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Como agora, crise financeira fez Santos montar time de garotos que encantou no Paulista de 1978
Os primeiros meninos da Vila
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
A gestação dos atuais "meninos
da Vila" ocorreu na mesma incubadora na qual o Santos criou a
sua geração pioneira de garotos
praticantes de um futebol ousado
e surpreendente.
Tal qual os campeões paulistas
de 1978, primeiro título após a era
Pelé, os finalistas do Brasileiro-2002 nasceram da crônica crise financeira do clube, que obrigou os
dirigentes a abandonar a ilusão de
contratações caras e a voltar os
olhos para as categorias de base.
Em comum, os dois times têm a
união do grupo, a habilidade dos
principais jogadores, um estilo de
jogo baseado na velocidade, a
mesma média de idade (22 anos)
e uns poucos "veteranos", se é que
assim podem ser chamados atletas com 27 ou 28 anos.
Ambas as equipes começaram a
disputar os campeonatos dos
quais se tornaram finalistas absolutamente desacreditadas e fora
de qualquer lista de favoritos ao
título de campeão.
A diferença básica é o tamanho
da "fila" -o time de 78 herdou
cinco anos sem conquistas. Sobre
o atual, pesa a responsabilidade
de exorcizar 18 anos de sofrimento da torcida -o último título de
primeira linha obtido pelo Santos
foi o Paulista de 1984.
Com um ataque de baixinhos
que até hoje qualquer santista recita de cor -Nilton Batata, Juary
e João Paulo-, o time que deu
origem à primeira geração de
"meninos" conquistou o título
paulista após três partidas decisivas (uma vitória, um empate e
uma derrota) contra o São Paulo
no Morumbi, estádio em que hoje
os dirigentes se queixam de ter de
enfrentar o Corinthians.
O técnico da equipe vencedora
do Paulista-78, Chico Formiga,
atual gerente do Departamento
Amador do Santos, disse ter recebido da diretoria a incumbência
de reformular o time durante a
medíocre campanha no Brasileiro
-23º lugar em um campeonato
com 74 equipes inscritas.
A gota d'água foi uma derrota
por 2 a 1 para o Operário-MS, em
abril de 1978, no Pacaembu. Revoltada, a torcida ameaçou invadir o campo e depredar o estádio.
Os garotos substituíram veteranos como o zagueiro Alfredo
Mostarda, o meia Toinzinho e o
atacante Carlos Roberto.
"Os torcedores conheciam a
gente porque nós costumávamos
fazer a preliminar do jogo principal com a equipe juvenil. Naquele
dia, acho que ganhamos de 6 a 0.
Aí, como forma de protesto, eles
começaram a exigir a molecada
no time", declarou o "curinga"
Célio, então com 20 anos, que
atuava como zagueiro, meia e atacante e hoje é professor de uma
escolinha de futebol.
Na ocasião, o Campeonato Brasileiro era disputado, em parte,
paralelamente aos estaduais.
O técnico Formiga dirigia a Portuguesa Santista e foi chamado
porque conhecia os atletas que viria a promover.
"Dinheiro para contratar não
havia. Como eu tinha trabalhado
nas equipes de base do Santos, conhecia todos eles. Peguei uns dez
e fui mudando o time aos poucos", recorda-se Formiga.
Ficaram quatro jogadores considerados "experientes" -os laterais Nelson [Nelsinho Baptista,
ex-São Paulo e atual treinador do
Goiás] e Gilberto Sorriso, o meia
Ailton Lira e o volante e capitão
Clodoaldo, que, aos 29 anos, era
chamado de "senhor" pelos companheiros, conforme atesta o ex-volante Toninho Vieira, 43, atualmente advogado e empresário do
ramo da pesca.
Embora inicialmente não alimentasse entre os torcedores a esperança de conquistar o título, o
time se valeu do entrosamento
decorrente de temporadas seguidas nas equipes infanto-juvenil,
juvenil A e juvenil B, denominações usadas na época.
"Nossa grande vantagem é que
jogávamos juntos desde os 15
anos", afirma o então atacante reserva Claudinho Agnello, 42, executivo de uma multinacional de
autopeças em São Paulo.
"Como o conjunto era muito
bom, eles assimilavam rapidamente o sistema de jogo. Era um
time de uma velocidade extraordinária, mas, apesar dessa característica, prevaleciam a técnica e a
habilidade", diz Formiga.
A final contra o São Paulo acabou por consagrar definitivamente a força dos "meninos". Sem Ailton Lira, suspenso, Clodoaldo e o
goleiro Vítor, que se machucaram
durante o campeonato, os garotos
de 78 predominaram na foto do
time campeão paulista.
Algumas das revelações santistas daquela época não ficaram no
clube por muito tempo. Nilton
Batata, por exemplo, foi para o futebol mexicano, enquanto Juary
defendeu alguns clubes europeus,
como a Internazionale de Milão,
da Itália, e o Porto, de Portugal.
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