São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em crise, COI enquadra protesto

Rogge diz que pode punir quem subir ao pódio com bandeiras que não sejam a de seu país ou região

Alerta de cartola dizima chance de atos pró-Tibete nas competições em Pequim; comitê admite que esporte passa por tormenta

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Em meio às polêmicas de censura na China e de repressão a direitos humanos, o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Jacques Rogge, admitiu que a entidade vive uma crise e disse que estuda punições aos atletas que usarem o pódio ou as competições para fazer "propaganda".
"É uma crise, não há dúvida disso. Mas o COI já enfrentou tempestades maiores", disse Rogge, citando o atentado terrorista de Munique-72 e o boicote aos Jogos de 1980 e 1984.
"Daremos regras de onde e como essas manifestações serão permitidas", disse o cartola belga, em entrevista coletiva. "As instalações olímpicas não são espaço para política, mas os atletas podem falar o que quiserem durante as entrevistas coletivas." Rogge afirmou que haverá regras para se determinar o que é liberdade de expressão e o que é propaganda.
Um jornalista italiano lembrou um episódio marcante da Olimpíada de Sydney, em 2000: a atleta aborígene Cathy Freeman subiu ao pódio com as bandeiras australiana e a aborígene, dos nativos discriminados e vitimizados pela colonização inglesa do país. O uso da bandeira aborígene era uma atitude política. "Se um atleta americano ou francês subisse ao pódio com uma bandeira do Tibete, isso seria visto como "propaganda'?"
A resposta de Rogge: "Se um atleta espanhol quiser subir ao pódio com a bandeira de sua Província, é legítimo. Agora, se um atleta quiser usar a bandeira de outro país, vamos ter que estudar para ver se é propaganda ou não". Como a China não é uma democracia e pessoas que demonstram discordância da linha oficial costumam ir para a cadeia, é improvável que chineses subam ao pódio com a bandeira do Tibete.
Rogge disse que há "espaço para melhorar" o respeito à chamada "Lei de Mídia", em vigor desde janeiro do ano passado até setembro deste ano. Ela permite a jornalistas estrangeiros viajar pela China sem permissão oficial. Mas, Províncias do país, onde os tibetanos protestam contra a repressão oficial, estão fechadas a jornalistas estrangeiros.
O presidente do COI afirmou que a execução da lei é "imperfeita" e que levou esses problemas ao governo chinês. Mas garantiu que, durante os Jogos, não haverá censura à internet.
Depois da repressão no Tibete e da prisão recente de dissidentes, o COI foi questionado se Pequim não estaria desrespeitando seu compromisso ao competir para abrigar os Jogos, de "melhorar o respeito aos direitos humanos".
O belga afirmou que a candidatura de Pequim era a melhor à época e que o compromisso da cidade era baseado em regras técnicas, financeiras e logísticas. Mas há um compromisso "moral" de melhorar a situação dos direitos humanos.


Texto Anterior: Santos: Justiça nega rescisão de contrato a Denis
Próximo Texto: Austrália veta "guardiões" da tocha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.