São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2006

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TOSTÃO

Faltou coragem


É estranho que nenhuma seleção tenha repetido na Copa o estilo do Barcelona, o time mais eficiente e ousado


NO TERCEIRO encontro internacional dos treinadores de futebol no Rio, assisti a várias palestras pela televisão, muitos falaram da tendência mundial de jogar com apenas um atacante fixo, como ocorreu na Copa do Mundo e no Brasileiro. Dependendo do time ter dois ou três zagueiros, esse esquema é chamado de 4-5-1 ou 3-6-1.
Na sua palestra, Antônio Lopes, talvez para ser mais didático, colocou times e seleções diferentes como se fossem iguais. É preciso separar a maneira de jogar da França, da Itália e de outras seleções que jogaram com duas linhas de quatro e mais um meia livre (Zidane na França e Totti na Itália) próximo de um único atacante (4-4-1-1), da seleção de Portugal e de outros times, como o Grêmio, que atuam com dois volantes, uma linha de três meias que defendem e atacam e mais um atacante (4-2-3-1).
Muito mais importante do que os números é a presença de meias com características de atacante, como Cristiano Ronaldo, de Portugal, que também recuam para marcar. Eles são diferentes dos meias, jogadores de meio-campo, que passam a maior parte do jogo ao lado dos volantes e que chegam pouco ao ataque, como foi mais comum no Mundial.
Pelo fato de o Barcelona ter apenas um atacante fixo (Eto'o ou Gudjohnsen), Antônio Lopes colocou também o Barcelona no mesmo esquema da Itália e da França. Nada a ver. O time catalão joga com apenas um volante, dois armadores que atacam e defendem e uma linha de três atacantes.
Por ser muito veloz e aplicado, o atacante pela direita (o francês Giuly) consegue avançar e ainda correr atrás do lateral adversário durante toda a partida. Já Ronaldinho, pela esquerda, diferentemente do que quer Dunga, recua somente até a linha do meio-campo para receber a bola e iniciar o contra-ataque.
O técnico Frank Rijkaard, com razão, sabe que é melhor para o time e para Ronaldinho deixar o atacante mais livre, descansado, para criar suas espetaculares jogadas ofensivas do que obrigá-lo a recuar e marcar no próprio campo. Isso iria desgastá-lo.
O conceito moderno de que todos os jogadores têm de marcar é correto, mas há exceções, a não ser em momentos especiais. O Barcelona, diferentemente do que fizeram todas as seleções no Mundial da Alemanha, que recuam para marcar no próprio campo, costuma tomar a bola no campo do adversário. Isso é muito mais importante do que o número de atacantes na avaliação se uma equipe é mais ou menos ofensiva.
Um dos melhores momentos do encontro dos treinadores foi quando Evaristo, que não precisa mais ser convencional, corporativista nem politicamente correto, contrariando as opiniões dos colegas presentes, disse que o nível técnico da Copa foi fraco, que ninguém quis arriscar e que nenhuma seleção jogou como o Barcelona.
Cada equipe pode ter a sua maneira de jogar de acordo com as convicções do técnico e com as características dos jogadores, mas é estranho que nenhuma seleção tenha repetido o estilo do Barcelona, o time mais eficiente, fascinante e ousado dos últimos dois anos. Só pode ter sido por falta de coragem dos treinadores. Mas o Internacional não precisa ficar assustado. Além da enorme falta que faz Eto'o, o Barcelona não tem jogado com a mesma velocidade nem tem marcado por pressão durante a maior parte da partida, como fazia.
O Barcelona é melhor do que o América do México e o Internacional, mas não será surpresa uma vitória do Inter ou do América, já que os dois não são tão inferiores ao time espanhol e tudo pode acontecer em um único jogo.

tostao.folha@uol.com.br


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