|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil pode ficar sem antidoping
Único laboratório do país credenciado pela agência internacional será avaliado pela primeira vez
Funcionários precisam até esconder material que será usado em testes para entrar em território nacional sem passar pelas fiscalizações
JOSÉ EDUARDO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempos de comemoração
dos dez anos da criação da
Agência Mundial Antidoping
(Wada) e na expectativa de realizar a Copa do Mundo e a
Olimpíada, o Brasil corre o risco de perder o seu único laboratório credenciado para a realização de testes antidoping.
Com a chancela do Comitê
Olímpico Internacional desde
2002, o Ladetec será inspecionado por uma comissão da Wada pela primeira vez na próxima semana, no Rio de Janeiro.
"Eles estarão aqui para ver os
problemas que temos. É quase
que o começo do descredenciamento do laboratório", afirmou
Eduardo De Rose, da área de
controle de doping do COB
(Comitê Olímpico Brasileiro) e
membro da Wada.
Para ser credenciado pela
agência, o laboratório também
é testado periodicamente.
A cada três meses, amostras
de urina são enviadas à instituição, que deve retornar com um
prognóstico correto.
"O problema é que as urinas
são paradas [ao entrar no país]
pela Anvisa. Demora uma ou
duas semanas para o laboratório conseguir retirar esse material. E aí as urinas não estão
mais adequadas para se fazer o
exame", explicou De Rose.
Segundo a direção do Ladetec, não são apenas urinas dos
testes da Wada que são retidas
pelas autoridades na chegada.
"Quando tem um jogo no
Uruguai, eles fazem algo interessante: quando termina a
partida, a pessoa viaja ao Brasil
de avião com as urinas em sua
bagagem. Mas é irregular fazer
isso", afirmou De Rose.
Outro problema é para manter o equipamento funcionando de maneira correta. As máquinas do Ladetec precisam ter
um primeiro contato com as
substâncias proibidas pela Wada antes de fazer os exames.
"Para evitar problemas, por
exemplo, para testar cocaína,
ele [funcionário do Ladetec]
traz da Espanha as urinas já
com essa substância. Mas qualquer hora vão prender alguém
no aeroporto", disse o médico.
A direção da Anvisa fala em
acordo e acredita que em breve
a situação possa ser resolvida.
"Realmente, já tivemos problemas. Mas precisamos avaliar todo material [que entra no
país] para não colocarmos a população em risco. Pretendemos
fazer um procedimento diferenciado com o COB e o Ladetec", disse Solange Coelho, gerente de inspeção de produtos
fronteiras da Anvisa.
O coordenador do Ladetec,
Francisco Radler, reconhece
que hoje o laboratório não teria
condições para atender à demanda dos Jogos Olímpicos.
"Fazemos em torno de 4,5
mil amostras por ano. Na Olimpíada esse número deve chegar
a oito mil em duas semanas. Teríamos que ter um apoio extra,
que até agora não apareceu. Por
isso, vivemos nesta situação extrema", lamentou Radler.
Para ser credenciado pela
Wada, um laboratório precisa
de cerca de US$ 5 milhões em
equipamentos e um nível aprovado pela Iso (sistema internacional para avaliar os laboratórios). Hoje, 35 laboratórios em
32 dois países são credenciados
oficialmente pela agência.
Texto Anterior: Atlético-MG: Éder Luís se desculpa por derrota em casa Próximo Texto: Agência pretende aumentar exames fora de competição Índice
|