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Reforma total
Promoção de Olimpíada também passa por mudança em comportamento da população
DA ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
A preparação de Pequim para
a Olimpíada de 2008 não se resume às obras. Boas maneiras
se transformaram em uma
questão patriótica e os moradores da cidade são conclamados
por autoridades e artigos de
jornais a se portarem de maneira "civilizada", para transmitirem uma imagem positiva do
país ao exterior.
Bombardeados pela campanha e sob ameaça de multas, os
habitantes de Pequim começaram a se desfazer de hábitos arraigados, como escarrar na rua,
furar filas e buzinar por qualquer razão no trânsito.
No espaço de seis meses entre duas visitas a Pequim -em
abril e outubro-, a reportagem
da Folha constatou uma visível
mudança de comportamento
nas ruas da capital chinesa.
O som semelhante ao da
erupção de um vulcão que precede o escarro só foi ouvido
cerca de 24 horas depois da
aterrissagem no aeroporto de
Pequim. Até abril, fazia parte
da trilha sonora de qualquer
caminhada nas ruas da cidade,
por mais curta que fosse.
Além da responsabilidade de
responderem pela imagem do
país diante do mundo, os pequineses foram influenciados
pelo impacto que o escarro poderia ter em seus bolsos.
Na semana do feriado de 1º
de Maio, o departamento de
promoção da civilização de Pequim (o nome é este mesmo)
multou 56 pessoas por escarrarem na rua. A pena pelo comportamento "não-civilizado"
podia chegar a 50 yuans (US$
6,4), valor que a maioria dos
chineses não ganha em um dia
de trabalho.
O mesmo departamento distribuiu 10 mil sacos plásticos
durante o feriado de maio, como parte da campanha para
que os moradores de Pequim e
os que visitam a cidade deixem
de jogar lixo nas ruas.
As filas ainda são furadas,
mas em escala bem menor.
Desde meados do ano, esquadrões de fiscais saem às ruas da
cidade todo o dia 11 de cada
mês e dão orientações sobre o
caráter "civilizado" do respeito
à ordem de chegada para atendimento -seja no metrô ou no
check-in dos aeroportos. O 11
foi escolhido por se assemelhar
a duas pessoas em fila.
Os motoristas também diminuíram as vezes em que levam
a mão à buzina. Contrariando o
mito da paciência oriental, os
moradores de Pequim recorriam à buzina de maneira automática e nas mais diversas situações, mesmo quando seu
uso era absolutamente inútil.
O ruído no trânsito continua
a ser maior que o de São Paulo,
mas diminuiu de maneira sensível entre março e outubro.
Para espanto da repórter, os
motoristas de táxi deixaram de
fumar dentro dos carros e um
deles chegou a apagar um cigarro recém-aceso antes de iniciar a corrida. Neste caso, a
ameaça pecuniária pesa mais
que o apelo patriótico: a multa
é de US$ 25 para o motorista.
(CLÁUDIA TREVISAN)
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