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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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Jogo vira antiexemplo para Copa

DO ENVIADO A ABUJA

Se a Nigéria queria, com o amistoso de ontem contra o Brasil, mostrar que pode abrigar a Copa de 2010, o tiro saiu pela culatra.
Um estádio moderno, localizado em um complexo esportivo que vai custar quase US$ 1 bilhão, não foi capaz de esconder a falta de estrutura e o caos social do país, o mais populoso da África (115 milhões de habitantes).
Cenas dantescas aconteceram ao redor da arena, que no começo do jogo não tinha nem um terço de seus lugares ocupados.
Quase dez mil pessoas sem ingressos (custavam pouco mais de US$ 12) faziam de tudo para tentar invadir o estádio. Valia subir no teto de ônibus com turistas, apontar armas para táxis ou enfrentar "na raça" a polícia.
E, diferentemente do que ocorre na maioria dos lugares, o "batalhão de choque" não descarta armas de fogo. Para afugentar a torcida, homens com metralhadoras provocavam grandes correrias nas ruas, lotadas de camelôs.
Para aumentar o drama do povo, lá estava a elite. Ao escoltar, em alguns casos, apenas um carro com autoridades, batedores espremiam em uma estreita via de acesso ao estádio milhares de pessoas. Quem ousava reclamar era espancado pelos policiais.
Dentro do estádio a situação não era diferente. Enquanto os torcedores vips bebiam champanhe, voluntários davam tapas nos "bicões" que haviam burlado a segurança e tentavam arrumar um lugar nas arquibancadas.
Tudo isso ainda com muitas trapalhadas dos organizadores. Na hora do hino brasileiro, que foi cantado, o serviço de som falhou seguidamente. O jogo atrasou mais de dez minutos. Quando o placar anunciou a escalação das equipes, Ricardinho teve seu nome grafado como Dika Júnior.
Após o intervalo, os torcedores do lado de fora foram premiados pela insistência. Com milhares de lugares vazios, a polícia permitiu a entrada dos sem-ingresso.
No final do jogo, com a derrota do time da casa, parte da torcida se revoltou e jogou no campo cadernos educativos sobre a Aids -a Nigéria tem 3 milhões de adultos infectados com esse vírus.
Quando saía do estádio, a reportagem da Folha foi cercada por torcedores que pediam dinheiro de forma agressiva. Ao tentar se desvencilhar do grupo, o repórter foi perseguido até conseguir carona num carro de brasileiros que deixavam o local. (PC)


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