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JUCA KFOURI
País do mensalão e da Timemania
O Brasil não só não pune os que prevaricam como, agora, deu para premiá-los nas urnas e nos cofres
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O FUTEBOL brasileiro está em
festa. A Timemania está, enfim, aprovada.
A cartolagem caloteira acaba de
ser premiada com uma loteria.
Caloteira sim, mas não só.
Também contumaz em apropriação indébita, por recolher de seus
funcionários os tributos trabalhistas
e não depositá-los onde de direito, o
que é crime.
Daqui a alguns dias, nas eleições,
os políticos brasileiros também festejarão, porque muitos dos seus representantes envolvidos em mensalões e sanguessugas serão reeleitos.
E, como se eleição fosse tribunal, se
considerarão absolvidos pelo voto.
Alguns nem serão, é verdade, mas
pleitearão, com grande chance de
sucesso, voltar a um ministério, por
exemplo, como o ex-ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, cuja grande
contribuição foi exatamente a de ter
criado a Timemania, o mensalão do
futebol, mesada que amortizará as
dívidas atuais e abrirá as portas para
as que ainda estão por vir.
Sem castigo, com perdão, ou melhor, com prêmio, como ganhar na
loteria. Motivo mesmo para festa,
aval para continuar a vampirizar os
clubes cada vez mais débeis.
Cartolas com vida pregressa decente até reclamam das generalizações que os misturam no mesmo saco sob a alcunha de cartolagem. E
protestam em meio à festa surrealista da Timemania que apoiaram.
Não deixam de ter certa razão, como não deixam de votar nos mesmos na CBF e nas federações, com o
que, desculpe, passam a merecer a
generalização que os indigna.
O futebol brasileiro está em festa.
A seleção deu um baile na Argentina e recompôs seu amor próprio.
A festa é tamanha pelo bom desempenho no amistoso londrino
que não faltam as vozes sensatas que
pedem menos oba-oba e ufanismo,
também com certa razão.
Se bem que, aí, dá até para ponderar:
Por que não se pode curtir cada
boa vitória por si mesma? Por que o
objetivo é a Copa do Mundo, a cada
quatro anos? Quem disse que a Copa
do Mundo é tudo? Ainda mais essas
últimas que temos visto, onde cada
jogo é mais tortura que espetáculo?
A perda da Copa do Mundo na
Alemanha elimina a alegria das conquistas da Copa América e da Copa
das Confederações, nas circunstâncias em que se deram? Quer saber?
Dane-se a Copa do Mundo! Carpe
diem (aproveite o dia), como se diz,
com sabedoria.
Ainda mais em tempos tão sombrios, violentos e irracionais.
Veja o clássico de hoje entre São
Paulo e Corinthians.
Quem irá ao Morumbi?
Somente os temerários, porque
os responsáveis terão medo, dado o
clima de provocações, estimulado
por cartolas levianos, por jogadores
inconscientes e por uma certa
imprensa inescrupulosa, que bota
pilha no ressentimento que fez
inimigos os que antes eram apenas
adversários.
Prova disso viu-se no último clássico, entre Santos e Palmeiras, que
tinha menos gente que no jogo, de
uma torcida só e em horário pior e
com times piores, entre Corinthians
e Ponte Preta.
Exatos 30 anos atrás, Francisco
Horta, presidente do Fluminense,
provocou a torcida corintiana. Queria ver se ela era fiel mesmo e a desafiou a ir ao Maracanã para a semifinal do Campeonato Brasileiro. Estimulou-a pelo positivo, e nada menos do que 70 mil alvinegros transformaram a via Dutra na Avenida
Timão, para dividir o Maracanã com
os tricolores.
O país de então não era melhor
que o de hoje, sob ditadura militar,
mensalões escondidos pela censura
à imprensa e, em vez da Timemania,
a Loteria Esportiva é que era a panacéia, revelada, em 1982, também como corrompida.
Festejemos, pois.
blogdojuca@uol.com.br
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