São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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TÊNIS

Aaaargh!

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Não tem jeito: eles detestam mesmo!
Na quadra central em Roma, Roger Federer começou jogando como se estivesse na grama de Londres: um saque forte, uma bola funda no canto da quadra, a subida à rede, o voleio certeiro, o ponto, os aplausos. Continuou jogando um set inteiro como se disputasse uma partida tranqüila em uma quadra indoor em Roterdã: o saque matador, a insistência em definir os pontos rapidamente, baseando-se apenas em seu talento e em sua força.
Só que, agora, o piso é o saibro, e o rival, o insistente espanhol Albert Costa. E assim, depois de "cair na real" e ser obrigado a trocar bolas exaustivamente, Federer literalmente entregou os pontos. Frustrou seus fãs e ainda foi embora com a fama de que nem se deu ao trabalho de lutar para evitar uma derrota de virada.
"Não é surpresa para ninguém que esse não é o meu piso predileto", deixou claro o suíço antes de arrumar as malas e vazar.
Andy Roddick usou praticamente as mesmas palavras. "Não escondo de ninguém que eu não me sinto confortável para jogar nesse tipo de piso", diz, com a cara amarrada debaixo de um boné que usa para tentar se esconder. É óbvio: um pouco antes, diante do argentino Guillermo Cañas, pareceu um menino jogado de um lado para outro da quadra.
Sim, Roddick, o poderoso, o saque mais forte do mundo, o campeão, não consegue deslizar no saibro. Escorrega, patina, tropeça, perde o equilíbrio, cai, xinga o saibro e a si mesmo. Enquanto tenta, ainda se dá ao trabalho de deslizar para alcançar a bola. Quando perde a paciência, vê, passivamente, o 80º do ranking lhe dar uma aula no saibro.
E Lleyton Hewitt? Dois Grand Slams, dois Masters, dois Masters Series, 21 títulos, número um do mundo por 76 semanas, talento e garra. E tudo isso vai abaixo quando se trata de paciência para jogar horas e horas uma partida no saibro, acumular terra na sola do pé e pensar na definição de um ponto após 36 trocas de bola.
Parece discurso ensaiado: "Não é segredo que esse tipo de piso não é onde consigo meus melhores resultados e nem o que eu mais gosto de jogar", falou, depois de tanto penar para ganhar do número 216 do mundo.
Marat Safin? Tim Henman? Rainer Schuettler? Mark Philippoussis?
Enquanto esses grandes penam para conseguir adaptar seu tênis e o tênis ao saibro e administrar a paciência e a cabeça por horas e horas, são os Marianos Zabaletas, os Nicolas Massús, os Albert Costas, os Tommy Robredos, os Alberto Montañes, os Fernando Verdascos e até os Luis Hornas que ganham espaço, confiança, fama e jogos (e títulos) nesta temporada de terra batida.
Se finalmente adaptados e pacientemente preparados para sofrer, Federer, Roddick, Hewitt, Safin & cia. vão longe em Roland Garros. Mas se continuarem a mostrar a mesma impaciência nesse piso sujo, a mesma atitude perdedora, então terão de ver do outro lado alguém erguer os braços, festejar e, ainda por cima, falar "muchas gracias, amigo".

Queda
O americano James Blake treinava em Roma quando tropeçou, caiu e bateu com a cabeça no poste que sustenta a rede. Foi para um hospital e, liberado, voltou aos EUA. Está bem, mas é mais uma dúvida para Roland Garros, que começa no final deste mês.

Por aí
Julio Silva, bravo tenista, ganhou título de um torneio da série future na Colômbia. Marcelo Melo foi vice em outro future, no México. E Francisco Costa alcançou a semifinal em outro future, na Alemanha.

Sobre rodas
Maurício Pommê, nosso melhor tenista em cadeira de rodas, ganhou vaga para a Paraolimpíada de Atenas-04.

E-mail randaku@uol.com.br


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