São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2001

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Após prometer superplano, CBF só anuncia Brasileiro-2001 remendado

E a nova era começou com os vícios da era passada

No Rio, confederação, governo, clubes e agências de marketing não dão solução para a Mercosul e adiam calendário quadrienal

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A "nova era" do futebol brasileiro começou oficialmente ontem no Rio de Janeiro com a repetição de vícios da "era passada": atrasos, panos quentes, disputas comerciais, promessas e ameaças.
A tabela do Brasileiro deste ano, anunciada pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e pelo ministro Carlos Melles (Esportes e Turismo), tem como principal objetivo apagar incêndios e dar fôlego para que os líderes do setor continuem em busca de uma fórmula que concilie seus interesses.
O torneio terá mesmo 28 times na primeira divisão, será disputado em turno único -os quatro primeiros passam às semifinais e os quatro últimos são rebaixados- e os jogos serão nos finais de semana e às quartas e quintas.
A disputa começará em julho, só com o Palmeiras. Em 1º de agosto, os demais times entrarão no torneio, que está previsto para acabar no dia 23 de dezembro.
Já o plano quadrienal, prometido em março -essa sim a grande novidade do futebol no Brasil- ainda não está pronto.
A disputa entre Rede Globo e Traffic/Bandeirantes por direitos de transmissão no segundo semestre de cada ano inviabiliza, pelo menos por enquanto, a elaboração do calendário.
Assim, a formulação de um calendário "racional" para o futebol, que englobe os anos de 2002 a 2005, considerada prioridade e com data de apresentação prometida para até o fim de abril, foi adiada em mais de um mês e meio, para o dia 30 de junho.
Em março, os principais líderes do futebol se encontraram em Brasília para selar um pacto de modernização. Na ocasião, o primeiro cronograma foi definido.
Mas ontem, foi divulgada apenas a tabela do Brasileiro-2001.
A explicação dada por Teixeira é que as decisões não podem ser tomadas sem consulta à Fifa e à Confederação Sul-Americana, o que ainda não teria ocorrido.
O ministro Melles, principal articulador do encontro, conhecido como "pacto da bola", deixou claro que irá cobrar a apresentação de um plano até o final de junho.
"Tenho a palavra deles. Se eles não fizerem, eles saem", ameaçou Melles, referindo-se a Teixeira, Fábio Koff, presidente do Clube dos 13 (principal associação de times), e Francisco Baptista, do Clube Brasil, que reúne as equipes da segunda divisão.
A maior pendência é a dúvida quanto à extinção da Mercosul, competição sul-americana agendada para o segundo semestre.
Neste ano, será mantido o torneio, cujos direitos de transmissão são da Traffic, do empresário J. Hawilla, parceiro da CBF.
A Rede Globo, concorrente da Traffic e detentora dos direitos do Brasileiro, que também é disputado no segundo semestre, quer o fim da Mercosul, a partir de 2002.
A tese parece ter o apoio da CBF, que pretende aumentar de quatro para seis ou sete o número de times brasileiros na Libertadores e enfraquecer a Mercosul.
"O Brasil e a Argentina têm mais peso. Vamos usar nossa força para aumentar o número de participantes", disse Teixeira.
Questionado se isso era um indicativo de apoio à Globo, o dirigente disse: "Isso não é indicativo de nada". Teixeira, porém, também defende a prioridade para o Brasileiro no segundo semestre.
Segundo anunciado ontem, nenhum clube poderá jogar mais de duas vezes por semana, nem deverá haver tabelas superpostas, o que praticamente inviabiliza a realização da Copa Mercosul.
Hawilla participou do lançamento junto com Teixeira, Melles, Marcelo de Campos Pinto, diretor da Globo Esportes, braço da emissora no setor, Koff e Baptista.
Os dois representantes dos interesses de TVs não chegaram a um acordo sobre o futuro. "Aumentar a Libertadores e acabar com a Mercosul é uma idéia, mas precisa ser estudada", afirmou Hawilla.
"O Brasileiro é o principal produto do nosso futebol. Ele deve ser único", disse Campos Pinto.
Em meio à disputa, Teixeira disse que novos estudos definirão o plano quadrienal. "Temos que esperar o calendário da Fifa".


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