São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006

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JUCA KFOURI

0 a 0 com cara de goleada


Sim, o São Paulo continua líder e manteve a escrita, mas só os corintianos tem por que comemorar o clássico

UM CLÁSSICO para o corintiano nunca mais esquecer e o são paulino não querer lembrar jamais. Friamente, até que não aconteceu nada demais.
Não houve gol, o São Paulo permaneceu na liderança e manteve a invencibilidade diante do rival, agora de 11 jogos.
E o Corinthians, na tarde em que estreou três reforços vindos da Europa, continua perto da zona do rebaixamento e, a rigor, teve apenas duas chances de gol, ambas no fim de cada tempo de jogo, ambas nos pés de Rafael Moura.
De resto, só deu São Paulo.
Que explodiu uma bola na trave, com Danilo, e outra, na parte de cima do travessão, com Tadeu.
E que dominou o jogo.
Completa e inutilmente.
Porque o que fez o empate inesquecível para os alvinegros e humilhante para os tricolores aconteceu aos 4 e aos 25 minutos do primeiro tempo, na correta expulsão do estreante César e na rigorosa expulsão do outro lateral corintiano, Eduardo Ratinho.
O São Paulo fez tudo errado ao tentar entrar pelo meio da defesa rival e acertou ao abrir pelos lados, mas insistiu em chuveirar na área, para fazer os nomes de Marinho, Marcelo Mattos, Betão e Magrão.
A rigor, defesa difícil o goleiro Marcelo, que mostrou segurança novamente, não precisou fazer.
Ao contrário do são-paulino Rogério Ceni, que teve de se desdobrar para salvar o gol de Rafael Moura nos minutos finais do primeiro tempo.
Alguma coisa estranha acontece no Morumbi.
E o Boca Juniors pode significar um marco maior até do que o Inter na temporada tricolor.
Uma vitória que garanta a Recopa Sul-Americana significará a retomada da confiança.
Se a taça não vier, o jogo diante do Inter, no domingo, assume ares de tragédia.
Já para o Corinthians o empate sem gols teve sabor de goleada. Reviveu uma tarde acontecida no Pacaembu, nos anos 50, quando virou para cima do mesmo São Paulo uma partida que parecia perdida e defendeu o resultado com apenas nove jogadores.
Então, o lateral-direito são paulino, o grande De Sordi, campeão mundial com a seleção na Suécia, em 1958, cunhou uma frase reproduzida em letras garrafais pela desaparecida "Gazeta Esportiva", o "Lance!" da época: "Eram nove, mas pareciam 15 leões feridos".
De fato. E, não tenha dúvida: tanto o Canindé, nesta quarta-feira, quando o time enfrentará o Vasco em jogo de volta pela Copa Sul-Americana, quanto o Pacaembu, no domingo, quando receberá o Paraná Clube, estarão lotados, como se o Corinthians tivesse ganhado um título ontem no campo do adversário.
Coisas do futebol.

PROMISCUIDADE
A BBC anuncia, para esta semana, um documentário que deve abalar as estruturas do futebol inglês. Revelará como se dão as negociações de jogadores entre os súditos de Sua Majestade, a Rainha.
Investigação semelhante no Brasil resultará em escândalo. Basta ver a informação do "Painel F.C.", desta Folha, publicada na sexta-feira passada. O dono do supermercado Sonda, e patrocinador de programas esportivos, é empresário de atletas como Rafael Sobis. O empresário, é óbvio, está em seu papel, nada o impede de fazer o que faz. Mas demonstra, se é que ainda é preciso, como jornalista não pode fazer papel de garoto-propaganda. Porque deixa sob suspeita os elogios a um atleta que pertença a um seu patrocinador, assim como deixa sob suspeita suas críticas aos que não pertencem aos seus patrocinadores.

blogdojuca@uol.com.br


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