São Paulo, sábado, 11 de junho de 2005

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MOTOR

Quando falta bom senso

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A BMW assinou com a Sauber e está de saída da Wil-liams, até a biosfera de Montréal sabe disso.
Pelos lados da equipe suíça, Peter Sauber se esforça para esconder o sorriso de quem colocou alguns bons milhões no bolso. E pelas bandas do time inglês a situação está insustentável, o ar pesa.
O que torna o cenário ridículo, porém, é o silêncio. Ninguém fala nada. E quando falam é para negar, seja o casamento, seja o divórcio. Há contratos a serem respeitados, afinal. Dezenas deles.
Mas chegará um "dia D" que atenderá a todas as cláusulas.
E então jornalistas receberão quatro e-mails. Os dois primeiros, idênticos, anunciando a parceria: um com o timbre da Sauber, outro com o da BMW. Outros dois, assinados pela montadora e pelo time inglês, revelarão a quebra de contrato, reforçando o sucesso da união e afirmando que era hora de um buscar seu rumo.
Essa é mais uma faceta de uma F-1 que se esforça para melhorar o espetáculo na pista, mas que ainda consegue ser extremamente chata e pedante nos bastidores. E isso fica ainda mais evidente quando a categoria faz sua visita anual para a América do Norte.
Público e imprensa dos EUA e do Canadá estranham tanto rigor, tanto não-me-toques. Estão acostumados com o "american way" de relações-públicas. Vá a uma corrida da Champ Car, da IRL ou da Nascar e você passeará pelos boxes, trombará com seus pilotos favoritos, colherá um autógrafo, tirará foto ao lado dos carros, ganhará lembrancinhas.
Mais de uma vez, quando a Indy ainda chamava Indy, acompanhei sessões de autógrafos. Todos os pilotos, do Zanardi ao Matsushita, sentados em uma mesa enorme, assinando pacientemente camisetas e pôsteres.
Agora tente imaginar algo assim na F-1. Não dá. Não combina.
E não combina porque, como um amigo definiu, a categoria escolheu esse caminho. Ao invés de escancarar o paddock para mil torcedores, abre-o para dez. E cobra o preço dessa exclusividade.
Em Mônaco, um mecânico foi flagrado vendendo uma credencial por 15 mil, mais de R$ 45 mil. E, se ele cobrava isso, é porque havia gente disposta a pagar.
Na Europa, essa atitude Daslu até funciona, já virou cultura. Mas manter o nariz empinado no maior mercado consumidor do mundo, os EUA, não funciona.
Na semana que vem, a F-1 correrá pelo sexto ano seguido em Indianápolis. O público será apenas mediano e nem de longe tão empolgado como o de 13 dias atrás, nas 500 Milhas.
Pudera. O Bill, aquele sujeito do interior de Indiana, e o Joe, dos confins de Ohio, preferem ir a um oval apertar a mão do Alex Barron do que acompanhar, de binóculos, o desempenho de Schumacher e Cia. Para eles, os pilotos de F-1 são marcianos.
E então, daqui a três ou quatro anos, a F-1 deixará os EUA de novo. Para voltar, um dia, mantendo a mesma postura hermética. Enquanto continuar assim, não fará a América. É uma questão de bom senso. Mas, como o caso BMW-Williams-Sauber deixa claro, esse artigo às vezes falta.

Sonho
Para virar o jogo no mercado americano, Ecclestone quer Danica Patrick. A piloto estará em Indianápolis e, segundo a imprensa européia, não será a passeio. A menina interessaria à BAR.

Lição
O oval do Texas promove hoje mais uma prova noturna da IRL. Outra idéia que a F-1 alimentou, mas deixou morrer -o cenário seria Sepang. Em termos de marketing, os EUA têm o que ensinar à FOM.

Berçário
Lucas Di Grassi, Átila Abreu, Fabio Carbone e Bruno Senna disputam amanhã em Zandvoort, na Holanda, o Marlboro Masters, espécie de Mundial da F-3. Os treinos acontecem hoje.


E-mail: fseixas@folhasp.com.br

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