São Paulo, Sexta-feira, 11 de Junho de 1999
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AUTOMOBILISMO
Ao adquirir escuderia, Ford deve dar início à transformação do Mundial em um campeonato de marcas
Venda da Stewart abre nova era na F-1

FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Montreal

Duas folhas de papel, distribuídas na tarde de ontem no circuito de Montreal (Canadá), podem ter iniciado um processo histórico na F-1: o de transformar o Mundial em um campeonato de marcas.
Impresso em preto e azul, o comunicado anunciava: "Ford compra a Stewart Grand Prix".
A partir da próxima temporada, a equipe por que corre o brasileiro Rubens Barrichello pode até assumir um novo nome, Ford Grand Prix -ou simplesmente Ford.
E, certamente, deixará de lado o estilo folclórico, com direito ao kilt (saiote típico escocês) e boina, do atual proprietário, o tricampeão de F-1 Jackie Stewart.
O significado do anúncio de ontem, no entanto, vai bem além das mudanças na aparência. Atinge as perspectivas da categoria.
A Ford será a primeira grande montadora de carros a possuir e batizar uma equipe nos anos 90 -antes dela, Renault, Mercedes-Benz, Honda, Porsche e Alfa Romeo tiveram seus times na categoria, mas em épocas diferentes.
Aí está a novidade do acordo: a conversão do Mundial em um campeonato de marcas, filosofia cada vez mais forte na F-1, pode ser detonada com a compra da Stewart. Talvez seja o "empurrão" que faltava a outras montadoras interessadas na categoria.
Hoje, das 11 equipes no grid, pelo menos 6 mantêm ou tentam acertar contratos com grandes montadoras de automóveis.
Os exemplos mais notórios são o da McLaren, que, segundo especulações, assumirá o nome Mercedes-Benz, e o da Ferrari, empresa que integra o grupo Fiat.
A Williams trabalha junto com a BMW no desenvolvimento de um propulsor para o ano que vem.
A Prost tem uma forte relação com a Peugeot.
A BAR (British American Racing) assinou há três semanas um contrato de parceria com a Honda.
E até a pífia Minardi, dizem, poderia ser comprada por uma montadora, a Toyota.
A diferença para o que acontecia há alguns anos é que, agora, os times não vêem mais as montadoras como meras fornecedoras de motores, mas sim como potenciais parceiras técnicas e financeiras.
Uma forma, até, de compensar as perdas com o fim da publicidade de cigarros, em 2002. E de garantir um trabalho de boa qualidade: nenhuma montadora entrará com sua marca para perder.

Jaguar
A "novela" Ford-Stewart vinha se arrastando desde 97, quando a equipe estreou na F-1. No ano passado, a imprensa inglesa chegou a afirmar que a Ford assumiria o time e o batizaria de Jaguar, sua linha de carros esportivos.
O comunicado de ontem traz uma frase de Jac Nasser, presidente da montadora. De acordo com ele, "a Ford tem uma trajetória de sucesso no automobilismo, e essa decisão coloca a empresa em um nível ainda mais elevado".
Para Jackie Stewart, a venda para a Ford foi um caminho natural para sua organização.
"Para ser competitivo nos dias de hoje, uma equipe precisa de um bom pacote técnico e de saúde financeira. A Ford pode nos fornecer as duas coisas."
A Ford procurou insistir na manutenção da atual estrutura. "Não há planos de mudança de pessoal. A fábrica continuará em Milton Keynes (Inglaterra), e Jackie Stewart permanecerá sendo o chefe", informa o comunicado.
Da Inglaterra, Martin Whitaker, diretor de competições da Ford, declarou que "não passa pela nossa cabeça colocar o Jackie de lado".
Nada oficial foi dito sobre uma eventual mudança de nome, o que precisaria de aprovação de todos os outros dez times.


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