Em uma única Copa um técnico da seleção convocou jovens revelações para vestir, pela primeira vez, a camisa do Brasil

Em 1966, novatos Tostão e Edu, que empolgavam o país como Neymar e Ganso hoje, foram à Inglaterra, mas afundaram com o time

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando anunciar hoje, às 13h, em um hotel da Barra da Tijuca, no Rio, os 23 convocados para a Copa de 2010, Dunga será revolucionário, raro para um técnico da seleção brasileira, ou careta, como quase todos os que comandaram o time nacional em Mundiais até hoje.
A improvável primeira hipótese acontece se o treinador sucumbir à onda que pede os santistas Neymar, 18, e Ganso, 20.
A segunda, que iria contra o discurso de "coerência" dos quase quatro anos da gestão Dunga, implicará uma lista com os nomes que fizeram do trabalho do treinador um sucesso em termos de resultados -ganhou a Copa América-2007, a Copa das Confederações-2009 e acabou as eliminatórias em primeiro lugar.
Dois jogadores numa Copa do Mundo com menos de 21 anos e que nunca defenderam a seleção principal, como Neymar e Ganso, são um fato muito raro na história da seleção brasileira. E, quando aconteceu, não deu em nada.
Para o Mundial de 1966, o veterano Vicente Feola chamou dois novatos que encantavam o país -o ponta-esquerda santista Edu, então com 16 anos, e o atacante cruzeirense Tostão, de 19 anos. Ambos foram convocados para a Copa sem experiência prévia com a camisa da seleção. Com o resto do time, naufragaram e foram eliminados logo na primeira fase.
Para os ideais de Dunga, seriam também revolucionárias as presenças de Neymar e Ganso na África do Sul. Os dois não têm alguns dos principais requisitos para um jogador de seleção, segundo o treinador.
Eles não têm experiência internacional, nunca jogaram no futebol europeu e, especialmente no caso de Neymar, não têm altura e muitos músculos -o Brasil é hoje, entre as principais seleções do mundo, a que tem os jogadores mais fortes.
Além disso, Dunga não terá que obedecer a Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, que o forçou a convocar Ronaldinho para a Olimpíada de 2008.
O astro do Milan, aliás, tem mais chance de ser a "surpresa" da lista. Isso aos 30 anos, com duas Copas do Mundo no currículo e quase dez anos defendendo clubes da Europa.
Mais em dúvida está o técnico em relação à posição mais carente da sua gestão na seleção: a lateral esquerda. Michel Bastos e Gilberto são favoritos, pois foram os últimos a serem chamados. Kléber, André Santos e Marcelo correm por fora.
Depois de convocada, a seleção se apresenta em Curitiba, para a primeira fase de treinos, no dia 21 de maio, sem Júlio César, Maicon e Lúcio, que disputam a decisão da Copa dos Campeões um dia depois.
O time viaja para a África do Sul no dia 26. Antes da estreia, em 15 de junho, ante a Coreia do Norte, estão previstos dois amistosos, ainda sem rivais anunciados. Além da Coreia, o Brasil encara Costa do Marfim e Portugal na fase inicial.