São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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F-1
Um dia depois de ser festejado em Monza, piloto decide não comentar mais sua relação com Schumacher
Pressão da Ferrari cala Barrichello

FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Monza

Rubens Barrichello criou ontem uma defesa para, pelo menos provisoriamente, se livrar do estigma de segundo piloto ferrarista.
Falante e solícito com a imprensa quando chegou ao circuito de Monza, anteontem, ele agora decidiu não comentar mais sua relação com Michael Schumacher.
Hoje, a partir das 8h (de Brasília), com TV, o autódromo recebe o treino oficial para o GP da Itália, 13ª etapa do Mundial de F-1.
"É o seguinte: eu acho que eu falei tudo o que eu tinha para falar (sobre o trabalho com Schumacher). Para quem está me perguntando sobre isso, eu já digo que não tenho mais nada a declarar", afirmou o brasileiro, ontem.
"É uma coisa tão distante, que vai depender tanto da minha habilidade, daquilo que eu posso fazer no carro, que não há porque ter interesse agora", completou.
Há exatamente uma semana, ele foi anunciado como piloto da Ferrari para as duas próximas temporadas da F-1. Será companheiro de Schumacher, número 1 absoluto na atual estrutura de funcionamento da escuderia.
Tradição de décadas na equipe, a relação entre seus pilotos é sempre foco de interesse e de enorme cobrança da imprensa e do público italiano. Algo que Barrichello já começa a sentir de perto.
Na temporada do ano que vem, o brasileiro será o sétimo piloto a ocupar o posto de segundo homem da Ferrari desde 1979, quando a equipe conquistou pela última vez o Mundial de Pilotos.
De lá para cá, a escuderia vive seu período histórico de maior pressão em busca de resultados.
Antes dele, Jody Scheckter, Didier Pironi, Michele Alboreto, Ivan Capelli e Jean Alesi fizeram o papel. Eddie Irvine, o atual ocupante da vaga, sairá ao fim do ano para a chegada de Barrichello.
Cada um, à sua época, submeteu-se a outro piloto de mais prestígio e de mais intimidade com os chefes ferraristas.
Do mesmo modo, o "estágio" de cada um deles em Maranello teve desfechos diferentes.
O índice soa como uma "maldição" e é uma mostra de como será dura a missão do brasileiro: apenas dois de seus antecessores obtiveram sucesso: Alesi e Irvine.
Três -metade do grupo- não suportaram a pressão. Sucumbiram a seus primeiros pilotos, fizeram péssimas temporadas e se aposentaram em seguida.
Scheckter e Pironi nunca mais pilotaram carros de F-1.
Capelli tentou continuar sua carreira em 1993, temporada seguinte ao seu fracasso ferrarista.
Na estreante Jordan, foi superado justamente por Barrichello, então também um estreante, bateu no primeiro GP do ano e nunca mais retornou a um cockpit.
Alboreto continuou na F-1 por mais seis anos, mas sempre correndo por equipes nanicas.
Em poucas ocasiões, a Ferrari concedeu igualdade de condições a seus dois pilotos. Essa política foi criticada, ontem, por Ron Dennis, chefe da McLaren.
De 1993 a 1995, Alesi e Gerhard Berger trabalharam em regime de parceria. Em 1990, Alain Prost e Nigel Mansell dividiram o poder. E, no ano anterior, Mansell formou dupla com Berger.
Entre 1983 e 1985, o time apostou em duplas de pouco impacto, em que tanto fazia quem recebia tratamento prioritário.
Primeiro, com os franceses Patrick Tambay e René Arnoux. Depois, com Arnoux e Alboreto.
A fragilidade da equipe nesse momento tem uma explicação: eram os primeiros anos do jejum, quando ainda não havia tanta cobrança na Itália por um resultado.
Ontem, Barrichello disse não acreditar que a pressão na Ferrari será maior do que a que sofreu após a morte de Ayrton Senna.
"Acho que tenho que manter a cabeça fria. Passei a maior pressão da minha vida em 1995 e não acredito que a pressão vai chegar a ser maior do que aquela", disse. "É a hora do xeque-mate, de poder saber o quanto eu sou bom."
NA TV - Treino oficial para o GP da Itália, ao vivo, às 8h, na Globo


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