São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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FUTEBOL
Terminologia no futebol

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Toda profissão, ciência ou arte tem seus conceitos, modismos, clichês, terminologia, verdades e mentiras.
No futebol, alguns termos são fundamentais para compreensão, difusão de informações e ensino. Outros são confusos e tornam-se ultrapassados com o tempo.
Existe uma idéia de que o Brasil é o país do futebol e que todos gostam e entendem profundamente os detalhes técnicos do esporte. De médico, louco e técnico de futebol, todo mundo tem um pouco.
Na verdade, a maioria das pessoas só assiste às grandes partidas, como as decisões de campeonatos e, principalmente, da Copa do Mundo. Aí, todos vestem a camisa amarela e saem para as ruas, para chorar de alegria ou tristeza. Esses eventuais torcedores, principalmente crianças e mulheres, gostariam de compreender mais a terminologia e os detalhes técnicos. Se isso acontecesse, tornariam-se adeptos permanentes do esporte. Difícil gostar do que não se entende.
Nós, profissionais do esporte, deveríamos ser mais claros ou, pelo menos, evitar os chavões e as expressões ultrapassadas e de difícil compreensão.
O futebol mudou.
Por que o zagueiro direito é até hoje chamado de central e o esquerdo, de quarto zagueiro? O menino que está começando a entender o futebol fica perdido. O pai também. "Bem que eu desconfiava que você não entende de futebol" vai dizer o filho ao pai.
Como sou cronista esportivo, tenho, no mínimo, obrigação de saber um pouco mais. Contam que, na década de 40, jogava-se com três zagueiros: dois pelas laterais e um central. Depois, recuaram um médio (armador) para a zaga. Esse tornou-se o quarto zagueiro.
Havia um centromédio, um médio direito e um esquerdo. O centromédio era o organizador e o jogador mais lúcido e de melhor passe na equipe. Transformou-se no armador defensivo (volante) e ofensivo. São raros os que fazem dupla função. É um dos grandes problemas do futebol brasileiro.
O armador ofensivo corresponde ao antigo meia, nome ainda muito falado nas transmissões. Havia meia-direita e meia-esquerda.
Os alas são confundidos com os laterais, que têm a função principal de marcar, fazer a cobertura dos zagueiros e, depois, avançar. Ficaram sobrecarregados. O ala é um armador pelo flanco. Não é um lateral. O ala marca mais na frente. Só existe o ala no sistema com três zagueiros (um na sobra), pouco adotado no Brasil.
Muitos confundem o líbero com o zagueiro de sobra. São diferentes. O líbero, além de fazer a cobertura de outros zagueiros, transforma-se num armador quando sua equipe está com a posse de bola. São raros.
Ainda hoje, fala-se muito no ponta-de-lança. Era um dos atacantes que recuava, organizava as jogadas e aparecia na frente para fazer o gol. Não tinha compromisso com a marcação.
Os grandes craques da história do futebol mundial eram pontas-de-lança: Pelé, Zico, Di Stéfano, Maradona, Cruyff, Platini e muitos outros maravilharam o mundo.
O ponta-de-lança parece (mas não é) com o atual jogador de ligação entre o meio-campo e o ataque. Este é um armador que ataca. O ponta-de-lança era o atacante que recuava. Depois, lançava-se como uma flecha em direção ao gol.
Os grandes pontas-de-lança da história, como Pelé, jogariam hoje de atacantes ou na ligação entre o meio-campo com o ataque? Seriam craques nas duas posições. Certamente, os técnicos atuais escalariam esses gênios no ataque, já que exigem dos armadores a participação na marcação.
O centroavante era o jogador de frente, fixo pelo meio. Havia um ponta de cada lado, que driblava e cruzava para o centroavante fazer o gol. Hoje, na maioria das equipes, a função dos pontas é feita pelos laterais ou alas. Grande parte deles não sabe driblar, cruzar ou passar. Só correm.
Há alguns anos, técnicos fascinados pela modernidade decretaram o fim dos tradicionais centroavantes. Como eram dois atacantes, ambos tinham a função de ocupar todos os espaços do ataque. Não apenas a posição central.
Há pouco tempo, o verdadeiro e antigo centroavante renasceu. Na trilha do Romário, o maior de todos, voltaram a ser valorizados. Numa equipe, são necessários os polivalentes e os especialistas.
Quem já acompanhou o desenvolvimento de uma criança sabe como elas ficam surpresas e curiosas com a multiplicidade de significados da palavra em nossa língua. Isso estimula o raciocínio e a criatividade.
Por outro lado, as palavras no futebol brasileiro poderiam ser mais informativas e diretas. Em Portugal, por exemplo, goleiro é guardião das redes. Escanteio é pontapé de canto. Nada mais claro e explicativo.

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