São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2001

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Mais destacado investidor do futebol após a Lei Pelé já planeja retirada

Desiludido, HMTF quer deixar o futebol

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

O principal símbolo de investidor pós-Lei Pelé quer deixar o futebol brasileiro.
O fundo norte-americano Hicks, Muse, Tate & Furst, que assinou parceria com Corinthians e Cruzeiro, está insatisfeito com o retorno financeiro do futebol no país, já diminuiu consideravelmente seus investimentos nos clubes e está de malas prontas.
A Folha apurou que os executivos do HMTF já oferecem no mercado a gestão do futebol corintiano a outras empresas.
O fundo cederia sua parte na Corinthians Licenciamento (85%) desde que a empresa interessada arcasse com os investimentos já feitos no clube -só no primeiro ano, gastou US$ 60 milhões, sendo US$ 28 milhões em contratação de jogadores e US$ 32 milhões para quitar dívidas e cobrir folha de pagamento.
Caso não consiga encontrar um interessado que se disponha a "zerar as contas", continuará tocando, com investimento diminuto, o futebol do Corinthians.
Desde o início da parceria, o HMTF vem acumulando prejuízo de cerca de R$ 1 milhão mensal apenas no Corinthians. Nem a conquista do Mundial de Clubes da Fifa em 2000, menos de um ano após a assinatura da parceria, melhorou a situação.
Os norte-americanos esperavam recuperar o investimento também explorando o licenciamento de produtos, mas não esperavam a concorrência desleal da "pirataria".
Outro projeto do HMTF afundou no ano passado. O fundo queria criar e administrar uma liga própria, mas foi brecado (leia texto nesta página).
Há uma divisão dentro da empresa em relação ao projeto do estádio corintiano, que, segundo o contrato de dez anos firmado com o time paulista em abril de 1999, deve abrigar 45 mil pessoas e custará US$ 100 milhões.
Como o HMTF comprou o terreno para o estádio, no quilômetro 16 da rodovia Raposo Tavares, e já teria alguns dos parceiros necessários para erguer a arena multiuso, parte dos executivos da empresa defende que o fundo continue nesse projeto.
Com bilheteria, locação para shows, venda de camarotes, aluguel de placas e exploração de lojas e estacionamento, alguns membros do fundo acreditam que podem ter o retorno do dinheiro investido com a construção. Já com o futebol, após o fim do passe, não há possibilidade de retorno, avaliam.
Oficialmente, o fundo nega que queira abandonar o futebol e diz que cumprirá o contrato com Corinthians e Cruzeiro até o final.
Mas até o presidente do time mineiro, o deputado Zezé Perrella (PFL-MG), já trabalha com a possibilidade de tocar o futebol sozinho na próxima temporada.
"Sabemos que eles não estão satisfeitos com o retorno econômico da parceria no Brasil, mas até agora estão cumprindo o contrato. Eles acreditavam que dava para fazer futebol sem a receita obtida com a venda de jogadores, mas viram que a realidade é outra. Se eles saírem, o Cruzeiro tem autonomia para continuar em dia com seus compromissos", afirmou, por telefone, Perrella.
A situação do Cruzeiro é mais delicada. O fundo já estuda rescindir o contrato com os mineiros, que foi assinado no ano passado e tem vigência até 2010.
Nos dois acordos firmados, não há multa rescisória estipulada, mas a parte que romper o contrato pode lutar na Justiça para pleitear indenização.
"O Corinthians não descumpriu até aqui nenhuma cláusula do contrato. Eles têm um contrato a cumprir conosco, mas, se por um acaso decidirem sair, ficarão queimados no mercado", avaliou o vice-presidente do Corinthians, Antonio Roque Citadini.


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