São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006

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No topo, Schumacher anuncia adeus

Maior vencedor da história da F-1, alemão reconhece que não terá forças para estender sua era de recordes e polêmicas

Heptacampeão vence GP da Itália, casa da Ferrari, e faz sua derradeira corrida no Brasil, em 22 de outubro, encerramento do Mundial

Giampiero Sposito/Reuters
O alemão no pódio em Monza


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MONZA

Monza começava a escutar "Fratelli d'Italia", e um funcionário da Ferrari deixou o motorhome da equipe com um pilha de folhas de papel sob o braço esquerdo. O hino italiano ainda tocava quando a F-1 recebeu aquelas folhas, anunciando a aposentadoria do homem que ainda estava lá em cima, no alto do pódio, assimilando a vitória mais importante de 2006.
Aos 37 anos e 250 dias, Michael Schumacher revelou ontem que deixará as pistas ao fim da temporada. Sua última exibição será em São Paulo. O GP Brasil, em Interlagos, em 22 de outubro, fecha o campeonato.
"Palavras não são o suficiente e qualquer coisa que eu diga nunca vai expressar o quanto eu amo este mundo fascinante do automobilismo e o que ele fez por mim", disse o ferrarista na nota. Depois, falou que tomou a decisão em julho, após o GP dos EUA, e que resolveu parar pois percebeu que não poderia sustentar, pelos próximos anos, "todo o esforço, a energia e a motivação necessários para ser competitivo" na categoria.
Mito vivo do esporte, maior piloto entre os 798 que tentaram a F-1 em 57 Mundiais, Schumacher sairá de cena levando consigo todos os recordes de desempenho da categoria. Em pouco mais de 15 temporadas -estreou no 11º dos 16 GPs de 91-, tornou-se recordista de títulos (7), vitórias (a de ontem foi a 90ª), poles positions (68), pódios (153), pontos (1.354) e melhores voltas (75).
Marcas que superam em muito as anteriores. E que pode e tentará ampliar nos três GPs que restam no ano. Principalmente a mais célebre delas, a primeira. Porque, como que para coroar um dos dias mais significativos de sua vida, viu ontem o resultado com que sonhava desde o início do campeonato: vitória, com abandono do rival Fernando Alonso.
Assim, encostou na liderança do Mundial. Tem dois pontos a menos que o espanhol, desvantagem que já foi de 25.
Octa ou heptacampeão, Schumacher fechará uma era da F-1 no momento em que deixar o cockpit pela última vez.
O alemão é o derradeiro elo entre a nova geração e a anterior, de pilotos como Alain Prost, Nelson Piquet, Ayrton Senna e Nigel Mansell.
Sua saída encerrará ainda a onda de salários estratosféricos na categoria, que beneficiou gente como Jacques Villeneuve, Damon Hill e Juan Pablo Montoya. Em 2005, recebeu US$ 38 milhões da Ferrari e mais US$ 20 milhões em licenciamentos e contratos de publicidade. No ano que vem, Kimi Raikkonen, que o substituirá na equipe ao lado de Felipe Massa -ambos foram confirmados ontem-, deve receber em torno de US$ 20 milhões.
Por fim, fechará um dos capítulos mais polêmicos da história do automobilismo. Piloto de excepcional técnica, Schumacher perpetrou também atos condenáveis, como jogar o carro sobre Hill em Adelaide-94, em seu primeiro título, e sobre Villeneuve em Jerez-97, que lhe valeu a pecha de esportista desleal. Em maio deste ano, parou o carro na Rivazza, a última curva de Mônaco, para impedir Alonso de lhe tomar a pole.
Facetas que fizeram de Schumacher, filho primogênito de um zelador na cidadezinha de Kerpen, alguém especial. A ponto de ter sua aposentadoria anunciada no exato momento em que fazia o que mais ama. Via o mundo de cima.


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