São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2010

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PAUL DOYLE

Ameaça interna


A grande dúvida é saber como Capello garantirá que Rooney não seja vítima da própria fúria


NÃO É ridículo imaginar que Wayne Rooney se prepare pedindo que alguém insulte sua mãe. Em geral, o astro brilha quando joga com sede de vingança. Sua imaginação ardilosa, seus pés velozes e sua formidável força tornam impossível detê-lo. Ou fazem com que só ele mesmo seja capaz de se deter.
A grande dúvida antes do início da Copa é saber como Fabio Capello garantirá que Rooney não seja vítima da própria fúria. A Inglaterra depende muito dele, que não só marcou sozinho tantos gols quanto Crouch, Lampard, Gerrard e Heskey juntos como também criou várias chances para os colegas.
Mas, desde a eliminação do Manchester United na Copa dos Campeões, Rooney está perdendo a batalha pelo controle de seu temperamento. Antes da Copa, já surgiram indícios de que pode sair derrotado. Contra o Japão, colidiu com rivais como um carro desgovernado e, contra um time da África do Sul, recebeu um cartão por xingar o juiz, que disse que, se o jogo fosse oficial, o teria expulsado.
Um dado assustador, como revelou Carlos Simon, o juiz que apitará a estreia inglesa, é que a Fifa lhe forneceu um glossário de palavrões em inglês. Ou seja, uma lista do vocabulário mais usado por Rooney. Duas palavras que não devem estar no glossário, mas que podem perturbar Rooney e o time, são "Belo Horizonte". A cidade sediou a mais humilhante derrota da história do futebol inglês. Na Copa de 1950, a Inglaterra perdeu por 1 a 0... dos EUA. O revés não foi muito citado nas discussões sobre o jogo de amanhã, como se evocá-lo pudesse abalar ainda mais uma mentalidade que parece ter se fragilizado.
Os ingleses conquistaram a vaga na Copa esbanjando confiança, mas agora a seleção sofre com muitas dúvidas. O comportamento ainda mais irresponsável de Rooney é uma das expressões disso, agravado por preocupações quanto à confiabilidade dos substitutos de Rio Ferdinand -o lerdo Jamie Carragher ou Ledley King e seu joelho bambo?-, à mediocridade dos três goleiros e ao vigor físico de Gareth Barry, o jogador que serve como traço de união ao time. Mesmo assim, os ingleses devem vencer os EUA, bem como conseguir a classificação na fase de grupos. Mas conquistar a Copa agora parece menos plausível. E momentos de descontrole por parte de Rooney são prováveis.


PAUL DOYLE é redator-chefe de futebol do jornal britânico "The Guardian"

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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