São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 2006

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França perdoa Zidane, mas mídia não

Jack Guez/France Presse
Torcedores franceses se aglomeram na Place de la Concorde para ver o time vice-campeão mundial, em Paris


Presidente Jacques Chirac é só elogios ao meia, enquanto a imprensa especula sobre o motivo da cabeçada em Materazzi

Torcedores esperam time vice-campeão mundial debaixo de sol e aplaudem todos, inclusive o meia que foi expulso na final da Copa

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O meia Zinedine Zidane, que ao mesmo tempo foi o melhor jogador do Mundial da Alemanha, segundo a Fifa, e o vilão que deu uma cabeçada no italiano Materazzi, ganhou o elogio natural do presidente Jacques Chirac e o perdão do torcedor número 1 da França, que ontem recebeu os atletas no Palácio dos Campos Elíseos.
Chirac transmitiu ao capitão francês "a admiração e o afeto" de "todo o país", com superlativos que se tornaram uma constante nos últimos dias, até a expulsão a dez minutos do fim da prorrogação: "Você é um virtuoso, um gênio do futebol mundial, homem de coração, de envolvimento, de convicção. É por isso que a França o admira e o ama".
Já a mídia francesa, no dia seguinte à derrota, foi menos apoteótica. "Le Figaro", por exemplo, publica uma foto de Zidane de costas, ocupando três quartos da capa, com uma legenda que termina afirmando: "Uma triste final". "Le Monde" dedica seu editorial à derrota, no qual afirma que "de um golpe, um ícone se quebra".
O público preferiu a versão presidencial à da mídia: esperou sob um sol inclemente na avenida dos Campos Elíseos que os jogadores se apresentassem à sacada do luxuoso Hotel Crillon, e só teve aplausos para todos, Zidane incluído. O único ausente foi o goleiro Barthez, que alegou motivos de família.
Em meio aos elogios de praxe, que já haviam aparecido na véspera, quando outra multidão se concentrou na avenida para festejar o vice-campeonato, o assunto predominante era a especulação em torno dos motivos que teriam levado Zidane à violenta reação que causou sua expulsão de campo.
Por enquanto, tudo o que há são especulações, já que o agente do atleta, Alain Miggliaccio, jogou para "dentro em breve" uma palavra do craque contando as razões de seu ato.
Sempre segundo Miggliaccio, "Materazzi disse alguma coisa muito grave, mas ele [Zidane] não me disse o que foi".
O agente acrescentou que Zidane "é um homem que normalmente deixa passar tais coisas, mas, no domingo à noite, alguma coisa explodiu nele".
O que explodiu é tema para um quadro publicado pelo "Le Monde", com as especulações:
1) Insultos racistas. É a especulação favorita. Materazzi teria chamado Zidane de "terrorista sujo", o que o italiano desmentiu em Roma, alegando que, "ignorante" como diz ser, não sabe o que é terrorista sujo.
2) Insultos contra a família. Bernard Tapie, ex-dirigente de clube, diz que só xingar a mãe poderia tirar Zidane do sério. Materazzi teria chamado a irmã de Zidane de prostituta, antes de insultar o próprio meia.
3) Doping. O jornal britânico "The Independent" afirma que Materazzi teria acusado Zidane de ter se envolvido em um escândalo de uso de esteróides quando atuava pela Juventus italiana, no fim dos anos 90.


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