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TOSTÃO
Futebol globalizado na Ásia
No passado, era nítida
a diferença entre as
escolas européias e
sul-americanas. Independentemente da qualidade das
equipes, a variação de estilos
tornava o jogo mais atraente.
O futebol europeu era mais
defensivo, tático, disciplinado,
de mais marcação, previsível e
de pouca habilidade e criatividade. Os jogadores eram chamados de cintura-dura. Eram
facilmente driblados. Adoravam os cruzamentos na área
(chuveirinhos). O atacante cabeceava para o gol ou a bola
sobrava para outro finalizar.
Na escola sul-americana,
predominava o toque de bola
curto, o virtuosismo, a habilidade, a criatividade, a imprevisibilidade e os dribles.
Os jogadores se divertiam
em campo. Repetiam nos gramados o que faziam na infância, nos campos de peladas.
Em todas as profissões, a base
da criatividade e do talento
está na brincadeira infantil.
Ao mesmo tempo que encantou o mundo, a seleção
brasileira campeã de 70 representou o início do futebol científico. Houve uma excepcional
preparação física e técnica
com união do talento e da disciplina tática e do preparo físico. A partir daí, aconteceu
uma supervalorização da disciplina tática, do conjunto,
das jogadas ensaiadas, do
chuveirinho, em detrimento
do talento individual e da beleza do espetáculo. O craque
ficou em segundo plano.
No Brasil, e em todo o mundo, as informações científicas
e o trabalho dos técnicos e dos
professores de educação física
trouxeram grandes avanços
mas atingiram exagerada importância.
Acabaram com a brincadeira. O futebol virou jogo de
adultos, sério e científico.
O futebol sul-americano copiou o pragmatismo e a disciplina tática dos europeus e esses assimilaram e aprenderam
muito da habilidade e da criatividade sul-americana. Ficou
tudo igual. É o que se vê nessa
Copa. Até nos desenhos táticos. Hoje não se pode mais dizer que o esquema com três
zagueiros é europeu e o com
quatro é sul-americano. Argentina e Brasil jogam com
três autênticos defensores. A
França, a Inglaterra, a Espanha e Portugal, com dois.
O futebol africano, de habilidade e descontração de décadas atrás, não existe mais.
Com a importação dos técnicos europeus tornou-se idêntico ao da Europa.
A solução para melhorar a
qualidade do futebol não é
voltar ao passado.
É unir as qualidades positivas do presente e do passado.
Criatividade, habilidade, talento e disciplina tática e preparo físico não são antagônicos. Complementam-se.
tostão.folha@uol.com.br
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