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Jogo vira antiexemplo para Copa
DO ENVIADO A ABUJA
Se a Nigéria queria, com o amistoso de ontem contra o Brasil,
mostrar que pode abrigar a Copa
de 2010, o tiro saiu pela culatra.
Um estádio moderno, localizado em um complexo esportivo
que vai custar quase US$ 1 bilhão,
não foi capaz de esconder a falta
de estrutura e o caos social do
país, o mais populoso da África
(115 milhões de habitantes).
Cenas dantescas aconteceram
ao redor da arena, que no começo
do jogo não tinha nem um terço
de seus lugares ocupados.
Quase dez mil pessoas sem ingressos (custavam pouco mais de
US$ 12) faziam de tudo para tentar invadir o estádio. Valia subir
no teto de ônibus com turistas,
apontar armas para táxis ou enfrentar "na raça" a polícia.
E, diferentemente do que ocorre
na maioria dos lugares, o "batalhão de choque" não descarta armas de fogo. Para afugentar a torcida, homens com metralhadoras
provocavam grandes correrias
nas ruas, lotadas de camelôs.
Para aumentar o drama do povo, lá estava a elite. Ao escoltar,
em alguns casos, apenas um carro
com autoridades, batedores espremiam em uma estreita via de
acesso ao estádio milhares de pessoas. Quem ousava reclamar era
espancado pelos policiais.
Dentro do estádio a situação
não era diferente. Enquanto os
torcedores vips bebiam champanhe, voluntários davam tapas nos
"bicões" que haviam burlado a
segurança e tentavam arrumar
um lugar nas arquibancadas.
Tudo isso ainda com muitas
trapalhadas dos organizadores.
Na hora do hino brasileiro, que
foi cantado, o serviço de som falhou seguidamente. O jogo atrasou mais de dez minutos. Quando
o placar anunciou a escalação das
equipes, Ricardinho teve seu nome grafado como Dika Júnior.
Após o intervalo, os torcedores
do lado de fora foram premiados
pela insistência. Com milhares de
lugares vazios, a polícia permitiu
a entrada dos sem-ingresso.
No final do jogo, com a derrota
do time da casa, parte da torcida
se revoltou e jogou no campo cadernos educativos sobre a Aids
-a Nigéria tem 3 milhões de
adultos infectados com esse vírus.
Quando saía do estádio, a reportagem da Folha foi cercada
por torcedores que pediam dinheiro de forma agressiva. Ao
tentar se desvencilhar do grupo, o
repórter foi perseguido até conseguir carona num carro de brasileiros que deixavam o local.
(PC)
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