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XADREZ
Um dos criadores do supercomputador adversário de Garry Kasparov diz que hegemonia é questão de tempo
Deep Blue usa jeitinho para bater humano
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York
O confronto de seis partidas entre o campeão mundial de xadrez
Garry Kasparov e o computador
da IBM Deep Blue termina hoje à
tarde, em Nova York, nos EUA,
em ambiente de final de Campeonato Brasileiro de futebol.
O clima entre o enxadrista russo
Kasparov e a equipe de seis assessores do norte-americano Deep
Blue está mais do que tenso.
O foco de divergência foi o segundo jogo do duelo, vencido pelo
computador da IBM.
Depois daquela partida, Kasparov chegou a insinuar que Deep
Blue estaria tendo ajuda humana.
Os comentários do campeão irritaram a equipe da IBM.
Chung-jen Tan, um dos principais pesquisadores da empresa,
defendeu-a das insinuações e afirmou que a supremacia do computador é só questão de tempo.
Em entrevista exclusiva à Folha,
Tan diz achar que a "manha" do
Deep Blue foi a razão do descontrole que o campeão mostrou após
a segunda partida.
Até ontem, a série estava empatada em 2 a 2, com uma vitória para cada lado e dois empates. A
quinta partida estava marcada para as 16h de Brasília de ontem.
Folha - O confronto-revanche entre Garry Kasparov e Deep Blue está dando o que falar.
Agora, mais potente e bem preparado do que no duelo do ano
passado, o computador está provocando muito mais tensão no
campeão mundial.
Do ponto de vista da equipe da
IBM, a melhora na performance de
Deep Blue de fevereiro de 1996 para cá já é uma vitória?
Chung-jen Tan - Já. Mostramos
que somos capazes de melhorar,
melhorar e melhorar. É a ciência
que está se desenvolvendo,
Independentemente do resultado da final desta série, Kasparov
está já percebendo que tem um adversário muito mais difícil do que
da outra vez.
Folha - A supremacia do computador, então, é questão de tempo?
Tan - Em relação ao xadrez, não
tenho dúvida de que sim.
Folha - Depois da segunda partida, em que perdeu, Kasparov insinuou que estaria havendo interferência humana nas ações do Deep
Blue. O que o senhor tem a dizer a
respeito?
Tan - Foi um equívoco dele; não
há interferência alguma.
O Deep Blue tem uma velocidade
assombrosa e a capacidade de examinar até 250 milhões de alternativas por segundo.
A reclamação de Garry Kasparov
foi no sentido de que o Deep Blue
estaria sendo dirigido para examinar apenas as alternativas plausíveis, quando, na verdade, diferentemente de um ser humano, o
computador analisa, teoricamente, todas as possibilidades, até as
mais idiotas.
O que ele se esquece é que, além
de mais rápido e capaz do que no
ano passado, o Deep Blue tem em
sua memória todos os jogos já disputados por Kasparov e um ótimo
conhecimento de xadrez.
Ele teve aulas com um grande
mestre e tem um programa, que eu
chamo de esperteza, para atrapalhar o adversário.
Folha - No Brasil, seria chamado
de "jeitinho brasileiro". Como é
que funciona?
Tan - Ele pode apressar uma jogada para pressionar Kasparov
com o relógio. Em outras ocasiões,
pode retardar uma outra e fazer
cálculos repetitivos para irritá-lo.
E tem conseguido. Kasparov se
desequilibrou emocionalmente na
segunda partida.
Folha - Depois do segundo jogo,
um professor de filosofia de uma
universidade norte-americana
descobriu uma saída que poderia
ter levado Kasparov ao empate.
O senhor não acha que é muito
fácil fazer um comentário assim
depois de o jogo ter terminado? Fica parecido com um jogo de futebol. Quando acaba, todo mundo
teria feito aquele gol...
Tan - Concordo com você que
não é fácil a situação de Kasparov.
Ele tem um espaço de tempo para
decidir, tem a pressão da imprensa, os focos do mundo todo... É um
grande campeão, um vitorioso.
Folha - Em relação ao clima pesado da disputa, muito mais tenso
do que no ano passado, o que é
que o senhor está achando?
Tan - O clima mais tenso é devido simplesmente à melhora de
nosso computador. Kasparov sentiu-se ameaçado, o que gerou uma
competição mais forte, um clima
de disputa mais pesado. A reclamação dele também advém daí,
não tenho dúvida.
Folha - Para completar, o senhor
tem o atributo de movimentar as
peças seguindo as ordens do computador. Qual a sensação?
Tan - Deve ser igual à de uma
máquina. Só sigo ordens.
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