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FUTEBOL
Atacante do Vitória evita fazer críticas à seleção brasileira e diz ter certeza que jogará a Copa do Mundo de 98
'O que está faltando sou eu', diz Bebeto
Rogério Soares/Folha Imagem
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O jogador Bebeto, atacante do Vitória da Bahia
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FÁBIO VICTOR
da Reportagem Local
José Roberto Gama de Oliveira, o
Bebeto, 33, o terceiro maior artilheiro da história da seleção brasileira, com 50 gols, parece estar
tranquilo e em paz em Salvador,
sua terra natal, onde vem sendo
tratado com reverência digna de
um orixá pela torcida do Vitória,
seu clube desde janeiro último.
Mas sua cabeça está mesmo em
Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia,
cidade onde o Brasil começa amanhã a disputar a Copa América.
O atacante foi convocado pela
última vez para a seleção na Olimpíada de Atlanta, no ano passado,
e foi o artilheiro do time na competição, com seis gols.
Chateado por estar sendo preterido por Zagallo, credita à imprensa parte da culpa pela situação.
Ídolo e craque maior do Vitória,
Bebeto se diz feliz como está, mas
parece já ter saldado a dívida sentimental de voltar um dia ao clube
em que começou (saiu do juniores
do Vitória, aos 17 anos, para o Flamengo) e fala com ânimo em voltar a jogar no Sul do país.
De seu apartamento de cinco suítes, no bairro de Corredor da Vitória, de onde avista a ilha de Itaparica e, para ir à praia particular do
condomínio basta que tome um
teleférico, Bebeto falou à Folha.
Folha - A seleção brasileira disputou o Torneio da França e vai
disputar a Copa América com vários jogadores do time tetracampeão. Você é um dos poucos daquele grupo que ficou de fora. Como se sente?
José Roberto Gama de Oliveira -
A gente fica triste. Com certeza, eu
gostaria de estar lá, mas tem muita
coisa para rolar até a Copa de 98.
Folha - Você acredita que pode
ser convocado até o Mundial?
Bebeto - Acredito. Eu sou um
cara que quando boto um objetivo
na cabeça vou atrás dele e consigo.
E o meu objetivo agora é voltar à
seleção brasileira. Zagallo não é
bobo, ele vai ver que eu tenho condições de voltar.
Folha - Em que medida o fato de
você estar jogando em um clube
fora do eixo Rio-São Paulo contribuiu para a sua exclusão?
Bebeto - Não acredito que atrapalhou muito, pelo menos no meu
caso. O Zagallo já sabe do que eu
sou capaz, conhece o meu potencial. Para outros jogadores daqui
da região, é realmente difícil.
Folha - E por que, então, o Zagallo não lhe convocou?
Bebeto - É a pergunta que a
gente se faz. Só o tempo dirá, mas
vamos dar tempo ao tempo.
Folha - Pouco depois da Copa de
1994, você continuou sendo convocado, e Romário, não. De repente, você deixa de ser chamado, e
ele volta como titular absoluto. Será que o "lobby" dele é mais forte
do que o seu?
Bebeto - Não gosto nem de falar sobre isso, mas está na cara. Eu
nunca tive apoio da imprensa. Não
sei por que isso acontece, mas
acontece. Talvez seja porque eles
não gostam de caras que vivem para a família, que são exemplo para
os jovens. Esses não dão notícia.
Folha - Você acha que a mídia
abre muito espaço para os jogadores-problemas?
Bebeto - Acho, mas cada um
vive da maneira que está mais feliz.
Graças a Deus, minha mãe me deu
uma educação exemplar. Sou um
ídolo, tenho consciência disso, e
tenho que dar exemplo. Foi uma
das coisas que aprendi com o Zico.
Folha - Caso estivesse na seleção,
preferiria jogar ao lado de Romário ou de Ronaldinho?
Bebeto - Foram dois jogadores
com quem me entendi perfeitamente. Pela minha característica
de movimentação, tanto faz.
Folha - O que você achou das últimas exibições da seleção?
Bebeto - Só vi o primeiro tempo do jogo contra a França. É difícil para quem está de fora falar.
Folha - Mas, pelo que viu, o que
acha que está faltando ao time?
Bebeto - Se for para falar o que
está faltando, vou dizer que está
faltando eu (risos).
Folha - E a experiência de jogar
no Vitória, depois de tantos anos
longe da Bahia...
Bebeto - Estou vivendo isso
com muita alegria. Vim porque o
Vitória tem uma ótima estrutura.
Até me surpreendi, porque quando saí daqui o clube não tinha nem
camisa para treino. Está tudo bem,
o problema é que o campeonato é
violento, e os gramados, ruins.
Folha - Como tem sido a sua rotina em Salvador, quando não está
jogando ou treinando?
Bebeto - Estou revendo grandes amigos sólidos, gente que me
viu pequeno e acreditou em mim.
Gosto muito de ir à casa de amigos
para jogar botão.
Folha - O Vitória está próximo de
conquistar o primeiro tricampeonato da sua história. Qual a sua
contribuição para a boa campanha
do time no Baiano-97?
Bebeto - Minha participação é
fundamental. Você vê a garotada
vibrando comigo. Eles falam: "É
um orgulho estar aqui ao seu lado". Eles têm respeito por mim, e
eu procuro passar tudo o que
aprendi no futebol.
Folha - Quais as chances do Vitória no Campeonato Brasileiro?
Bebeto - Acho que temos muitas chances. Tecnicamente, o time
é muito bom, nossos jogadores
poderiam estar em qualquer time
do país. Vamos disputar o título.
Folha - Seu passe pertence ao
banco Excel, patrocinador do Vitória e do Corinthians. Qual a possibilidade de você se transferir para
o clube paulista?
Bebeto - De concreto não tem
nada, mas tudo é possível, eu sou
jogador do banco.
Estou feliz aqui, mas quem não
gostaria de jogar no Corinthians,
com aquela torcida maravilhosa. É
difícil falar, porque o pessoal aqui
tem muito carinho por mim. Eu
não posso magoar essas pessoas.
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