada

Megaesquema da 1ª Olimpíada pós-11 de Setembro inclui quebra de sigilo telefônico da população

FÁBIO SEIXAS
MARCELO DIEGO
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS

Andar por Atenas e ter a sensação de estar sendo vigiado não é paranóia. É realidade. Câmeras com alto poder de resolução, incluindo recurso infravermelho, e microfones se espalham pela cidade, no maior esquema de segurança da história dos Jogos.
O sistema de vigilância eletrônica na sede da Olimpíada foge do convencional -monitoramento de tráfego, por exemplo. As 1.600 câmeras instaladas por toda parte são dotadas de sistema que acusa mudanças bruscas no cenário e alerta a polícia imediatamente.
As conversas também podem ser captadas por cerca de 600 microfones. O equipamento é tão preciso que distingue disparos de estouros de pneu.
O governo grego se outorgou mais poder de vigilância e quebrará o sigilo de toda a telefonia (fixa e móvel) no período de duração do evento -13 a 29 de agosto.
"É a primeira vez que esse tipo de rede é utilizado em tal escala para um evento internacional", declarou à Folha o porta-voz da polícia grega, Lofteris Ikonomou.
Lembra o "Big Brother" (em inglês, Grande Irmão), que controlava a vida das pessoas no célebre livro de George Orwell e que batizou o "reality show" da TV.
Não é só. Pelo alto, um dirigível sobrevoa a cidade, também captando imagens transmitidas para o centro de segurança de Atenas.
O sistema foi desenvolvido por um consórcio de empresas lideradas pela norte-americana Saic, que recebeu US$ 312 milhões, parte de um orçamento de US$ 1,5 bilhão desembolsado em segurança. Em Sydney-2000, o setor recebeu US$ 500 milhões.
Atenas-2004 será a primeira Olimpíada depois do atentado de 11 de setembro de 2001. Para evitar ameaças, são utilizadas até lanchas e helicópteros, numa operação que envolve 78 mil homens e forças de outros países.
As imagens captadas pelo "Big Brother Atenas" serão mantidas por sete dias. "Isso permite comparar dados e partes diferentes da cidade e fazer análises mais profundas", disse Ikonomou.
O esquema começou a funcionar integralmente no dia 1º, segundo o Ministério da Ordem Pública. O sistema total de segurança, que prevê medidas para 200 casos diferentes de emergência, passa a vigorar hoje, quando Atenas estará de fato sitiada.
Mas há quem se incomode com tanta vigilância. Um grupo ativista dos direitos civis entrou com uma ação contestando a legalidade da captação de imagens do dirigível. Querem que o aparelho, de 60 m de comprimento, fique no chão. Uma decisão da Justiça, porém, é considerada improvável até o término da Olimpíada.
Para Theodoros Roussopoulos, porta-voz do governo, a sociedade civil aprovou as medidas de segurança. "Não estamos violando nenhuma lei ou a Constituição", disse. "O dirigível irá operar durante 15 horas por dia", afirmou.
Incomodados com a invasão de privacidade, atenienses picharam câmeras pela cidade. Em carta ao Parlamento, seis grupos de proteção aos direitos civis chamam as medidas de "antidemocráticas" e preocupam-se com a manutenção do sistema após os Jogos.
Para o presidente do Comitê Olímpico Internacional, o belga Jacques Rogge, o sistema se mostrou satisfatório. Até ontem, o maior problema de segurança foi a prisão de um grego que tentou embarcar em vôo doméstico com uma pistola na bagagem de mão.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Saiba mais: País consultou Otan e Israel para enfrentar terror
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.