São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2001

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FUTEBOL

Cheiro de óleo quente

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

O boato está no ar, e a CBF faz pouca força para desmenti-lo: Luiz Felipe Scolari não é o homem preferido para dirigir a seleção na Copa de 2002.
A idéia parece ser deixá-lo no comando até o fim das eliminatórias e então ir atrás de outro nome mais ao agrado da cúpula. Mas agora há uma novidade: fala-se em treinadores estrangeiros.
Treinadores estrangeiros?
Sim, a conversa aparece aqui, repercute ali, um ou outro jornalista apóia e ela ganha ares de proposta séria.
Mas, francamente, acho que nessa idéia há uma boa dose de complexo de inferioridade.
Como país colonizado, desde cedo nos inculcaram a idéia de que o que vem de fora é melhor. Foi assim com roupas, perfumes, modelos econômicos e, agora, futebol. Mas que treinador possui algo de diferente para mostrar?
Peguemos um muito respeitado: Louis van Gaal, que já dirigiu um dos maiores times do mundo, o Barcelona, e hoje comanda a seleção holandesa, sempre uma referência quando se fala em inovações táticas.
Pois bem, Van Gaal está fora da Copa. E, antes de Van Gaal, a Holanda já havia queimado Guus Hiddink e Frank Rijkaard. Um técnico não faz milagres.
Vejamos a Alemanha, mais tradicional seleção européia e seis vezes finalista de Copas do Mundo: nos últimos tempos, ela foi comandada por nomes respeitáveis como Berti Vogts, Erich Ribbeck e Rudi Voeller, mas tomou de 5 a 1 da Inglaterra e corre risco de não se classificar para a Copa.
E em geral os times alemães jogam um futebol mediano, sem nenhum charme a mais.
Entre as seleções que vêm apresentando um futebol diferente estão Argentina e França, dirigidas por um argentino e um francês, ou seja, técnicos de seus próprios países, que conhecem seus jogadores profundamente.
A crise de treinadores é mundial. Só raramente aparece um Telê Santana ou um Rinus Michels. E Scolari está na média dos bons treinadores do mundo. Está longe de ser um gênio, mas é esforçado, consegue fazer o time correr e seu currículo é admirável.
É verdade que ele é um tanto teimoso, um pouco retranqueiro e costuma ter um apreço exagerado por jogadores aplicados, mas não exatamente talentosos, como Dinho, Galeano e, agora, Cris.
São defeitos, concordo, mas bem menos graves que os dos técnicos anteriores.
Se esses defeitos fossem graves, Scolari não teria levado Grêmio e Palmeiras a duas decisões mundiais contra os europeus Ajax e Manchester United, duas equipes de renome mundial.
E nos dois casos ele só foi derrotado por miudezas (pênaltis mal batidos no primeiro caso e uma falha individual no segundo).
Qualidades, portanto, ele tem. O que se precisa agora é de um mínimo de confiança e bom ambiente para que passemos por essa turbulência.
Mal comparando, essa idéia de termos um treinador estrangeiro é como dizer que as regras do FMI são o melhor remédio para os males das economias dos países em desenvolvimento.
Para ver o resultado, é só olhar o que tem acontecido ao mais aplicado dos alunos da escola do FMI, a Argentina.
Num momento como esse, falar em troca de treinador não é o que eu chamaria de uma contribuição inteligente.
Apaguemos esse fogo antes que o óleo comece a esquentar.

Ronaldinhos
No jogo PSG 2 x 2 Lens, no sábado, Ronaldinho voltou a jogar um futebol ousado, criativo e com um ou outro lance verdadeiramente genial. É um consolo pensar que daqui a algum tempo ele e seu homônimo da Inter podem voltar à seleção. Ronaldinhô e Ronaldino, o francês e o italiano, podem ser a solução para o ataque brasileiro.
Radical E o Paraná Clube continua a sua sina de extremos. Com os 2 a 0 sobre o Botafogo são cinco vitórias e cinco derrotas em dez jogos.
Marcelinho Já o Santos segue sua sina de empates. Contra o Guarani, o destaque foi Marcelinho, que sofreu o pênalti, fez seu primeiro gol pelo time e depois, é claro, beijou o símbolo da equipe. Mas nem gol e muito menos o beijo mantiveram Serginho no cargo. E-mail : torero@uol.com.br

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