São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Tudo certo, tudo errado

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

É difícil entender a cabeça dos técnicos de futebol. De todos eles.
Até quando acertam, erram.
Eles dirão que é difícil entender a cabeça dos jornalistas.
Que nunca estão satisfeitos.
Antônio Lopes, por exemplo.
Fez quase tudo certo na fácil vitória corintiana no sábado diante do Fortaleza. Fez Hugo jogar como se fosse Gustavo Nery e Carlos Alberto, como se fosse Carlitos Tevez. Mas preferiu Bruno Otávio a Fabrício.
Emerson Leão também.
Reergueu o Palmeiras, elegeu Marcinho Guerreiro e esse, ao lado de Marcinho Boleiro, conduziu o time ao triunfo fundamental contra o Botafogo.
Mas escolhe Diego Souza e deixa Pedrinho no banco.
Como Carlos Alberto Parreira, que acertou ao poupar os titulares da altitude de La Paz -e, ao contrário de Márcio Bittencourt, quando fez o mesmo com o Corinthians diante do River Plate, não sofreu nenhuma crítica por isso na transmissão da TV Globo.
Só que prefere o bom Ricardinho a Alex, o mágico, e nem convocou o outro Alex, um senhor zagueiro.
Até Telê Santana tinha suas idiossincrasias. Emerson Leão que o diga.
Já os cartolas erram até quando acertam. Alberto Dualib é um caso gritante.
Que o torcedor corintiano está feliz com a parceria com a MSI é óbvio. E ele foi o maior responsável, para o bem e para o mal.
O time é líder do Brasileiro, tem levado muita gente aos estádios e poucos querem saber da origem do dinheiro responsável pela proximidade do tetracampeonato.
Enciumado, no entanto, com o prestígio do parceiro, Dualib faz de tudo para atrapalhar.
Essa história da auditoria beira ao ridículo diante da longa experiência do presidente alvinegro. Como se os investidores não soubessem bem o que estão fazendo e quem é quem na parceria.
E Dualib se cerca do que há de pior, desde o vice Nesi Curi, manda-chuva corintiano durante quase a metade do tempo de jejum de títulos entre 1954 e 1997 (e responsável pela montagem do time que ficou famoso como "faz-me rir"), até os pequenos -em todos os sentidos- meliantes que o assessoram, depois de malsucedidos na tentativa de se aproximar dos donos do dinheiro.
Até nisso Kia Joorabchian é mais competente que Dualib.
Agora, quando os cartolas erram sem acertar, erram para valer. É o caso de Marcelo Teixeira, do Santos, que trocou Gallo por Nelsinho Baptista.
Por mais que o novo técnico possa vir a dar certo no futuro, o efeito imediato que se pretendia já saiu pela culatra e, impossível garantir, provavelmente Gallo teria conduzido o time a ganhar mais do que os quatro pontos dos últimos nove disputados diante do Fortaleza e do São Caetano, na Vila, e do Juventude, fora. Porque Gallo tinha o grupo com ele.

Em La Paz
Foi como se esperava. Apesar da horrorosa seleção boliviana, a altitude acabou por jogar, principalmente no segundo tempo. E o empate acabou por ficar de bom tamanho. Analisar a atuação dos brasileiros seria impiedoso, por mais que Cicinho, Juninho, Ricardinho e Robinho tenham se destacado. Mas os que foram mal têm, ao menos desta vez, mais uma desculpa, uma ótima justificativa. Um dia, quando o mundo for mais civilizado, alguém decidirá que não é humano exigir que atletas que vivem ao nível do mar joguem em altitudes superiores a dois mil metros. Que dirá a 3.600, como em La Paz. Principalmente porque todos os países que têm cidades pertinho do céu têm, também, cidades ao nível do mar.

blogdojuca@uol.com.br

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