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AUTOMOBILISMO
Ao adquirir escuderia, Ford deve dar início à transformação do Mundial em um campeonato de marcas
Venda da Stewart abre nova era na F-1
FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Montreal
Duas folhas de papel, distribuídas na tarde de ontem no circuito
de Montreal (Canadá), podem ter
iniciado um processo histórico na
F-1: o de transformar o Mundial
em um campeonato de marcas.
Impresso em preto e azul, o comunicado anunciava: "Ford compra a Stewart Grand Prix".
A partir da próxima temporada,
a equipe por que corre o brasileiro
Rubens Barrichello pode até assumir um novo nome, Ford Grand
Prix -ou simplesmente Ford.
E, certamente, deixará de lado o
estilo folclórico, com direito ao kilt
(saiote típico escocês) e boina, do
atual proprietário, o tricampeão
de F-1 Jackie Stewart.
O significado do anúncio de ontem, no entanto, vai bem além das
mudanças na aparência. Atinge as
perspectivas da categoria.
A Ford será a primeira grande
montadora de carros a possuir e
batizar uma equipe nos anos 90
-antes dela, Renault, Mercedes-Benz, Honda, Porsche e Alfa Romeo tiveram seus times na categoria, mas em épocas diferentes.
Aí está a novidade do acordo: a
conversão do Mundial em um
campeonato de marcas, filosofia
cada vez mais forte na F-1, pode ser
detonada com a compra da Stewart. Talvez seja o "empurrão"
que faltava a outras montadoras
interessadas na categoria.
Hoje, das 11 equipes no grid, pelo
menos 6 mantêm ou tentam acertar contratos com grandes montadoras de automóveis.
Os exemplos mais notórios são o
da McLaren, que, segundo especulações, assumirá o nome Mercedes-Benz, e o da Ferrari, empresa
que integra o grupo Fiat.
A Williams trabalha junto com a
BMW no desenvolvimento de um
propulsor para o ano que vem.
A Prost tem uma forte relação
com a Peugeot.
A BAR (British American Racing) assinou há três semanas um
contrato de parceria com a Honda.
E até a pífia Minardi, dizem, poderia ser comprada por uma montadora, a Toyota.
A diferença para o que acontecia
há alguns anos é que, agora, os times não vêem mais as montadoras
como meras fornecedoras de motores, mas sim como potenciais
parceiras técnicas e financeiras.
Uma forma, até, de compensar as
perdas com o fim da publicidade
de cigarros, em 2002. E de garantir
um trabalho de boa qualidade: nenhuma montadora entrará com
sua marca para perder.
Jaguar
A "novela" Ford-Stewart vinha
se arrastando desde 97, quando a
equipe estreou na F-1. No ano passado, a imprensa inglesa chegou a
afirmar que a Ford assumiria o time e o batizaria de Jaguar, sua linha de carros esportivos.
O comunicado de ontem traz
uma frase de Jac Nasser, presidente da montadora. De acordo com
ele, "a Ford tem uma trajetória de
sucesso no automobilismo, e essa
decisão coloca a empresa em um
nível ainda mais elevado".
Para Jackie Stewart, a venda para
a Ford foi um caminho natural para sua organização.
"Para ser competitivo nos dias de
hoje, uma equipe precisa de um
bom pacote técnico e de saúde financeira. A Ford pode nos fornecer as duas coisas."
A Ford procurou insistir na manutenção da atual estrutura. "Não
há planos de mudança de pessoal.
A fábrica continuará em Milton
Keynes (Inglaterra), e Jackie Stewart permanecerá sendo o chefe",
informa o comunicado.
Da Inglaterra, Martin Whitaker,
diretor de competições da Ford,
declarou que "não passa pela nossa cabeça colocar o Jackie de lado".
Nada oficial foi dito sobre uma
eventual mudança de nome, o que
precisaria de aprovação de todos
os outros dez times.
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