São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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BASQUETE

Triângulo redondo

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Somente uma vitória (amanhã?) separa o Los Angeles Lakers dos anais da NBA.
O time vai se juntar aos únicos que conquistaram o tricampeonato nos 56 anos da liga: Minneapolis (1952-54), Boston (1959-66) e Chicago (1991-93 e 96-98).
O terceiro título é a cereja que falta ao bolo de Shaquille O'Neal e Kobe Bryant, astros de uma equipe que agora pode ser considerada uma dinastia.
As comparações com o Chicago Bulls, último exemplo de excelência do esporte, já pululam. Sobretudo porque o técnico e a filosofia de jogo são os mesmos, Phil Jackson e o sistema de triângulos.
Por isso, retomo discussão lançada aqui em 1999, quando Jackson assumia o time californiano.
Naquela época, amparado na opinião de Tex Winter, a coluna arriscou-se a prever que os triângulos funcionariam com mais fluidez nos Lakers do que nos Bulls. Winter, para quem não sabe, é o visionário guru desse sistema e fiel escudeiro de Jackson.
No Chicago, lembrava este espaço, a geometria prescindia de um pivô dominante no ataque.
Luc Longley, Bill Wennington, Will Perdue e Bill Cartwright eram meros coadjuvantes nas iniciativas do ataque -os três primeiros postavam-se afastados da cesta, à espera do passe, prontos para um "jump" curtinho ou para um eventual rebote ofensivo.
Nos Bulls, cabia a Michael Jordan ou Scottie Pippen fazer o "vértice" no garrafão, a posição mais importante no triângulo, que detona a maioria das ações.
Jordan e Pippen tinham repertório no "post-up", mas a tarefa significava sem dúvida um sacrifício físico para os dois. Não por outra razão, o fantástico e subestimado Pippen arrebentou as vértebras nessa balada.
Para Winter, o triângulo vibra mais quando o "vértice" perto da tabela é ocupado um pivô (fisicamente) legítimo que, além de forte e alto, seja capaz de criar a própria cesta -o caso de O'Neal (2,16 m e 143 kg), que tem um bom gancho e é ótimo no passe.
O Philadelphia, em 1967, e o mesmo Los Angeles, em 1972, chegaram à taça usando o pivô Wilt Chamberlain (2,15 m e 125 kg) exatamente nessa função. Ambos os treinadores, Alex Hannum e Bill Sharman, tinham sido colegas de time de Winter na década de 40. E os dois títulos foram os únicos da gloriosa carreira do legendário Chamberlain.
O curioso é que os triângulos reencontraram agora outra tática que brilhou no início da década de 70: o ataque de dois armadores, desenhado por Pete Carrill na Universidade de Princeton.
Reeditado pelo Sacramento e pelo New Jersey, ele prevê muitos dribles e passes, explorando corta-luzes no alto do garrafão e infiltrações sob a cesta ("backdoor cuts"). Ao contrário dos triângulos, que esperam a reação da defesa antes de morder, toma sempre a iniciativa da agressão.
A série entre Lakers e Sacramento foi emocionante, de uma riqueza tática que não se via na NBA desde os anos 80. Os Bulls nunca tiveram um adversário tão sofisticado, equilibrado, perigoso.
Que os angelenos, em campanha tumultuada pelas contusões de seus principais astros, tenham avançado e depois embalado, simplesmente não tomando conhecimento do New Jersey Nets no mata-mata decisivo, é a prova de que o bronzeado californiano deu uma nova cara, mais vigorosa, ao cinquentenário sistema.


Lakers 1
Phil Jackson está a uma vitória do recorde dos playoffs -155, que por ora divide com Pat Riley (Miami). E a um título de Red Auerbach, eneacampeão nos anos 50/60. Dizem que Jackson tem menos méritos, pois sempre pegou equipes prontas, com dois supercraques: Jordan e Pippen, em Chicago, e O'Neal e Bryant, agora. Tolice. No auge, o Boston de Auerbach teve mais estrelas -5 dos 50 melhores da história, segundo eleição da própria NBA.

Lakers 2
Com 36, 40 e 35 pontos diante do New Jersey, O'Neal passou Jordan (33,6) e agora tem a segunda maior média em finais (34,2). O líder é Rick Barry, campeão pelo Golden State em 1975 (36,3).

Lakers 3
Se você quer saber mais sobre os triângulos, acesse o www.databasket.com.br. O site pegou o mês da Copa para destrinchar o sistema.

E-mail melk@uol.com.br



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