São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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JUCA KFOURI

Ruptura ou continuísmo


Se crise é oportunidade, o Corinthians está diante de ótima ocasião para marchar rumo à modernidade


APARENTEMENTE estamos diante do fim de um ciclo. Desaparecem da cena futebolística figuras como Mustafá Contursi e Alberto Dualib.
O que deveria ser comemorado, no entanto, precisa ser relativizado. Estamos mesmo diante do fim de um ciclo ou só da substituição do velho pelo novo velho?
O caso corintiano é exemplar.
O que se afigura para substituir o carcomido cartola?
Quase que só mais do mesmo, apenas mais jovem.
Uma eleição agora no clube obrigará a acordos que levarão à manutenção do estado de coisas e, se duvidar, até a volta da parceria suja com a MSI, mesmo que sob roupagem diferente.
Urge que a mudança seja para valer e será imprescindível, como primeiro passo, um novo estatuto para orientar a vida corintiana.
Não com mudanças cosméticas, mesmo que importantes, como o fim da reeleição sem limites ou a criação do sócio-torcedor; necessárias, mas insuficientes.
Clubes do porte do Corinthians precisam de uma Constituinte, que, se não significa panacéia (como aprendemos no processo de redemocratização do país), permita, ao menos, que o futebol passe a viver no século 21.
Separar o futebol da parte social é medida obrigatória.
Acabar com este monstrengo chamado Conselho Deliberativo com 400 membros é outra, porque não há nada menos contemporâneo do que os tais conselheiros vitalícios, aberração que abriga meliantes até que morram, seja quem for.
Certamente para gerir o futebol, com a dimensão que o negócio assumiu, esse modelo não serve.
O conselho deve ser o mais enxuto possível e formado por pessoas que, de fato, tenham responsabilidade na gestão. Como nas empresas, com direito a destituir sem mais quem não cumprir o que ficou estabelecido.
A democratização do voto entre os associados e torcedores também se impõe, única maneira de garantir o fim do modelo coronelista.
Poucas instituições nacionais têm o potencial para renascer das cinzas como o Corinthians, dada a grandeza de sua torcida.
Se o Botafogo, muito menor, simplesmente porque tem um presidente mais voltado para o clube do que para si mesmo, está em vias de se reerguer (e, que fique claro, sem que tenha feito nenhuma revolução como é necessário), o Corinthians, como o Flamengo, tem muito mais condições para tanto.
Mas não será com eleições viciadas, acordos espúrios ou coisas do gênero, como se afigura.
Porque o Corinthians pode até ter a sorte de eleger alguém com o perfil do presidente botafoguense, mas, ainda assim, não será a solução, porque a questão não é de pessoas, é estrutural.
E ou o Corinthians dá o passo corajoso para mudar seus alicerces ou passará seu centenário sem ter o que comemorar, em 2010.
Não faz muito tempo defendeu-se aqui a refundação do Corinthians. E é disso que se trata. Sem salvadores da pátria, porque não existem. Mas com uma nova ordem que atraia o que há de melhor para o futebol, e não, como hoje, com raras exceções, o que temos de pior.

blogdojuca@uol.com.br


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