São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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Recessão chega a "nanicos" paulistas

KLÉBER WERNECK
free-lance para a Folha Vale

Os times mais pobres do Estado voltam a campo hoje para o início das Séries B-1B e B-1A, a quarta e a quinta divisões do Paulista.
Com grandes limitações financeiras, os dirigentes já estão prevendo o "campeonato da recessão". "A crise financeira, com a desvalorização do real, atingiu todos os setores da sociedade, e é claro que vamos sentir os reflexos", afirmou Eduardo Gonçalves, que acumulará os cargos de presidente e técnico do XV de Caraguatatuba.
Ao todo, 44 equipes (28 na B-1A e 16 na B-1B) estarão na disputa das duas competições. As duas melhores da B-1B ascendem à B-1A, e os da B-1A terão direito de disputar a A-3 no ano 2000.
Algumas delas acenam com projetos modernos, como o Corinthians Vale do Paraíba, que foi idealizado pelo vice-presidente de marketing do Corinthians, Edgar Soares, para ser uma espécie de "filial" do time da capital, ou o Campinas, clube-empresa de propriedade do ex-jogador Careca.
Outras são tradicionais, como o Jabaquara de Santos, um dos clubes fundadores da FPF (Federação Paulista de Futebol). A grande maioria, porém, é desconhecida do grande público, como o Iracemapolense ou o Guararapes.
A principal fonte de renda no orçamento dos clubes será a cota oferecida pela entidade presidida por Eduardo José Farah, que é de R$ 4 mil na B-1B e de R$ 5 mil na B-1A por mando de jogo.
É esse o caso do Jacareí, da quinta divisão, que possui como patrimônio apenas o material esportivo que é usado pelos jogadores nos dias em que entram em campo.
O clube tem sede provisória em uma sala da rodoviária de Jacareí, que foi emprestada pelo ex-presidente José Maria Torres, e mandará seus jogos no estádio Dante Jordão Mercadante, que pertence ao Elvira, outro time da cidade.
A realização de churrascos foi uma das alternativas que os clubes encontraram como fonte de renda.
"Cada pessoa pagava R$ 100 e tinha direito de participar de quatro churrascos, concorrendo ao sorteio de uma televisão em cada um deles", disse o diretor de futebol do Itaquaquecetuba, Darli Silva.
A folha salarial do clube, da B1-B, segue a média da divisão, que varia de um a dois salários mínimos.
Com esses valores, algumas equipes estão sofrendo concorrência de outras profissões para manter seus jogadores.
O XV de Caraguatatuba perdeu na semana passada o atacante Neno, 18. O jogador acordava mais cedo do que o restante do grupo para entregar jornais e, em seguida, costumava ir treinar.
Ganhava R$ 150 para jogar pelo XV e R$ 200 para entregar os jornais. "Todo mundo ganha um salário mínimo no XV", justifica Gonçalves, presidente do time.


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