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Meia-entrada invade o Paulista
Um em cada dois torcedores assiste a jogos
no estádio sem pagar o preço total do ingresso
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Paulista dos ingressos a R$ 20
-que fez as uniformizadas protestarem, atletas e técnicos brigarem com suas diretorias e a Federação Paulista bater o pé e, depois,
voltar atrás-, não existiu na prática para metade dos torcedores.
A Folha analisou as planilhas de
receitas e despesas de todas as
partidas do Paulista até aqui.
Metade dos quase 300 mil ingressos vendidos até agora custou, no máximo, R$ 10.
Do total, 44% dos bilhetes foram comprados, teoricamente,
com a apresentação de documentos que dão ao torcedor o direito
de pagar só metade do preço.
A farra da meia-entrada é ainda
maior nas partidas que não contam com os clubes grandes. Em
nada menos do que 19 jogos de
equipes pequenas, 70% das entradas vendidas foram destinadas a
portadores de carteiras de estudantes e idosos -os borderôs
não especificam a divisão entre
esses dois grupos.
Pelo regulamento do Paulista-04, seis grupos podem pagar 50%
do valor das entradas. Além de estudantes e pessoas com mais de
65 anos, professores da rede pública, deficientes físicos, aposentados e menores são beneficiados.
Em alguns casos, parece que só
pessoas com essas credenciais
prestigiam o campeonato.
Foi o que aconteceu, por exemplo, no confronto entre União São
João e Mogi Mirim. Na ocasião,
todos os 311 ingressos comercializados foram meias-entradas.
"Não sei o que aconteceu nesse
jogo especificamente, mas no
Paulista só adultos pagam R$ 20",
diz Pedro Morgado, diretor de
marketing do clube de Araras,
apontando o regulamento como
motivo por tantas meias.
O Juventus é outro clube que
manda jogos em que inteira é raridade. Contra o Sorocaba, na
Rua Javari, foram vendidos 541
ingressos. Desses, nada menos
que 537 saíram pela metade do
preço. "Aqui perto tem muita
gente velha e estudante", afirma
Armando Raucci, presidente do
Juventus, sobre o perfil do público
que prestigia seu time.
O presidente da Federação Paulista, Marco Polo Del Nero, disse
que a febre da meia-entrada é a
prova de que os mais jovens estão
voltando aos estádios. "Fico contente, porque uma das metas do
torcedor-família é essa mesmo."
Mas, quando questionado pela
Folha sobre casos como o do
União São João, Del Nero mudou
de posição. Disse que, apesar da
presença de fiscais da FPF, poderia estar havendo falha no controle dos ingressos. "Vamos apurar o
que está acontecendo. É estranho
que todos os ingressos de um jogo
sejam de meia-entrada."
O preço do ingresso foi o ponto
mais polêmico do Paulista até
aqui e gerou negociação inédita
entre a FPF e as organizadas, que
boicotaram boa parte do Estadual. No auge da crise, a entidade
chegou até a oferecer ingressos a
R$ 10 às torcidas uniformizadas
em troca de um cadastramento.
Só a Mancha Alviverde topou.
O controle sobre as meias-entradas, na verdade, está relaxado.
No Morumbi, um torcedor do
São Paulo na casa dos 30 anos assistiu ao confronto contra a Ponte
Preta com um ingresso de aposentado comprado pela mãe.
O encalhe nas bilheterias é outro motivo que ajuda na proliferação da meia-entrada. Os clubes,
que costumavam pedir baixa carga desse tipo de ingresso quando
a arquibancada valia R$ 10, hoje
estimula a ida de estudantes.
Isso acontece com times de todos os níveis e tradição.
No Brasileiro de 2003, o Guarani emitia, em média, 50% da carga
total de ingressos para a meia-entrada. Agora, no Paulista, o clube
de Campinas chega a colocar 86%
dos bilhetes para serem vendidos
por 50% do valor integral.
Em média, os jogos envolvendo
times grandes no Nacional tinha
não mais do que 25% dos torcedores com direito a meia-entrada.
Nos clássicos do Morumbi
acontece coisa parecida. No último Brasileiro, no jogo Corinthians x São Paulo, foram emitidos 28 mil bilhetes para a arquibancada, sendo que apenas 4.000,
ou 14% da carga do setor, eram
destinados para estudantes, aposentados e idosos, entre outros.
Em outros Estados não existe
uma disponibilidade tão grande
de ingressos pela metade do preço. Na final da Taça Guanabara,
entre Flamengo e Vasco, apenas
500 entradas, de um total de 76
mil, eram para estudantes.
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