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BASQUETE
A pedra filosofal
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Quantos arremessos você espera dar por partida? Quantos de três pontos? Quantos rebotes você imagina que vá capturar?
O questionário, que relaciona
várias estatísticas de jogo, aguarda a nova seleção brasileira.
Espécie de guia "você tem fome
de quê?", ele foi aplicado por Lula
Ferreira logo no começo de seu
trabalho no Ribeirão Preto, atual
bicampeão paulista.
É uma das novidades que o recém-nomeado técnico levará para o desafio da vaga olímpica.
Ao medir a "voluntariedade",
as respostas ajudariam a traçar
um perfil psicológico dos atletas, a
antecipar eventuais rusgas no
elenco, a enquadrar aspirações
pessoais na desejada dinâmica de
jogo e, principalmente, a fazer o
time jogar por uma causa.
Lula gosta de trabalhar assim,
com relatórios cruzados e números, na elaboração do plano de
vôo de suas equipes. A presença,
como seu assistente, de Flávio Davis, conhecido homem das pranchetas, só deverá assanhar essa
vocação na seleção brasileira.
Tanto que, em bate-papo na
madrugada de sábado, em plena
ressaca do jogo que custou ao Ribeirão Preto a fantástica invencibilidade de 43 rodadas, o técnico
usou um raciocínio estatístico para definir a filosofia que pretende
implantar. "Ela é toda baseada
em dados do Mundial. Não discutimos coisas aleatórias."
Lula partiu da média de posses
de bola do Brasil em Indianápolis, 110, para lançar as projeções
para o time que vai ao Pré-Olímpico: 10 bolas perdidas ("turnovers"), 25 faltas sofridas (e 25 lances livres como resultado disso),
25 tiros de três pontos e 50 de dois
pontos. Estipulou também a meta
de 20 chutes em contra-ataques
-bandejas ou outras ações com
superioridade numérica.
A fórmula embute potencial de
200 pontos, 25 a mais do que no
Mundial. Para pagar a conta do
ganho de volume, Lula quer 25%
mais tentativas de três pontos e
25% menos "turnovers".
É natural que, aqui, o leitor iniciado torça o nariz.
Como investir nos tiros de longa
distância se há tempos este fundamento não é mais uma reserva
técnica do basquete brasileiro? A
seleção não registrou pontaria de
39% em Indianápolis? E não é
verdade que, na brilhante conquista do último Estadual, o
aproveitamento do Ribeirão Preto não passou de 37%? Há, entre
os convocáveis, alguém, além de
Marcelinho, que possua técnica
-e cacoete- para proporcionar
salto tão ambicioso?
Como garantir menos erros no
trabalho de bola se até Hélio Rubens concorda que está na hora
de promover novos armadores na
seleção? Não sabem que Valtinho,
Leandrinho, Arnaldinho e os outros inhos não têm experiência internacional? Que, por conta disso,
são fadados a fazer bobagens
num primeiro momento? E não é
uma ilusão achar que os "turnovers" vão diminuir se, ao mesmo
tempo, há a intenção de "dar no
fígado" do oponente com mais velocidade na transição de quadra?
Lula se diz otimista. Aposta no
balanço de jogo para assegurar
arremessos de três pontos equilibrados -menos difíceis de converter. Confia na aptidão para a
infiltração dos novos armadores.
Acha que uma seleção "sintonizada" pode vingar. Torçamos.
Mas é bom lembrar que até Arquimedes, gênio da lógica, pai das
fórmulas matemáticas, sabia que,
sem o braço, a alavanca não sobe,
a pedra não se move.
Lula-lá 1
A primeira clínica foi cancelada; as seguintes, enxugadas de 12 para
4 dias. Mas os atropelos de organização não condenam o projeto
Desenvolvimento de Talentos, que decola hoje em Ribeirão Preto.
Lula-lá 2
A Confederação Brasileira já avisou a Lula que a seleção masculina
só não possui técnico exclusivo por falta de dinheiro. "Eu gosto de
planejamento, de parar para pensar", sonha o treinador, que, por
enquanto, precisa parar para pensar em como acomodar as reuniões de sua comissão com os compromissos do Ribeirão Preto.
Lula-lá 3
A seleção ainda não atuou em território nacional neste milênio (jogo-treino não vale!). Preocupado com essa distância, Lula promete
quebrar o jejum. "É preciso contaminar o torcedor, a imprensa e
até os jogadores." Só falta ser em Ribeirão Preto...
E-mail melk@uol.com.br
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