São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2002

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FUTEBOL

A voz do leitor

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

No final da coluna que publiquei na última quarta-feira, substituindo o insubstituível Tostão, pedi a opinião dos leitores sobre o controvertido tema da qualidade do jogador brasileiro no futebol atual.
Pensei que talvez fosse um assunto batido, mas me enganei. Recebi dezenas de mensagens, expressando as mais diversas opiniões. Seria impossível resumir todas elas, e mais ainda tentar chegar a uma conclusão.
Mas há consenso a respeito de pontos específicos, sobretudo se deixarmos de lado os raros casos de torcedores locais que ainda consideram o jogador brasileiro acima de qualquer comparação com os demais.
De modo geral, os problemas detectados são os seguintes:
1) os jogadores profissionais brasileiros, em sua maioria, têm uma grande resistência em enfrentar suas eventuais deficiências técnicas. Com raríssimas exceções, existe muito pouco empenho no aperfeiçoamento técnico individual;
2) outro ponto falho dos futebolistas brasileiros é sua falta de consciência tática. Em decorrência, posicionam-se mal, movimentam-se pouco e não dão a atenção devida à movimentação dos companheiros e adversários em campo.
3) faltam-nos hoje meio-campistas capazes de organizar o jogo e ditar seu ritmo. Mesmo os mais talentosos, como Alex, Djalminha e Rivaldo, pecam pela falta de mobilidade e de iniciativa.
4) valoriza-se demais, no Brasil, o atacante, em detrimento dos zagueiros. Com isso, formamos poucos zagueiros realmente bons, que saibam se colocar, tenham domínio técnico, bom passe e habilidade para sair jogando.
As causas apontadas para esses problemas são inúmeras e, na verdade, complementares. Vão desde a irresponsabilidade de setores da mídia, que contribuem para adular nossos atletas profissionais, estimulando sua indolência, até a violência impune, que inibe a formação de jogadores ousados e criativos, sobretudo no meio-de-campo.
Mas a principal causa das deficiências do futebolista brasileiro, a julgar pela opinião dos leitores (com a qual concordo), é a formação falha que ele recebe nas chamadas categorias de base e nos primeiros anos de sua atividade profissional.
Ainda são raros, no Brasil, os profissionais qualificados para trabalhar na formação e treinamento de jovens atletas. Normalmente essas categorias são entregues a funcionários desmotivados e sem formação adequada.
O mau exemplo vem, como sempre, de cima. Recentemente, as categorias de base da seleção brasileira foram colocadas nas mãos do filho do coordenador Antonio Lopes, por puro nepotismo. Ou seja, não se dá ao assunto a importância devida.
Mas o próprio atleta profissional ainda pode e deve se aperfeiçoar. O engenheiro Ernesto Watanabe, meu amigo de longa data, lembra que o grande Falcão, ainda nos tempos de Internacional, agradeceu publicamente a Rubens Minelli por tê-lo feito treinar especificamente cabeceios e a jogar com a perna esquerda. Acho que valeu a pena.
Outra coisa importante que foi lembrada por vários leitores: o atleta brasileiro não é estimulado a raciocinar taticamente, a "pensar o jogo".
Aliás, é estimulado a não pensar em nada -e isso é o mais grave de tudo.

Namoro antigo 1
Parece que Marcelinho está negociando com a diretoria uma possível volta ao Parque São Jorge. Por que não? Seu inimigo Luxemburgo já está no parque rival. Ricardinho, outro desafeto, deve ser vendido ou emprestado. Resta acertar o dinheiro e saber o que Parreira pensa. A torcida, tenho certeza, receberia o atleta de braços abertos. Passadas as rusgas, ficou apenas a lembrança das alegrias. Como nos velhos namoros.

Namoro antigo 2
No Parque Antarctica, quem parece prestes a voltar é o meia Alex, se o Parma deixar. É outro que deve ser bem recebido pela torcida palmeirense, cansada de ver o time jogar uma bola quadrada, principalmente depois da saída de Pedrinho (por contusão). Para o jogador, seria a chance, talvez a última, de mostrar que ainda pode ajudar o Brasil na Copa.

E-mail: jgcouto@uol.com.br



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