São Paulo, terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Brasil pode ficar sem antidoping

Único laboratório do país credenciado pela agência internacional será avaliado pela primeira vez

Funcionários precisam até esconder material que será usado em testes para entrar em território nacional sem passar pelas fiscalizações

JOSÉ EDUARDO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de comemoração dos dez anos da criação da Agência Mundial Antidoping (Wada) e na expectativa de realizar a Copa do Mundo e a Olimpíada, o Brasil corre o risco de perder o seu único laboratório credenciado para a realização de testes antidoping.
Com a chancela do Comitê Olímpico Internacional desde 2002, o Ladetec será inspecionado por uma comissão da Wada pela primeira vez na próxima semana, no Rio de Janeiro.
"Eles estarão aqui para ver os problemas que temos. É quase que o começo do descredenciamento do laboratório", afirmou Eduardo De Rose, da área de controle de doping do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e membro da Wada.
Para ser credenciado pela agência, o laboratório também é testado periodicamente.
A cada três meses, amostras de urina são enviadas à instituição, que deve retornar com um prognóstico correto.
"O problema é que as urinas são paradas [ao entrar no país] pela Anvisa. Demora uma ou duas semanas para o laboratório conseguir retirar esse material. E aí as urinas não estão mais adequadas para se fazer o exame", explicou De Rose.
Segundo a direção do Ladetec, não são apenas urinas dos testes da Wada que são retidas pelas autoridades na chegada.
"Quando tem um jogo no Uruguai, eles fazem algo interessante: quando termina a partida, a pessoa viaja ao Brasil de avião com as urinas em sua bagagem. Mas é irregular fazer isso", afirmou De Rose.
Outro problema é para manter o equipamento funcionando de maneira correta. As máquinas do Ladetec precisam ter um primeiro contato com as substâncias proibidas pela Wada antes de fazer os exames.
"Para evitar problemas, por exemplo, para testar cocaína, ele [funcionário do Ladetec] traz da Espanha as urinas já com essa substância. Mas qualquer hora vão prender alguém no aeroporto", disse o médico.
A direção da Anvisa fala em acordo e acredita que em breve a situação possa ser resolvida.
"Realmente, já tivemos problemas. Mas precisamos avaliar todo material [que entra no país] para não colocarmos a população em risco. Pretendemos fazer um procedimento diferenciado com o COB e o Ladetec", disse Solange Coelho, gerente de inspeção de produtos fronteiras da Anvisa.
O coordenador do Ladetec, Francisco Radler, reconhece que hoje o laboratório não teria condições para atender à demanda dos Jogos Olímpicos.
"Fazemos em torno de 4,5 mil amostras por ano. Na Olimpíada esse número deve chegar a oito mil em duas semanas. Teríamos que ter um apoio extra, que até agora não apareceu. Por isso, vivemos nesta situação extrema", lamentou Radler.
Para ser credenciado pela Wada, um laboratório precisa de cerca de US$ 5 milhões em equipamentos e um nível aprovado pela Iso (sistema internacional para avaliar os laboratórios). Hoje, 35 laboratórios em 32 dois países são credenciados oficialmente pela agência.


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