São Paulo, quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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JUCA KFOURI

Dunga, o coerente


Você pode achar que não, que ele é teimoso, porque tem compromisso com o erro. Teimoso ou coerente?


SIM, DUNGA foi coerente em sua penúltima convocação antes da Copa do Mundo e cabe ao colunista também tentar ser. Tivesse sido teimoso, o desafio do jornalista seria não cair na armadilha da crítica pela crítica.
Afinal, aqui se disse que seria compreensível a ausência de Ronaldinho Gaúcho e que Dunga trabalha com quem não o decepcionou, independentemente do que você, eu ou o mundo achemos.
Portanto, agiu com coerência.
A obsessão de Dunga é com a vitória. E ele avalia que a uniformidade é o melhor caminho para chegar ao pódio. Sem ruídos.
A novidade está em querer parecer paciente diante das mesmas perguntas de sempre nas entrevistas coletivas, embora não resista a sorrir ironicamente com o canto da boca para seus pares de bancada a cada grande sacada que imagina ter dado.
Dunga tem sido pessoalmente pior do que o trabalho que faz à frente da seleção brasileira e ficará qualquer coisa se trouxer o desejado hexacampeonato mundial.
E seguirá adiante com um time sem pretensão de ser brilhante, mas obcecado pelos resultados, privilegiando os vínculos, as atitudes, o comportamento, e não o talento, muito mais com a cara de Júlio Baptista (de cujo futebol este medíocre colunista também gosta) do que com a de Ronaldinho.
Sim, Dunga aposta mais nos guerreiros, à sua imagem e semelhança, embora, repita-se, tenha sido um belo volante.
O máximo de ousadia que Dunga parece permitir está em alguém como Kaká. Gente diferente, como Anderson, como Pato, como Ganso, como Neymar, como Diego ou Hernanes, é uma demasia para ele, que já conta com Robinho, talvez porque seja também um bom ladrão de bola.
A presença de Doni explica tão bem o grupo de Dunga como a ausência de Ronaldinho.
Mas ele acertou em cheio ao se lembrar de Gilberto, muito mais jogador hoje no Cruzeiro do que era no passado na seleção, provavelmente capaz de vir a ser uma solução na lateral esquerda.
Aliás, Zé Roberto, que está na Alemanha, é outro que poderá ser uma solução por ali, arrependido que está por ter renunciado à seleção.
Porque Kléber, por melhor que esteja no Inter, é dos tais cuja cabeça deixa Dunga desconfiado, e não sem razão, diga-se de passagem.
Trocar Miranda por Thiago Silva foi novo acerto, e a confirmação de Gilberto Silva, Josué e Kleberson está para Doni assim como Ronaldinho Gaúcho está para Hernanes, Anderson e Lucas.
E, se Dunga não nos poupou de mais uma aula de jornalismo em sua entrevista, na qual foi capaz até de falar um conosco depois de uns cinco com nós, eis que se apresentou um novo mestre, o indefectível Américo Faria, que ensinou que devemos sempre indicar alguém para sair do grupo quando apontarmos alguém para entrar nele.
Então, começo eu mesmo: sem indicar ninguém para entrar, proponho que ele saia e nos contemple com o prazer de sua ausência. Até porque uma vez ele já foi embora, ninguém notou, recebeu uma polpuda indenização e reapareceu em seguida, misteriosamente.

blogdojuca@uol.com.br


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