São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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China aposta em testes e juventude para ser a melhor

País, que busca em Pequim pela 1ª vez vencer a Olimpíada, intensifica controles e forja nova geração longe das drogas

Para agência antidoping, Jogos são chance de país mudar imagem arranhada por causa dos resultados suspeitos na década de 90

DA REPORTAGEM LOCAL

A China planeja lutar contra o doping em duas frentes. Por um lado, aceitando a intensificação dos controles nos Jogos de Pequim. Por outro, apostando em uma nova geração, criada longe de métodos obscuros de preparação, responsáveis por polêmicas no passado.
Para Dick Pound, presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), após tantos escândalos de doping respingarem no país, poucos acreditarão no aparecimento de novas máquinas de performance esportiva.
O dirigente defende que, com o arsenal disponível pela ciência, não será possível forjar outra geração de fraudadores.
"Creio que os chineses entenderam que a Olimpíada será a grande chance de mostrar uma nova imagem ao mundo. Não será bem recebido se, de uma hora para outra, surgirem atletas sobre-humanos."
Pound acredita que a descoberta de doping na Escola de Atletismo de Anshan, responsável por revelar destaques das pistas na década de 90, ligou o sinal de alerta nas autoridades.
"É muito embaraçoso encontrar isso em um de seus principais centros de formação. Muitos atletas não tinham sequer consciência ao que estavam sendo submetidos", diz ele.
Para o mandatário da Wada, essa fraude é comparável ao caso Balco, laboratório dos EUA fornecedor de drogas a atletas e criador do THG, esteróide anabólico desenvolvido especialmente para burlar exames.
Receoso, Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional, confessou ser incapaz de prever qual será o legado de Pequim-08. Mas espera que o evento mostre que houve transformações locais.
"Os Jogos mudam os países nos quais ocorrem. Não tenho idéia ainda do que irá acontecer lá. É impossível saber. Espero que haja influências positivas."
Além de vencer pela primeira vez a Olimpíada -ficou em segundo lugar no quadro de medalhas em Atenas-04-, a China quer mostrar capacidade de promover uma disputa limpa.
Por isso, aprovou a decisão da Wada de intensificar o número de testes em Pequim.
Haverá aumento de 25% nos controles em relação a Atenas, Olimpíada que teve recorde de 25 atletas flagrados e cinco medalhas cassadas. Estima-se que serão feitas 4.000 análises de sangue e urina. É aumento significativo, já que em Sydney, há seis anos, houve 2.000 testes.
Como ocorreu nos Jogos na Grécia, as amostras serão coletadas a partir da abertura da Vila Olímpica, dias antes do início dos Jogos, até a conclusão das provas. Também haverá mais coletas fora de competição.
A outra aposta chinesa para promover sua "faxina" esportiva é na renovação da equipe. A delegação que compete nos Jogos Asiáticos, em Doha, no Qatar, possui média de 23,3 anos.
Segundo o Comitê Olímpico Chinês, dos 647 atletas, 64% disputam seu primeiro evento internacional importante.
"Queremos revelar talentos e fazer com que eles sejam rapidamente absorvidos por nossas equipes principais. Esses atletas precisam sentir como é uma competição desse nível para estarem prontos para ter um ótimo desempenho nos Jogos de Pequim", declara Feng Janzhong, vice-presidente do comitê.0 (ADALBERTO LEISTER FILHO)


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