São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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TOSTÃO

Futebol globalizado na Ásia

No passado, era nítida a diferença entre as escolas européias e sul-americanas. Independentemente da qualidade das equipes, a variação de estilos tornava o jogo mais atraente.
O futebol europeu era mais defensivo, tático, disciplinado, de mais marcação, previsível e de pouca habilidade e criatividade. Os jogadores eram chamados de cintura-dura. Eram facilmente driblados. Adoravam os cruzamentos na área (chuveirinhos). O atacante cabeceava para o gol ou a bola sobrava para outro finalizar.
Na escola sul-americana, predominava o toque de bola curto, o virtuosismo, a habilidade, a criatividade, a imprevisibilidade e os dribles.
Os jogadores se divertiam em campo. Repetiam nos gramados o que faziam na infância, nos campos de peladas. Em todas as profissões, a base da criatividade e do talento está na brincadeira infantil.
Ao mesmo tempo que encantou o mundo, a seleção brasileira campeã de 70 representou o início do futebol científico. Houve uma excepcional preparação física e técnica com união do talento e da disciplina tática e do preparo físico. A partir daí, aconteceu uma supervalorização da disciplina tática, do conjunto, das jogadas ensaiadas, do chuveirinho, em detrimento do talento individual e da beleza do espetáculo. O craque ficou em segundo plano.
No Brasil, e em todo o mundo, as informações científicas e o trabalho dos técnicos e dos professores de educação física trouxeram grandes avanços mas atingiram exagerada importância.
Acabaram com a brincadeira. O futebol virou jogo de adultos, sério e científico.
O futebol sul-americano copiou o pragmatismo e a disciplina tática dos europeus e esses assimilaram e aprenderam muito da habilidade e da criatividade sul-americana. Ficou tudo igual. É o que se vê nessa Copa. Até nos desenhos táticos. Hoje não se pode mais dizer que o esquema com três zagueiros é europeu e o com quatro é sul-americano. Argentina e Brasil jogam com três autênticos defensores. A França, a Inglaterra, a Espanha e Portugal, com dois.
O futebol africano, de habilidade e descontração de décadas atrás, não existe mais. Com a importação dos técnicos europeus tornou-se idêntico ao da Europa.
A solução para melhorar a qualidade do futebol não é voltar ao passado.
É unir as qualidades positivas do presente e do passado. Criatividade, habilidade, talento e disciplina tática e preparo físico não são antagônicos. Complementam-se.

tostão.folha@uol.com.br



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