São Paulo, Terça-feira, 11 de Julho de 2000
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BASQUETE

Fantasia

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

A produção do filme começou na sexta-feira, quando Grant Hill anunciou o que o esporte queria, e o que 28 equipes não queriam ouvir. O ala decidira trocar o Detroit Pistons pelo Orlando Magic, na próxima temporada da NBA.
A transferência seria o primeiro passo para a criação de um supertime na liga norte-americana. No vácuo de Hill, fechariam com o clube da Flórida o armador Tracy McGrady (Toronto) e, sobretudo, o superpivô Tim Duncan (San Antonio). A assinatura dos papéis só poderia ocorrer em agosto.
Apesar disso, os estúdios da NBA correram para divulgar o script: afinal, McGrady avisara que o Orlando era sua prioridade, e Hill jamais deixaria o Detroit se não soubesse que seria seguido por Duncan (além do estilo de jogo, têm o mesmo empresário...).
Explica-se a histeria da liga. Ela cresceu sempre que os torcedores conseguiram identificar com facilidade seus grandes astros.
O reinado do Boston Celtics, nos anos 60, viabilizou-a como negócio no território norte-americano.
A rivalidade entre o Los Angeles Lakers e o Boston, nos 80, impediu que naufragasse após uma série de escândalos de suborno e drogas e seduziu a TV.
E a explosão do Chicago Bulls, nos 90, encheu seus bolsos e estendeu suas fronteiras para o globo.
Com a aposentadoria de Michael Jordan, essa era de dinastias se interrompeu. O público caiu, os índices de audiência despencaram, o faturamento dos licenciamentos estancou.
Daí o otimismo da NBA diante da conquista do título de 99/00 pelos Lakers. Com uma dupla de jovens heróis (Shaquille O'Neal e Kobe Bryant) e um técnico estrelado (Phil Jackson, hexacampeão pelo Chicago), o time juntou carisma e currículo para ajudar a liga a voltar a estourar bilheterias.
Na avaliação dos roteiristas do basquete, para que os negócios decolassem, faltava só um vilão, um adversário para os Lakers. Com Hill, Duncan e McGrady, esse papel caberia ao Orlando.
O duelo teria tudo para reeditar a intensidade do confronto LA x Boston dos anos 80. No lugar da questão racial, que "coloriu" os épicos embates entre Magic Johnson e Larry Bird, haveria um ingrediente cultural. Se O'Neal e Bryant representam um basquete urbano, hip hop, vibrante e agressivo, Hill e Duncan praticam uma bola-ao-cesto classe média-alta, acid jazz, suave e muito eficiente. A qualidade técnica da trilha sonora estaria garantida.
Os quatro artistas são os melhores em suas posições -escale Gary Payton ou Jason Kidd como armador e você terá o legítimo "Dream Team". E nenhum cria encrencas longe das telas. Sorridentes e acessíveis, fazem a alegria dos fãs -e dos marqueteiros.
Não haveria motivos, também, para duvidar do potencial comercial do duelo. Los Angeles e Orlando, as casas da Disney, vivem do (e para o) entretenimento.
Mas os produtores cometeram um erro de principiante ao ignorar a volatilidade das estrelas. Ontem, após dois dias de brindes, McGrady falava em Chicago, e Duncan cogitava seguir sua carreira "indie" no Texas, deixando Hollywood para mais tarde.
A NBA, que pensava até na pré-estréia, voltou ao "storyboard".

Mickey 1
Para tentar atrair Duncan, o mais cobiçado astro da NBA (é o único capaz de humilhar O'Neal), o Orlando fizera a lição de casa. O treinador, um assistente técnico, o coordenador de vídeo e dois jogadores que o time contratou nos últimos dois anos são amigos íntimos do pivô campeão pelo San Antonio em 1999.

Mickey 2
O Magic aprendeu com o tombo de 1996, quando O'Neal surpreendeu o clube ao trocá-lo pelos Lakers.

Mickey 3
Por questões de regulamento, o contrato com o Orlando renderá US$ 67,5 milhões por seis anos de serviço a Hill. Se renovasse com seu time, embolsaria quase US$ 20 milhões a mais. Mas a Flórida, ao contrário de Michigan e Texas, é um Estado que não recolhe imposto de renda...


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