São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise no tênis derruba capitão da Davis e vira caso de polícia

Jaime Oncins deixa o cargo após boicote dos principais tenistas do país, contrários à CBT, que teve sua sede vasculhada por ordem da Justiça

FERNANDO ITOKAZU
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A mais grave crise do tênis nacional derrubou ontem o capitão da equipe brasileira na Copa Davis, Jaime Oncins, e levou a polícia à sede da Confederação Brasileira de Tênis, em São Paulo.
Nomeado no mês passado, Oncins ficou sabendo na manhã de segunda-feira que Gustavo Kuerten não enfrentaria o Paraguai por divergências com a CBT. André Sá, seu atleta, anunciou a mesma decisão à noite. E, ontem, Flávio Saretta noticiou que estava aderindo ao boicote.
"Estou tomando essa decisão porque não concordo com a CBT. Acho que não fomos respeitados e, pela primeira vez, acho que poderemos fazer alguma coisa a favor do tênis brasileiro", afirmou Saretta, 46º do ranking mundial.
Oncins decidiu então também se retirar. "Tenho a consciência tranqüila de que fiz de tudo para levar as coisas por um bom caminho. Se foi um erro, só com o tempo a gente vai saber", disse ele.
Com isso, a menos de um mês do confronto pela segunda rodada do Zonal Americano da Davis, entre os dias 9 e 11 de abril, na Costa do Sauípe, o Brasil está sem capitão e seus principais tenistas.
Além da crise no aspecto técnico -sem Guga e Saretta o Brasil dificilmente vai conseguir voltar à elite da Davis, onde esteve de forma ininterrupta de 1997 a 2003-, a CBT também enfrenta graves problemas nos bastidores.
Ontem, a oposição, que acusa a entidade de simulação de assembléias e falsificação de atas, além da ocultação e manipulação de documentos, obteve uma vitória.
Policiais do 27º DP (Campo Belo), cumprindo mandado de busca e apreensão, recolheram documentos e fizeram cópias de arquivos nos computadores da sede da entidade. O mandado foi expedido pela juíza Ivana David Boriero, do Dipo (Departamento Técnico de Inquéritos Policiais).
Segundo a CBT, foram entregues cópias das atas das assembléias de 2000, 2001 e 2002.
Esses documentos farão parte do inquérito instaurado no 27º DP. O presidente da CBT, Nelson Nastás, o ex-vice-presidente jurídico e atual advogado da CBT, Antonio Jurado Luque, o contador Theo Ferreira de Carvalho e o presidente da Federação Paulista de Tênis, Raul Cilento, são investigados por formação de quadrilha e falsidade ideológica.
A instauração do inquérito atendeu à notícia-crime do presidente da Federação Catarinense de Tênis, Jorge Lacerda Rosa.
Para o dirigente, os atos da CBT contribuem para a "falta de transparência com a parte financeira".
O mandado da juíza Ivana David Boriero determina que o delegado do 27º DP, João Renato Weselowski, encaminhe relatório da visita à CBT ao Ministério Público em até 15 dias. O MP estudará a documentação e pode processar criminalmente os investigados.
Rosa disse ter ficado satisfeito com a busca e a apreensão ter acontecido logo após o anúncio do boicote de Guga. "Não sei [se a desistência de Kuerten] teve influência, mas as autoridades começam a ver as irregularidades."
Ele afirmou que pretende tentar marcar uma assembléia geral extraordinária para destituir Nastás.
Seu objetivo é formar uma junta diretiva para a disputa da Davis e, "após dois ou três meses", eleger uma nova administração.
Além do ataque da oposição, a CBT terá também que se explicar ao Ministério do Esporte, que pediu informações sobre as denúncias e deve encaminhá-las ao MP.
O ministério também pediu ao COB um relatório sobre a aplicação da verba da Lei Piva pela CBT.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.