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JUCA KFOURI
Ainda sobre o velho Estadual
A entrada na polêmica de
um nobre debatedor obriga que a discussão tenha ao menos mais um capítulo
MESTRE ARMANDO Nogueira
tomou partido no debate
entre esta coluna e a do
bom vizinho Torero.
E, para meu desencanto, também
engrossou a tropa do vizinho.
E com um argumento da mais pura vizinhança, ele que era pelo fim
dos campeonatos estaduais. "O que
incendeia corações é a guerra santa
entre vizinhos", escreveu.
O que me obriga a voltar ao tema,
ainda mais por imaginar o sorriso
sarcástico de Torero ao ler o mestre
no diário "Lance".
Eu não sou pela extinção dos Estaduais. Quero mais que eles durem a
temporada inteira.
Eu sou contra que os clubes grandes participem dos Estaduais.
Prefiro vê-los na disputa dos mais
interessantes torneios regionais, como o Rio-São Paulo, por exemplo,
muito melhor como aperitivo da
temporada e para avaliar as condições técnicas de cada time.
E que mantém acesa a rivalidade
entre os vizinhos.
E não aceito que esta seja uma posição elitista, porque a defendo em
nome da maioria, das grandes massas torcedoras.
Poderia até argumentar que elitista é quem defende o São Caetano ou
o Barueri, que não existem como fenômenos de massa nem em suas cidades. Mas não vou fazê-lo...
Defendo o direito de São Caetano
e Barueri sonharem em ser grandes,
como um dia o Santos sonhou e realizou o sonho, nos anos 50.
Mais que grande, virou o melhor
de todos, então.
O fato é que os Estaduais hoje em
dia rendem aos grandes menos do
que os regionais renderiam e não
aliviam os pequenos, ao contrário.
Basta ver a situação de penúria de
um Botafogo de Ribeirão Preto ou
dos times campineiros -embora vivam em regiões ricas.
Porque jogar durante dois meses
não os conduzem a nada e dificultam a vida de um Noroeste, por
exemplo, que parece disposto a crescer, algo que a riqueza de sua região
lhe permite, como permite a tantos
outros no interior de São Paulo, como São José dos Campos.
Mas o fato é que, do jeito que as
coisas estão, o torcedor interiorano
só vai mesmo ao estádio quando sua
cidade recebe um grande -e pouca
bola dá quando o confronto é com
um visitante de seu tamanho.
Defendo um campeonato estadual que estimule as rivalidades interioranas e não obrigue os grandes
a manter uma tradição que já fez
todo sentido do mundo e hoje não
faz mais.
Estaduais que poderiam classificar seu campeão para o Rio-São
Paulo, por exemplo.
Lembro que o que matou a bela
iniciativa dos regionais, como o
Campeonato do Nordeste, que estava valendo a redenção de clubes como Bahia, Santa Cruz, Vitória,
Sport, Remo, foi o medo das federações estaduais e da CBF em perder
espaço e poder diante das ligas formadas -a Liga Rio-São Paulo, a Liga
do Nordeste, a Liga Sul-Minas.
E contaram com o apoio da Globo
Esportes, não só por interesse estratégico de ficar bem com o status quo
como, também, porque um campeonato estadual custa bem mais barato
do que uma copa regional, naturalmente mais valorizada porque é de
maior alcance.
O torcedor do interior que vê em
minha posição uma atitude de desprezo em relação aos "caipiras" se
engana redondamente.
Sou filho de pai nascido em Botucatu e passei boa parte da minha infância morando em Taubaté.
Só quero ver o futebol do interior
forte novamente e estou convencido
de que, com o modelo que hoje vigora, ao contrário, a tendência é de asfixia lenta, gradual e segura.
E não se esqueça: o corintiano
quer sim, antes de mais nada, ganhar do são-paulino. E é mais vizinho do Flamengo que do Marília.
blogdojuca@uol.com.br
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