|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TÊNIS
Aaaargh!
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Não tem jeito: eles detestam
mesmo!
Na quadra central em Roma,
Roger Federer começou jogando
como se estivesse na grama de
Londres: um saque forte, uma bola funda no canto da quadra, a
subida à rede, o voleio certeiro, o
ponto, os aplausos. Continuou jogando um set inteiro como se disputasse uma partida tranqüila
em uma quadra indoor em Roterdã: o saque matador, a insistência em definir os pontos rapidamente, baseando-se apenas em
seu talento e em sua força.
Só que, agora, o piso é o saibro, e
o rival, o insistente espanhol Albert Costa. E assim, depois de
"cair na real" e ser obrigado a trocar bolas exaustivamente, Federer literalmente entregou os pontos. Frustrou seus fãs e ainda foi
embora com a fama de que nem
se deu ao trabalho de lutar para
evitar uma derrota de virada.
"Não é surpresa para ninguém
que esse não é o meu piso predileto", deixou claro o suíço antes de
arrumar as malas e vazar.
Andy Roddick usou praticamente as mesmas palavras. "Não
escondo de ninguém que eu não
me sinto confortável para jogar
nesse tipo de piso", diz, com a cara amarrada debaixo de um boné
que usa para tentar se esconder. É
óbvio: um pouco antes, diante do
argentino Guillermo Cañas, pareceu um menino jogado de um lado para outro da quadra.
Sim, Roddick, o poderoso, o saque mais forte do mundo, o campeão, não consegue deslizar no
saibro. Escorrega, patina, tropeça,
perde o equilíbrio, cai, xinga o
saibro e a si mesmo. Enquanto
tenta, ainda se dá ao trabalho de
deslizar para alcançar a bola.
Quando perde a paciência, vê,
passivamente, o 80º do ranking
lhe dar uma aula no saibro.
E Lleyton Hewitt? Dois Grand
Slams, dois Masters, dois Masters
Series, 21 títulos, número um do
mundo por 76 semanas, talento e
garra. E tudo isso vai abaixo
quando se trata de paciência para
jogar horas e horas uma partida
no saibro, acumular terra na sola
do pé e pensar na definição de um
ponto após 36 trocas de bola.
Parece discurso ensaiado: "Não
é segredo que esse tipo de piso não
é onde consigo meus melhores resultados e nem o que eu mais gosto de jogar", falou, depois de tanto penar para ganhar do número
216 do mundo.
Marat Safin? Tim Henman?
Rainer Schuettler? Mark Philippoussis?
Enquanto esses grandes penam
para conseguir adaptar seu tênis
e o tênis ao saibro e administrar a
paciência e a cabeça por horas e
horas, são os Marianos Zabaletas,
os Nicolas Massús, os Albert Costas, os Tommy Robredos, os Alberto Montañes, os Fernando
Verdascos e até os Luis Hornas
que ganham espaço, confiança,
fama e jogos (e títulos) nesta temporada de terra batida.
Se finalmente adaptados e pacientemente preparados para sofrer, Federer, Roddick, Hewitt, Safin & cia. vão longe em Roland
Garros. Mas se continuarem a
mostrar a mesma impaciência
nesse piso sujo, a mesma atitude
perdedora, então terão de ver do
outro lado alguém erguer os braços, festejar e, ainda por cima, falar "muchas gracias, amigo".
Queda
O americano James Blake treinava em Roma quando tropeçou, caiu
e bateu com a cabeça no poste que sustenta a rede. Foi para um hospital e, liberado, voltou aos EUA. Está bem, mas é mais uma dúvida
para Roland Garros, que começa no final deste mês.
Por aí
Julio Silva, bravo tenista, ganhou título de um torneio da série future
na Colômbia. Marcelo Melo foi vice em outro future, no México. E
Francisco Costa alcançou a semifinal em outro future, na Alemanha.
Sobre rodas
Maurício Pommê, nosso melhor tenista em cadeira de rodas, ganhou
vaga para a Paraolimpíada de Atenas-04.
E-mail randaku@uol.com.br
Texto Anterior: Tênis: Assembléia da CBT tem mais um adiamento Próximo Texto: Futebol - Flavio Prado: O tal do BID Índice
|