São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

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A casa da Fifa

Para ter final da Copa em seu estádio, Rio engole novo desenho para o Maracanã e disparada nos custos

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Nenhuma restrição orçamentária, nenhuma flexibilidade no modelo das instalações, quase nenhuma liberdade arquitetônica no desenho. Foram essas as condições da Fifa e do COL (Comitê Organizador Local) para manter o Maracanã como palco da final da Copa-2014.
Sem a aprovação do novo projeto do estádio, imposto por eles, a decisão não ocorreria no estádio, segundo disse à Folha o presidente da Emop (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro), Ícaro Moreno Júnior, responsável pela reforma.
Resultado: a obra custará R$ 705 milhões. Isso representa um aumento de 64% em relação à previsão inicial porque há demolição da maioria dos assentos atuais.
A pressão da Fifa foi intensificada em 2009, quando o orçamento era de R$ 430 milhões. E alcançou o auge em abril e maio deste ano, quando foi imposto o plano atual.
Pelo projeto aprovado, as partes laterais das arquibancadas superiores e todo o setor inferior serão demolidos.
O objetivo é melhorar a visão que o espectadores tem do campo e acabar com pontos cegos. O torcedor era prejudicado pela baixa inclinação das cadeiras inferiores. A exigência da Fifa de placas publicitárias mais perto do campo (5 m) e maiores (1 m) agravou mais o quadro.
Os novos setores, inferiores e superiores, ficarão mais próximos do gramado.
"Todas as modificações foram exigências da Fifa. Se você falar assim, vocês não criaram nada? Na verdade, não criamos nada. Tivemos que adaptar o Maracanã dentro das exigências que eles fizeram. Adaptamos dentro da geometria [deles]. A inclinação, a geometria", afirmou Moreno Júnior, que classifica como pouca a liberdade arquitetônica do projeto.
Pelas plantas, fica claro que o maior foco das mudanças é agradar aos torcedores VIPs e que compram caros pacotes de parceiros da Fifa (hospitalidade). São eles que ocuparão as áreas laterais inferiores do Maracanã.
Para os torcedores atrás do gol, o ganho é menor -há alguns que terão visão fora do padrão ideal da entidade.
A Fifa também impôs a localização de vestiários, a da zona mista e até os tamanhos dos chuveiros dos árbitros.
"O vestiário é esse, a inclinação é essa, a cobertura é essa. Então, não dão liberdade porque é uma especificação técnica. Agora, fechadura, eu posso botar uma luxuosa ou posso botar outra", explicou Moreno Júnior, que também diz que o Estado pode escolher as "cores".
O tipo de cobertura também foi determinado pelo Estado. Com custo de R$ 100 milhões, é formado pelo material PTFE, espécie de lona para preserva o tombamento da fachada. "É um sanduíche de fibra de vidro, com teflon e PVC", explicou o diretor da Emop, José Carlos Pinto.
O fabricante dá garantia de 15 anos, mas Pinto diz que há estádios que mantêm a cobertura por 40 anos. Foram usados na África do Sul, na Cidade do Cabo e em Durban.
Segundo Moreno Júnior, o governador Sérgio Cabral mandou "atender a todas as exigências da Fifa", gastando o mínimo possível.
Nunca houve, entretanto, questionamento às ordens. E o mínimo da Fifa encareceu a obra na arena em dois terços.


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