|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Terminologia no futebol
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Toda profissão, ciência ou
arte tem seus conceitos, modismos, clichês, terminologia, verdades e mentiras.
No futebol, alguns termos são
fundamentais para compreensão,
difusão de informações e ensino.
Outros são confusos e tornam-se
ultrapassados com o tempo.
Existe uma idéia de que o Brasil
é o país do futebol e que todos gostam e entendem profundamente
os detalhes técnicos do esporte. De
médico, louco e técnico de futebol,
todo mundo tem um pouco.
Na verdade, a maioria das pessoas só assiste às grandes partidas, como as decisões de campeonatos e, principalmente, da Copa
do Mundo. Aí, todos vestem a camisa amarela e saem para as
ruas, para chorar de alegria ou
tristeza. Esses eventuais torcedores, principalmente crianças e
mulheres, gostariam de compreender mais a terminologia e os
detalhes técnicos. Se isso acontecesse, tornariam-se adeptos permanentes do esporte. Difícil gostar do que não se entende.
Nós, profissionais do esporte,
deveríamos ser mais claros ou, pelo menos, evitar os chavões e as
expressões ultrapassadas e de difícil compreensão.
O futebol mudou.
Por que o zagueiro direito é até
hoje chamado de central e o esquerdo, de quarto zagueiro? O
menino que está começando a entender o futebol fica perdido. O
pai também. "Bem que eu desconfiava que você não entende de
futebol" vai dizer o filho ao pai.
Como sou cronista esportivo, tenho, no mínimo, obrigação de saber um pouco mais. Contam que,
na década de 40, jogava-se com
três zagueiros: dois pelas laterais e
um central. Depois, recuaram um
médio (armador) para a zaga. Esse tornou-se o quarto zagueiro.
Havia um centromédio, um
médio direito e um esquerdo. O
centromédio era o organizador e
o jogador mais lúcido e de melhor
passe na equipe. Transformou-se
no armador defensivo (volante) e
ofensivo. São raros os que fazem
dupla função. É um dos grandes
problemas do futebol brasileiro.
O armador ofensivo corresponde ao antigo meia, nome ainda
muito falado nas transmissões.
Havia meia-direita e meia-esquerda.
Os alas são confundidos com os
laterais, que têm a função principal de marcar, fazer a cobertura
dos zagueiros e, depois, avançar.
Ficaram sobrecarregados. O ala é
um armador pelo flanco. Não é
um lateral. O ala marca mais na
frente. Só existe o ala no sistema
com três zagueiros (um na sobra),
pouco adotado no Brasil.
Muitos confundem o líbero com
o zagueiro de sobra. São diferentes. O líbero, além de fazer a cobertura de outros zagueiros,
transforma-se num armador
quando sua equipe está com a
posse de bola. São raros.
Ainda hoje, fala-se muito no
ponta-de-lança. Era um dos atacantes que recuava, organizava
as jogadas e aparecia na frente
para fazer o gol. Não tinha compromisso com a marcação.
Os grandes craques da história
do futebol mundial eram pontas-de-lança: Pelé, Zico, Di Stéfano,
Maradona, Cruyff, Platini e muitos outros maravilharam o mundo.
O ponta-de-lança parece (mas
não é) com o atual jogador de ligação entre o meio-campo e o
ataque. Este é um armador que
ataca. O ponta-de-lança era o
atacante que recuava. Depois,
lançava-se como uma flecha em
direção ao gol.
Os grandes pontas-de-lança da
história, como Pelé, jogariam hoje
de atacantes ou na ligação entre o
meio-campo com o ataque? Seriam craques nas duas posições.
Certamente, os técnicos atuais escalariam esses gênios no ataque,
já que exigem dos armadores a
participação na marcação.
O centroavante era o jogador de
frente, fixo pelo meio. Havia um
ponta de cada lado, que driblava
e cruzava para o centroavante fazer o gol. Hoje, na maioria das
equipes, a função dos pontas é feita pelos laterais ou alas. Grande
parte deles não sabe driblar, cruzar ou passar. Só correm.
Há alguns anos, técnicos fascinados pela modernidade decretaram o fim dos tradicionais centroavantes. Como eram dois atacantes, ambos tinham a função
de ocupar todos os espaços do
ataque. Não apenas a posição
central.
Há pouco tempo, o verdadeiro e
antigo centroavante renasceu. Na
trilha do Romário, o maior de todos, voltaram a ser valorizados.
Numa equipe, são necessários os
polivalentes e os especialistas.
Quem já acompanhou o desenvolvimento de uma criança sabe
como elas ficam surpresas e curiosas com a multiplicidade de significados da palavra em nossa língua. Isso estimula o raciocínio e a
criatividade.
Por outro lado, as palavras no
futebol brasileiro poderiam ser
mais informativas e diretas. Em
Portugal, por exemplo, goleiro é
guardião das redes. Escanteio é
pontapé de canto. Nada mais claro e explicativo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Senadores querem contar com ajuda de Tuma Próximo Texto: Vôlei: Clubes investem no esporte, mas torcida é órfã na Superliga Índice
|