São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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JUCA KFOURI

Ainda sobre o velho Estadual

A entrada na polêmica de um nobre debatedor obriga que a discussão tenha ao menos mais um capítulo

MESTRE ARMANDO Nogueira tomou partido no debate entre esta coluna e a do bom vizinho Torero.
E, para meu desencanto, também engrossou a tropa do vizinho.
E com um argumento da mais pura vizinhança, ele que era pelo fim dos campeonatos estaduais. "O que incendeia corações é a guerra santa entre vizinhos", escreveu.
O que me obriga a voltar ao tema, ainda mais por imaginar o sorriso sarcástico de Torero ao ler o mestre no diário "Lance".
Eu não sou pela extinção dos Estaduais. Quero mais que eles durem a temporada inteira.
Eu sou contra que os clubes grandes participem dos Estaduais. Prefiro vê-los na disputa dos mais interessantes torneios regionais, como o Rio-São Paulo, por exemplo, muito melhor como aperitivo da temporada e para avaliar as condições técnicas de cada time.
E que mantém acesa a rivalidade entre os vizinhos.
E não aceito que esta seja uma posição elitista, porque a defendo em nome da maioria, das grandes massas torcedoras. Poderia até argumentar que elitista é quem defende o São Caetano ou o Barueri, que não existem como fenômenos de massa nem em suas cidades. Mas não vou fazê-lo...
Defendo o direito de São Caetano e Barueri sonharem em ser grandes, como um dia o Santos sonhou e realizou o sonho, nos anos 50.
Mais que grande, virou o melhor de todos, então.
O fato é que os Estaduais hoje em dia rendem aos grandes menos do que os regionais renderiam e não aliviam os pequenos, ao contrário.
Basta ver a situação de penúria de um Botafogo de Ribeirão Preto ou dos times campineiros -embora vivam em regiões ricas.
Porque jogar durante dois meses não os conduzem a nada e dificultam a vida de um Noroeste, por exemplo, que parece disposto a crescer, algo que a riqueza de sua região lhe permite, como permite a tantos outros no interior de São Paulo, como São José dos Campos.
Mas o fato é que, do jeito que as coisas estão, o torcedor interiorano só vai mesmo ao estádio quando sua cidade recebe um grande -e pouca bola dá quando o confronto é com um visitante de seu tamanho.
Defendo um campeonato estadual que estimule as rivalidades interioranas e não obrigue os grandes a manter uma tradição que já fez todo sentido do mundo e hoje não faz mais.
Estaduais que poderiam classificar seu campeão para o Rio-São Paulo, por exemplo. Lembro que o que matou a bela iniciativa dos regionais, como o Campeonato do Nordeste, que estava valendo a redenção de clubes como Bahia, Santa Cruz, Vitória, Sport, Remo, foi o medo das federações estaduais e da CBF em perder espaço e poder diante das ligas formadas -a Liga Rio-São Paulo, a Liga do Nordeste, a Liga Sul-Minas.
E contaram com o apoio da Globo Esportes, não só por interesse estratégico de ficar bem com o status quo como, também, porque um campeonato estadual custa bem mais barato do que uma copa regional, naturalmente mais valorizada porque é de maior alcance.
O torcedor do interior que vê em minha posição uma atitude de desprezo em relação aos "caipiras" se engana redondamente.
Sou filho de pai nascido em Botucatu e passei boa parte da minha infância morando em Taubaté. Só quero ver o futebol do interior forte novamente e estou convencido de que, com o modelo que hoje vigora, ao contrário, a tendência é de asfixia lenta, gradual e segura.
E não se esqueça: o corintiano quer sim, antes de mais nada, ganhar do são-paulino. E é mais vizinho do Flamengo que do Marília.


blogdojuca@uol.com.br

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