|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Cheiro de óleo quente
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
O boato está no ar, e a CBF
faz pouca força para desmenti-lo: Luiz Felipe Scolari não é
o homem preferido para dirigir a
seleção na Copa de 2002.
A idéia parece ser deixá-lo no
comando até o fim das eliminatórias e então ir atrás de outro nome mais ao agrado da cúpula.
Mas agora há uma novidade: fala-se em treinadores estrangeiros.
Treinadores estrangeiros?
Sim, a conversa aparece aqui,
repercute ali, um ou outro jornalista apóia e ela ganha ares de
proposta séria.
Mas, francamente, acho que
nessa idéia há uma boa dose de
complexo de inferioridade.
Como país colonizado, desde
cedo nos inculcaram a idéia de
que o que vem de fora é melhor.
Foi assim com roupas, perfumes,
modelos econômicos e, agora, futebol. Mas que treinador possui
algo de diferente para mostrar?
Peguemos um muito respeitado: Louis van Gaal, que já dirigiu
um dos maiores times do mundo,
o Barcelona, e hoje comanda a seleção holandesa, sempre uma referência quando se fala em inovações táticas.
Pois bem, Van Gaal está fora da
Copa. E, antes de Van Gaal, a Holanda já havia queimado Guus
Hiddink e Frank Rijkaard. Um
técnico não faz milagres.
Vejamos a Alemanha, mais tradicional seleção européia e seis
vezes finalista de Copas do Mundo: nos últimos tempos, ela foi comandada por nomes respeitáveis
como Berti Vogts, Erich Ribbeck e
Rudi Voeller, mas tomou de 5 a 1
da Inglaterra e corre risco de não
se classificar para a Copa.
E em geral os times alemães jogam um futebol mediano, sem
nenhum charme a mais.
Entre as seleções que vêm apresentando um futebol diferente estão Argentina e França, dirigidas
por um argentino e um francês,
ou seja, técnicos de seus próprios
países, que conhecem seus jogadores profundamente.
A crise de treinadores é mundial. Só raramente aparece um
Telê Santana ou um Rinus Michels. E Scolari está na média dos
bons treinadores do mundo. Está
longe de ser um gênio, mas é esforçado, consegue fazer o time
correr e seu currículo é admirável.
É verdade que ele é um tanto
teimoso, um pouco retranqueiro e
costuma ter um apreço exagerado
por jogadores aplicados, mas não
exatamente talentosos, como Dinho, Galeano e, agora, Cris.
São defeitos, concordo, mas
bem menos graves que os dos técnicos anteriores.
Se esses defeitos fossem graves,
Scolari não teria levado Grêmio e
Palmeiras a duas decisões mundiais contra os europeus Ajax e
Manchester United, duas equipes
de renome mundial.
E nos dois casos ele só foi derrotado por miudezas (pênaltis mal
batidos no primeiro caso e uma
falha individual no segundo).
Qualidades, portanto, ele tem.
O que se precisa agora é de um
mínimo de confiança e bom ambiente para que passemos por essa turbulência.
Mal comparando, essa idéia de
termos um treinador estrangeiro
é como dizer que as regras do FMI
são o melhor remédio para os males das economias dos países em
desenvolvimento.
Para ver o resultado, é só olhar
o que tem acontecido ao mais
aplicado dos alunos da escola do
FMI, a Argentina.
Num momento como esse, falar
em troca de treinador não é o que
eu chamaria de uma contribuição inteligente.
Apaguemos esse fogo antes que
o óleo comece a esquentar.
Ronaldinhos
No jogo PSG 2 x 2 Lens, no sábado, Ronaldinho voltou a
jogar um futebol ousado,
criativo e com um ou outro
lance verdadeiramente genial. É um consolo pensar
que daqui a algum tempo ele
e seu homônimo da Inter podem voltar à seleção. Ronaldinhô e Ronaldino, o francês
e o italiano, podem ser a solução para o ataque brasileiro.
Radical
E o Paraná Clube continua a
sua sina de extremos. Com os
2 a 0 sobre o Botafogo são
cinco vitórias e cinco derrotas em dez jogos.
Marcelinho
Já o Santos segue sua sina de
empates. Contra o Guarani, o
destaque foi Marcelinho, que
sofreu o pênalti, fez seu primeiro gol pelo time e depois,
é claro, beijou o símbolo da
equipe. Mas nem gol e muito
menos o beijo mantiveram
Serginho no cargo.
E-mail : torero@uol.com.br
Texto Anterior: Frase Índice
|